Após 42 anos de atendimentos, a Casa do Bom Samaritano, localizada na vila Marízia, região central de Londrina, irá fechar as portas do abrigo no dia 30 de setembro. A instituição sem fins lucrativos atende cerca de 70 pessoas, divididas entre idosos, homens com necessidades especiais e pessoas em situação de rua. A Prefeitura de Londrina tem até o fim do mês para realocar os abrigados adequadamente.
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A entidade finalizou os convênios com as secretarias municipais de Assistência Social, do Idoso e de Educação por falta de recursos para atender as demandas. A presidente Barbara Figueira explicou que a instituição vem “há muitos anos expondo a necessidade de um aumento do recurso da Prefeitura, porque a instituição é filantrópica. A Casa foi tendo altos e baixos, mas sempre se mantendo, só que hoje o custo é muito alto e o repasse acabou se tornando insuficiente para nós”.
Segundo ela, a situação piorou com a redução das doações feitas pela comunidade londrinense, além da diluição do apoio de grupos católicos da cidade ao longo dos anos. Figueira pontuou que foram feitas reuniões com representantes da Assistência Social tanto na gestão passada, quanto na atual. Com as respostas de que um aumento nos recursos não seria possível por falta de verba, a diretoria “empurrou com a barriga por amor à profissão e aos abrigados” até onde pôde.
Alguns estão abrigados há décadas
São 25 idosos moradores da instituição, que sofrem com transtornos mentais e foram recolhidos pela Secretaria do Idoso após o abandono da família. Alguns residem na Casa há décadas. Todos contam com apoio de cuidadores 24 horas por dia, sete dias na semana. A entidade recebe cerca de R$ 77 mil mensais da Secretaria para atender as demandas destes residentes.
Mais 22 adultos são divididos em dois quartos, que possuem algum transtorno mental ou tipo de deficiência física. São homens que a OSC (Organização da Sociedade Civil) não poderia abrigar, informou a presidente, “mas a Prefeitura não tem onde colocar, e não podemos colocar na rua”.
Cerca de 27 pessoas em situação de rua estão na Casa no momento, que foram recolhidos por meio de abordagens da Assistência Social e são “rotativos”, não tendo residência fixa no local. A Secretaria repassa R$ 116 mil mensais para o cuidado dos dois grupos, sendo que o necessário seria R$ 215 mil aproximadamente, quantificou Figueira.
Todo o valor recebido não é voltado somente às necessidades dos abrigados. Nele está incluso o pagamento dos funcionários das diferentes áreas, a alimentação, produtos de limpeza, as contas de água e luz, manutenção da casa, o motorista e todos os gastos fundamentais para manter a instituição.
Centros de Educação Infantil
O convênio com a Secretaria de Educação, junto de recursos próprios da Casa e doações, ajudava a viabilizar a manutenção de dois centros de educação infantil por parte da OSC.
A entidade continuará como mantenedora dos CEIs Nossa Senhora da Fátima e Victória Mazetti Dinardi até o fim do ano letivo, mantendo o quadro de funcionários, como firmado em acordo com o órgão. No início do ano letivo de 2026, uma empresa já escolhida irá assumir as duas creches.
Realocação
Respeitando o contrato com a Prefeitura, a organização notificou o órgão sobre o encerramento das atividades no dia 28 de agosto, 30 dias antes de sua consumação. “Nosso último dia é 30 de setembro, entre aspas, porque é óbvio que não vamos abrir o portão e jogar todo mundo para fora, isso é fora de cogitação. Demos esse prazo para a Prefeitura começar a se precaver e irmos diminuindo o nosso quadro de funcionários”, indicou a presidente.
Disse ainda que já foi solicitado para que os abrigados vindos por meio de abordagem não sejam mais encaminhados à Casa, “para que fiquem só os nossos fixos e que (a Prefeitura) possa ir procurando outras entidades para realocar eles”.
Por enquanto, todos os acolhidos ainda seguem na entidade. O remanejamento será complicado e burocrático, considerou a presidente, visto que “não é qualquer abrigo de Londrina que tem a nossa estrutura e que vai acolher esses idosos, precisam ter cuidado com isso, até achar um lugar adequado para todos”.
Ainda não se sabe qual será a nova finalidade do prédio que comporta os abrigados após o encerramento oficial das atividades.
‘Perdemos a guerra’
Figueira disse ainda que a diretoria está descontente com o ponto “inviável” que a situação chegou, contando que “batalhamos sozinhas e perdemos a guerra, mas não temos de onde tirar (recursos)”. “Eu sei que para cidade e os nossos acolhidos vai ser muito difícil. Tem acolhidos que chamam as pessoas de mãe, estamos muito tristes”, completou.
Posição da Prefeitura
A Prefeitura informou que, logo após a notificação da Casa do Bom Samaritano no fim de agosto, promoveu uma reunião com a diretoria para avaliar formas de apoio para a continuidade dos serviços.
“Na ocasião, fomos informados de que a entidade enfrenta um quadro de extrema fragilidade financeira, herdado pela nova gestão, que inviabiliza a manutenção das atividades. A diretoria alertou, inclusive, sobre a possibilidade de bloqueios judiciais em contas bancárias”, pontuou em nota.
Diante do cenário, o poder público diz que iniciou “planos de ação em ambas as pastas (Secretarias de Assistência Social e do Idoso) para assegurar a transferência dos acolhidos para outros serviços. Reafirmamos que o nosso objetivo é conduzir todo o processo da forma mais organizada e tranquila possível, garantindo a proteção e a continuidade do atendimento aos acolhidos”.
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