Dezenas de noivos e fornecedores das regiões Norte e Noroeste do Paraná têm procurado a Polícia Civil desde segunda-feira (12) para denunciar uma agência de eventos de Maringá (Noroeste), que teria deixado de realizar casamentos e não está mais respondendo casais com festas programadas para os próximos dias e meses. A londrinense Ada Garrido está entre as pessoas que registraram BO (Boletim de Ocorrência) ao se ver numa situação que considera estelionato.
A psicóloga fechou contrato com a Filia há duas semanas, após ser pedida em casamento pelo namorado. Ela recebeu a indicação de um amigo que teve a cerimônia realizada pela empresa sem contratempos. “Na segunda-feira (5) da semana passada conseguimos dar a entrada de R$ 9 mil e demos um cheque para terminar de pagar. Foi vendido buffet, decoração, local, barman”, detalhou.
No entanto, na última sexta-feira (9) ela descobriu por meio das redes sociais que festas programadas para o fim de semana não iriam acontecer após os responsáveis pela empresa “desaparecerem”. “Entramos em contato com os números que deixaram disponíveis. Ligamos, mandamos mensagem e não responderam, até que o advogado dela falou que ela (dona) não tem dinheiro para pagar e que se quiséssemos poderíamos entrar na Justiça para conseguir alguma coisa, mas a chance era muito baixa”, relatou.
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O casamento de Ada está marcado para junho do ano que vem e agora a preocupação é em tentar reaver o dinheiro que já foi gasto para que o evento aconteça conforme ela e noivo sonharam. “Essa semana tinha que ir ver o vestido de noiva, mas nem sei mais se vou casar. Já chorei tanto que não tenho mais lágrimas. Não consigo acreditar como uma pessoa consegue fazer algo assim”, lamentou.
Fila na delegacia
Até esta quarta-feira (14) foram lavrados 131 Boletins de Ocorrência pela Polícia Civil contra a agência somente em Londrina e em Maringá, informou a corporação à reportagem. Em Maringá, até fila se formou na porta da delegacia por conta da alta demanda entre segunda (12) e terça-feira (13). “Todos relatando situação semelhante, de que teriam contratado festas de casamento com essa empresa e há cerca de uma semana essa empresa deixou de honrar contratos e celebrar as festas”, destacou o delegado Fernando Garbelini, de Maringá.
A Polícia Civil tem registros de vítimas da Cidade Canção, Londrina, Cambé, Paranavaí e Marialva, entre outras cidades. “A narrativa das pessoas era de que a empresa oferecia a festa completa, com chácara, buffet, som, decoração, por valores atrativos. As vítimas relataram que os responsáveis davam uma pressionada, insistiam bastante quando o cliente titubeava, pedia tempo para pensar. Eles davam descontos substanciais visando fechar os contratos o quanto antes”, pontuou.
Investigados
Segundo a delegado, máquinas de cartão de crédito que eram utilizadas para os pagamentos estavam em nome de terceiros e até de uma madeireira. São investigados a proprietária da empresa, o marido e uma parente do casal. “Foi locada uma casa grande em Maringá que servia como local de recepção, onde tinha prova de vestido, comida. A dona desse imóvel nos procurou informando que alugaram, pagaram só a entrada e estão há cerca de sete meses sem pagar água, luz e aluguel”, afirmou. “Ao longo dos próximos dias vamos conseguir compreender o montante de vítimas e ouvir os investigados”, projetou.
Comida estragada
O advogado Tiago Okazaki representa 16 pessoas de Londrina, entre casais e fornecedores, que acreditam terem sido vítimas de um golpe. Todos fecharam acordo com a empresa maringaense entre 2023 e 2024. “As noivas relatam que mesmo após a mídia divulgar (os casos) a empresa informava nos grupos de Whatsapp que ia ter evento e que concorrentes queriam fechar a empresa, pois, tinham ciúmes. Em outros casos jogou a responsabilidade aos prestadores de serviços por não irem trabalhar, no entanto, não foram pelo fato de não receberem pagamento. Alguns prestaram serviço em solidariedade aos noivos”, salientou. “A empresa de Maringá não possuía contrato com espaços (supostamente alugados) ou autorização para constar o local no contrato com os noivos”, completou.
Também têm surgido reclamações de festas promovidas pela Filia, mas sem qualidade ou aquém do esperado. “Relatos de fornecimento de comida estragada, falta de pagamento dos prestadores de serviços, falta na entrega de álbuns e fotos com eventos realizados em 2022 e início de 2023. Tem um relato de uma noiva que já fez o casamento em que pegou no flagrante uma pessoa furtando o dinheiro da caixinha da noiva. Algumas noivas conheciam outras que tiveram casamento ocorrido em junho e julho 2024 e tiveram que tirar do próprio bolso valores extras para pagar alguns prestadores de serviços”, elencou.
“Acreditamos que a polícia, tanto de Londrina, quanto de Maringá, está fazendo o trabalho de investigação para verificar eventual prática delitiva, enganando as pessoas para vantagem financeira. Com a colaboração da Justiça espero que consigam buscar e bloquear bens e valores, seja em nome das empresas, sócios, terceiros, envolvidos e ‘laranjas’ para que os noivos e prestadores de serviços, sem mencionar, eventuais trabalhadores, consigam amenizar a situação”, frisou Okazaki.
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