Histórias são o que não faltam na biografia do paulista José Soares Neto. É só travar cinco minutos de prosa com o ex-pracinha da Força Expedicionária Brasileira (FEB) que logo se percebe quanta emoção permeia a trajetória do ex-combatente da 2ª Guerra Mundial. Morador de Londrina há mais de 60 anos, Soares, ou "José do Lenço" como é conhecido na cidade, venceu a luta contra as tropas alemãs, sobreviveu a um tiro que devastou um dos lados de sua audição, dominou estradas paranaenses como caminhoneiro e agora, aos 93 anos, teve a oportunidade de reencontrar um filho após 43 anos de separação.
A participação de Soares no Exército Brasileiro foi importante para o desenrolar de mais este capítulo na vida de "José do Lenço". Foi ao ver uma foto do ex-pracinha paramentado com a antiga farda que o pastor Roberto Silva Soares, de São Paulo, o reconheceu. A imagem, feita pelo fotógrafo Anderson Coelho, para uma reportagem da Folha de Londrina, em 2012, foi encontrada por Roberto na internet, no final do ano passado. Era o primeiro passo para que ele pudesse chegar mais perto do pai. "Meu genro logo viu a semelhança nos traços e disse: não tenho dúvidas que ele é o seu pai", relata.
Os demais familiares de Roberto o apoiaram na busca por Soares. Com auxílio da filha Kelly, o pastor obteve o endereço do ex-pracinha e preparou as malas com a esposa, Maria, rumo a Londrina. Todo o processo levou dois meses. "Tinha dúvidas sobre como ele me receberia, mas vim preparado para tudo. Nunca deixei de procurá-lo", diz o filho, que até então desconhecia que o pai tivesse ido para a guerra.
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O reencontro aconteceu no domingo passado. Pai e filho não se viam desde o início da década de 1970. Ambos contam que a primeira esposa de Soares, a mãe de Roberto, foi embora de Londrina com o menino quando ele tinha 4 anos de idade. Em São Paulo, ela formou uma nova família. Soares chegou a se encontrar com o filho, então com 20 anos, quando viajou para regularizar o divórcio com a ex-mulher. Eles não se deram muito bem e acabaram afastados pelo tempo e a distância. "Eu o procurei no endereço que aparecia em uma das cartas dele, mas meu pai já tinha se mudado havia cinco anos", assinala Roberto.
Ver o filho em frente à casa dele perguntando sobre um senhor chamado José Soares Neto encheu o aposentado de surpresa. "Eu sabia que existia uma criança minha. Ele provou quem era, mostrou que não estava mentindo", conta Soares. A conversa entre os dois foi só aumentando. Marcaram encontros para os dias seguintes e foram colocando, aos poucos, o assunto em dia.
Casado novamente, o militar já era pai de duas filhas, sendo uma delas falecida, e avô de duas moças. Teve a família ampliada ao reencontrar Roberto: ganhou nora, mais três netos e outros seis bisnetos. "A família tem que crescer", brinca ele. Pai e filho se preparam agora para estreitar ainda mais os laços que a vida tornou a unir. "Estamos conversando sobre ele [Soares] ir a São Paulo nos visitar. Ele tem familiares na região de Santo André, então fica bem mais fácil", comenta Roberto.