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Realidade das ruas

Cidade inclusiva ou excludente: o Calçadão de Londrina é acessível para quem é PcD?

Bruno Souza - Especial para o Portal Bonde
06 mar 2025 às 18:08

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João Guilherme França
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Imagine você estar passeando pelo centro de uma das maiores cidades do Paraná, ter interesse de consumir nas lojas, mas ser impedido de entrar ou ter que mobilizar diversas pessoas para ter acesso aos produtos. Este é o cotidiano de Ana Paula Tonon, de 30 anos, que é PcD (Pessoa com Deficiência) e agora busca expor situações como essa que, segundo ela, são invisibilizadas em Londrina.


Ela garante que o Calçadão, um dos maiores polos de compra e venda do município, não é acessível, seja pelo piso desregular ou pelas lojas, que têm degraus tão altos que tornam impossível uma cadeira de rodas transitar sem ajuda.

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O Portal Bonde esteve com Tonon durante um de seus passeios pelo Calçadão na quinta-feira (27) e comprovou a dificuldade que ela enfrenta todos os dias. São raros os estabelecimentos que possuem rampas de acesso. Alguns têm degraus pequenos - que não são ideais, mas possibilitam precariamente o trânsito de quem está em uma cadeira de rodas. Neste caso, o problema mais grave aparece na atitude dos lojistas, que colocam mercadorias obstruindo justamente o único local por onde uma pessoa com deficiência física poderia entrar.

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A reportagem questionou uma das lojas em que a jovem tentou visitar, mas foi informada que o posicionamento das mercadorias é estratégico, mas que poderiam ser mudadas de local para possibilitar a entrada de PcDs. Entretanto, após Tonon deixar o espaço, os objetos voltaram a ser realocados no mesmo lugar, atitude que deixou a jovem revoltada.

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"É o mínimo você estar aberto a receber toda a sociedade. Eu comparo [essas atitudes] a épocas segregacionistas, como o Apartheid, quando negros não podiam entrar em certos lugares. Então, sinto como se tivesse uma placa escrita: 'aqui não entra cadeirante'. Não tem placa, mas é isso que está dizendo. É uma segregação", desabafa Tonon.


Ela ressalta que muitas pessoas com deficiência não saem de casa por causa de situações constrangedoras e pela "falta de bom senso". Quando quer comprar roupas, por exemplo, sempre precisa de amparo e ajuda em momentos que deveriam ser simples e íntimos.

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"Eu fico bem nervosa, frustrada e constrangida, porque essa Scooter [cadeira de rodas motorizada] é pesada e uma cadeira manual com a pessoa em cima também é pesada. Não é todo mundo que consegue ajudar. Costumo falar que vira um evento, mas, se estou sozinha, tenho que contar com a ajuda das pessoas."


'Faz parte do meu corpo'

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A jovem reitera que não recusa ajuda, mas destaca que poucos sabem abordar uma pessoa com deficiência. Para ela, a cadeira de rodas faz parte do seu corpo e não deve ser tocada sem consentimento.


"As pessoas não sabem abordar. Às vezes, não estou precisando de nada e eles vêm empurrando a Scooter. Você não tem noção de como são inconvenientes. Tenho amigos cadeirantes que estão parados, mexendo no celular, e as pessoas vão empurrar. É uma extensão do nosso corpo isso aqui, você não sai tocando nas pessoas", elucida.

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Tonon salienta que a cadeira de rodas ainda é vista pela sociedade como uma prisão, mas, para quem tem deficiência física, o objeto é a própria liberdade. "Ela é vista por muitos como um fardo, uma prisão em que a pessoa está condenada àquilo. É vista com maus-olhos. Só que, se não fosse uma cadeira de rodas, aí sim a gente estaria preso. Ela é a nossa liberdade."


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A jovem destaca que até 2021 se locomovia sem precisar de cadeira de rodas, mas após quatro cirurgias no quadril a mobilidade foi prejudicada. Os procedimentos foram resultado dos esforços médicos para amenizar o impacto da Artrogripose Múltipla Congênita, uma síndrome rara que causa malformações articulares e enrijecimento das articulações. As dores fizeram Tonon abrir mão do sonho de se formar no ensino superior.


