Londrina

Em ato, alunos e docentes da UEL cobram políticas institucionais contra assédio e violência

13 set 2023 às 15:17
Estudantes e docentes da UEL (Universidade Estadual de Londrina) protagonizaram, na manhã desta quarta-feira (13), um ato contra o feminicídio e em memória de Julia Beatriz Garbossi Silva e Daniel Takashi Suzuki Sugahara, ambos com 23 anos, que foram assassinados por golpes de faca no dia 3 de setembro deste ano, no Jardim Jamaica (Zona Oeste de Londrina). A mobilização prestou solidariedade, também, à jovem - que é estudante de Artes Cênicas na UEL - que sobreviveu ao ataque após ser gravemente ferida.


A ação foi organizada por alunos e professores do CECA (Centro de Educação, Comunicação e Artes) e do CLCH (Centro de Letras e Ciências Humanas) , além de membros da Juntes - a Comissão de Prevenção à Violência de Gênero do CECA -, da Comissão de Prevenção à Violência Sexual, de Gênero e Étnico-racial do CLCH e do SEBEC (Serviço de Bem-estar à Comunidade).


A partir das 9h, os participantes passaram a se reunir na praça do CECA para confeccionar cartazes e se posicionar, por meio de um microfone, não somente a respeito dos crimes cometidos contra os jovens, mas também contra casos de assédio e violência direcionado a mulheres, transexuais, negros e outros públicos socialmente vulneráveis.


À tarde e à noite, a partir das 17h30, os manifestantes voltam a se reunir em frente ao RU. Na sequência, a partir das 18h30 caminham em direção ao gramado do CLCH, onde estão previstas falas de integrantes do movimento estudantil e dos membros das comissões organizadoras do ato.



POLÍTICAS INSTITUCIONAIS


Franciele Rodrigues, que é doutoranda em Sociologia na UEL e integrante da Juntes, ressalta que o ato tem, também, o objetivo de requerer políticas institucionais voltadas aos estudantes vítimas de assédio e violência. 


"Por mais que esse crime não tenha ocorrido dentro da Universidade, aconteceu com duas estudantes daqui. Para além disso, sabemos que a Universidade não é uma ilha, então está imersa nessa cultura do assédio. As vítimas precisam desse acolhimento dentro e fora da Universidade caso aconteça alguma coisa", defende.


A doutoranda aponta que, um dia após o feminicídio de Garbossi, o assassinato de Sugahara e o feminicídio tentado da sobrevivente, a UEL declarou luto oficial. Mesmo assim, a paralisação das atividades e a atenção direcionada ao fato foi parcial. 


"Parece que as coisas transcorreram normalmente, como se nada tivesse acontecido, inclusive no CECA. A impressão que dá é que as coisas só paralisam quando há um corpo estendido no chão. É por isso que essas ações de combate são tão importantes."



COMISSÕES E DEMANDAS


As comissões de combate à violência do CLCH e do CECA, apesar de auxiliarem e acompanharem as vítimas de assédio, têm seu trabalho limitado. De acordo com Rodrigues, os grupos contam com poucos participantes e, devido à falta de uma política institucional, não dispõem de meios instrumentais.


"Existem instâncias dentro da Universidade que auxiliam as vítimas, como a Ouvidoria. Mesmo assim, as coisas ficam muito soltas e não temos respaldo. Muitas vezes, as vítimas têm medo de denunciar. Quando temos uma política, mesmo que ela não vá resolver todos os problemas do mundo, temos o respaldo necessário", defende.


A mobilização dos estudantes e dos docentes, que seguiu em cortejo até o RU (Restaurante Universitário), organizou, também, a entrega de cartas para a reitora da UEL, Marta Favaro. Ao longo de todo o ato, os presentes puderam deixar suas considerações a respeito das necessidades e das demandas dos públicos socialmente vulneráveis ao assédio e à violência.


Além disso, a Comissão de Prevenção à Violência Sexual, de Gênero e Étnico-racial do CLCH e a Juntes irão entregar à reitora da UEL um ofício que requere a criação das políticas institucionais mencionadas pelos membros. As demandas têm como base, principalmente, dados sobre assédio na Universidade, que foram coletados e organizados por um GT (Grupo de Trabalho) coordenado pela professora Martha Ramírez-Galvez.



"Nós pedimos a criação de uma política institucional que tenha um protocolo de acolhimento e acompanhamento das vítimas. Também precisamos que essa política tenha punições para os praticantes do assédio e da violência", defende Ramírez-Galvez.


A professora explica que, atualmente, as comissões têm o objetivo de acolher as vítimas, bem como aconselhar e orientá-las quanto às denúncias e acompanhar os processos. Porém, Ramírez-Galvez defende que somente essas ações não são suficientes para atuar contra o assédio e a violência.


POSIÇÃO DA REITORIA


A reitora da UEL, Marta Favaro, não pôde comparecer à manifestação devido à sua agenda institucional. Por isso, enviou a Profª. Drª. Silvia Meletti, que é pró-reitora de Pesquisa e Pós-Graduação, para representá-la.


Meletti prestou suas condolências aos familiares e amigos das vítimas, assim como à sobrevivente do ataque. Durante seu discurso, a professora afirmou concordar com as reivindicações das comissões quanto à criação de uma política institucional de enfrentamento ao assédio e à violência de gênero.



"Além de uma representação institucional, sou mulher, sou professora dessa Universidade e sou uma docente que pesquisa a violação de Direitos Humanos. Então, para mim, é muito difícil estar aqui. Por outro lado, esse é um espaço que não posso abrir mão, pois preciso expressar minha indignação frente à violência contra a mulher", aponta.


A COM (Coordenadoria de Comunicação Social), da UEL, afirmou que as cartas e os ofícios serão entregues na Reitoria da Universidade na tarde desta quarta-feira. Após a entrega, as reivindicações serão analisadas e a reitora irá se manifestar oficialmente.

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