Os profissionais do cursinho comunitário pré-vestibular PPU (Passo a Passo para a Universidade) comemoraram, nesta sexta-feira (10), a aprovação de 21 estudantes no Vestibular da UEL (Universidade Estadual de Londrina). O projeto atende alunos periféricos do município e é mantido por doações e pela Congregação dos Oblatos de São José.
Bruno Garcia, coordenador pedagógico do PPU, conta à reportagem que em 2024 40 alunos participaram das aulas, que são ministradas com a ajuda de 24 voluntários, entre professores e assistentes gerais. Os estudantes têm acesso a todas as matérias da Base Nacional Comum Curricular nas aulas que acontecem de segunda a sexta-feira, das 18h55 às 21h55.
O PPU existe desde 2020. A iniciativa foi de Garcia e outros professores, que se uniram a Ismael Giachini, diretor da entidade católica CJV (Centro Juvenil Vocacional), para retribuir à sociedade as oportunidades que tiveram ao longo de suas jornadas profissionais.
Leia mais:
Secretaria da Fazenda quer mais eficiência na gestão em Londrina
Londrina deve enfrentar temporais no fim da semana; Defesa Civil prepara ações
Obras de ampliação do Aeroporto de Londrina serão entregues na próxima semana
Volante fez apenas um treino pelo Londrina EC antes de ir a campo contra o Coritiba
"Queríamos um cursinho para as pessoas mais vulnerabilizadas, que são as de baixa renda, participantes de programas do governo, LGBTQIAPN+, negros, indígenas e mulheres trans, tudo para dar a oportunidade de uma nova vida. A princípio, não queríamos aulas on-line, já que boa parte dos alunos não tinha celular. Muitos passavam fome e fizemos movimentos de doar cestas básicas", relembra o coordenador.
Com a pandemia impedindo os encontros presenciais, o PPU funcionou de maneira on-line até 2022, quando a primeira turma presencial foi formada. Desde o princípio, a taxa de aprovação em universidades públicas e privadas - seja por meio de vestibulares ou Enem - não fica abaixo de 70%. Em 2023, por exemplo, 82% dos estudantes alcançaram a tão sonhada vaga no Ensino Superior.
Para Garcia, o sucesso do projeto é fruto não só das aulas comuns, mas da abrangência de serviços que presta com o objetivo de atrair jovens para a educação.
"Nós também damos merenda para os estudantes. O cursinho é à noite e, na chegada dos alunos, eles têm alimentação inicial e depois jantar. Nós ganhamos a alimentação e os voluntários preparam. Eles [estudantes] só têm o custo do transporte, que ainda não conseguimos com a prefeitura", diz.
Além de aulas com docentes de todas as áreas, "aulões" dinâmicos com a presença de profissionais especialistas de diversas áreas para ajudar na aquisição de repertório para as redações e a alimentação, o PPU também oferece amparo psicológico em parceria com a UEL e a PUC-PR.
"Eles nos auxiliam na nossa biblioteca autônoma e em outras partes. Há estudantes de Psicologia da PUC, orientados por um voluntário nosso, que fazem o processo de orientação vocacional. Eles vão trabalhando e orientando as escolhas de carreira, porque é uma idade muito difícil. Temos sempre dois psicólogos à disposição. É um processo bem integrado."
Aprovadas
Giovanna Wolff, 18, é uma das integrantes que conseguiu a aprovação na UEL. Ela, que cursará Ciências Biológicas, diz à reportagem que o projeto lhe chamou a atenção por ser gratuito. "Eu me interessei porque é algo solidário, gratuito, que estava dentro do meu orçamento e sabia que, se não fosse dessa forma, eu não conseguiria estudar em um cursinho pago."
Vendo o PPU como uma oportunidade de mudar de vida, ela ressalta que precisou ajustar a rotina para encaixar todos os seus afazeres em consonância com os estudos. "Levei uma vida tripla, porque estava cursando o Ensino Médio, trabalhando e estudando no cursinho ao mesmo tempo. Era uma rotina bem complicada. Eu saía muito cedo de casa, uma dedicação enorme. Foi o que me levou à aprovação", comemora.
Wolff ainda destaca a relevância do curso que, segundo ela, ensina "coisas muito além do acadêmico". "É de extrema importância, porque, com a desigualdade social e o pouco acesso à educação que a gente tem, muitas pessoas só têm acesso à educação na escola, que nem sempre as aulas são boas."
Maria Clara Moraes, agora caloura do curso de Enfermagem, também agradece a oportunidade que o PPU proporcionou. "O projeto tem grande importância para promover acessibilidade ao jovem de periferia, já que todos os cidadãos têm o direito ao acesso à educação, porém sabemos que essa oportunidade é limitada para uma parcela da população brasileira", pontua a jovem, que estudou por um ano para conquistar a vaga.
Espaço de direito
Bruno Garcia reflete que o sucesso do PPU é sinônimo de ocupação de espaços de direito das populações historicamente marginalizadas.
"O jovem periférico é excluído de todos os espaços da faculdade. Então, quando alguém abre uma oportunidade e diz 'isso é para você' é muito bonito. Todas as vezes quando você olha aquele rostinho na matrícula, os pais chegando sem saber como agradecer a gente, é muito legal. E é para além da aprovação, é uma mudança na vida. Ser voluntário ali é reconstruir valores todos os dias", salienta.
Segundo o docente, o projeto cria uma rede de novos voluntários, que também buscam retribuir a ajuda que tiveram até chegar à universidade. "Nós tivemos a sorte de alguns ex-alunos virem ajudar a gente quando estão de férias, seja com a merenda, limpar alguma coisa ou até mesmo com a louça."
Inscrições abertas
As inscrições para o cursinho comunitário pré-vestibular PPU estão abertas até as 23h59 de 17 de janeiro. Os interessados devem acessar o link e preencher as informações pedidas. O resultado será divulgado dia 20 do mesmo mês, às 16h no Instagram do projeto.
Para os aprovados, as matrículas devem ser feitas entre os dias 23 e 24 de janeiro. Os estudantes que não completarem essa etapa não serão contemplados com a vaga, abrindo oportunidade para a lista de espera. As aulas começam dia 3 de fevereiro.
Confira mais sobre o PPU no Instagram do CJV.