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"Não dei conta. Fisicamente ficou muito puxado para mim. Eu chegava às 8h da manhã e tinha dia que saía 9h da noite, e eu morrendo de dor. Não tem como estudar. Ficou inviável para mim, porque ou você se dedica à reabilitação ou à faculdade."


João Guilherme França

Londrina Acessível


Para mostrar a sua visão dos caminhos que percorre pelo município, a jovem criou a página no Instagram Londrina Acessível, onde mostra o seu dia a dia ao explorar espaços públicos. Ela conta que a ideia surgiu em um momento delicado de sua vida.


"Sonhei até com o nome da página. Estava em depressão por não conseguir terminar Medicina e por sentir muita dor. Como sou católica, rezei para Deus dar um rumo na minha vida, porque estava muito desesperada. E veio essa ideia", relembra, explicando que a página - hoje com 4 mil seguidores - foi criada em novembro de 2024.


A Londrina Acessível, mais que tudo, é um espaço destinado àqueles que não entendem como uma pessoa com deficiência vive, reflete Tonon. "Não veem a gente como pessoa. É isso que estou tentando mostrar com a página. Naturalizar que a gente sai, vai para barzinho, bebe, transa, faz tudo igual a todas as pessoas"


Para além disso, também serve como uma espécie de canal de denúncias com foco em reunir as demandas de todo o público PcD. "Eu recebo feedbacks em que as pessoas falam sobre. Então, só com isso, já estou muito feliz com elas abrindo os olhos."


O nome da página é quase uma sátira para a realidade que Tonon encontra nas ruas, mas também pode ser vista como um desejo de toda uma classe por uma sociedade menos excludente. "O meu sonho é que Londrina seja referência em acessibilidade, que os imóveis sejam acessíveis, que as ruas sejam acessíveis, principalmente as ruas com maior fluxo."


Tonon, além de expor os problemas na internet, age como uma líder dos cidadãos com as mesmas necessidades que ela. Neste período, levou suas ideias e questionamentos a vereadores, participou de reuniões, foi à Câmara dos Vereadores com frequência e buscou a ajuda de deputados federais. Entretanto, até o momento, nenhuma ideia foi tirada do papel.


O que diz a Prefeitura de Londrina


A reportagem ouviu a Prefeitura de Londrina, por meio do IPPUL (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina), nesta quinta-feira (6). De acordo com a gerente de obras do órgão, Amanda Salvioni, há leis que proíbem as irregularidades apresentadas na reportagem, mas o "problema aparece na execução dos particulares".


"O que ocorre é que, na prática, as previsões nem sempre são cumpridas. Quando seguem, a execução não é tão precisa. A execução tem que ser rigorosa também, não basta estar previsto na legislação", ressalta, citando a norma da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) NBR 9050, principal referência que trata sobre acessibilidade no país.


Segundo ela, todos os estabelecimentos têm como obrigação garantir a acessibilidade de PCDs, e as denúncias são a melhor maneira de garantir esse direito. "Do alinhamento predial para fora, que é a área pública, essa fiscalização é da Prefeitura. Porém, por mais que haja equipes técnicas, pode acontecer de a situação não ser identificada. A gente orienta que a população registre denúncias para que a Prefeitura possa notificar e exigir do proprietário o conserto e, caso não seja feito, a multa."


Sobre o piso do Calçadão, outro questionamento feito por Ana Paula Tonon à reportagem, a gerente de obras do IPPUL salienta que a Prefeitura está tomando todas as providências para ajustar o desnivelamento e as pedras soltas.


"O prefeito pediu prioridade absoluta para um projeto no Calçadão. A parte em frente ao Teatro Ouro Verde, onde há as pedras portuguesas Petit Pavé, ainda existe porque é patrimônio histórico. A gente está concluindo o projeto de reforma da quadra inteira. O piso tem que ser mantido, mas há condições de fazê-lo regular, com superfície uniforme", garante, explicando que o projeto está avançado, mas ainda sem data para ser executado. 


A gestão municipal está concluindo um novo Manual de Calçada para o município, atualizado depois de mais de duas décadas. Um novo Código de Obras também foi efetivado em dezembro de 2024. "Isso demonstra que a Prefeitura está atenta e preocupada em garantir acessibilidade para a cidade toda. Agora, a gente precisa que os profissionais estejam atualizados e que a população busque orientação", conclui Salvioni.


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