Londrina

BID financia mentoria especializada para Londrina em busca do fim de mortes no trânsito

25 nov 2025 às 17:44

Londrina é uma das três cidades do Brasil selecionadas para receber uma mentoria especializada pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) sobre mobilidade urbana. A proposta é resultado de um projeto elaborado pelo próprio município apresentado no Desafio Visão Zero, iniciativa da instituição internacional em busca do fim das mortes no trânsito.


Técnicos do Ippul (Instituto de Pesquisas e Planejamento Urbano de Londrina), da CMTU (Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização) e pesquisadores da UEL (Universidade Estadual de Londrina) passam por oficinas nesta terça (25) e quarta (26) para capacitação e alinhamento no desenvolvimento das soluções no entorno do Terminal Urbano de Londrina.


Segundo a especialista-líder de transportes do BID no Brasil, Ana Beatriz Monteiro, o Desafio Visão Zero é um programa lançado pelo banco para oferecer cooperação técnica para as cidades brasileiras dentro dos conceitos de Visão Zero. “Este conceito é, basicamente, a redução de mortes. Nenhuma perda de vida no trânsito é aceitável e a meta é chegar a zero”, afirma. 


A primeira edição do Desafio foi lançada em 2023, na qual os projetos de 12 cidades, entre 46 inscritas, foram selecionados para receber capacitação para desenvolvimento de soluções e busca de recursos no âmbito dos conceitos do Visão Zero ao longo de 2024. “A atividade final era que as cidades apresentassem propostas de segurança viária incorporando os aprendizados da nossa metodologia e Londrina foi uma das três selecionadas pelo corpo de jurados”, explica Monteiro.


Além de Londrina, recebem a mentoria especializada Recife (PE) e Ribeirão Preto (SP). “Inicialmente, escolheríamos só uma cidade, mas três participantes apresentaram projetos muito bons e Londrina foi uma delas”, diz Monteiro.



A partir disso, o BID designou a arquiteta Suzana Leite Nogueira como consultora especialista para trabalhar diretamente com os especialistas de Londrina para aprofundar os conceitos do Visão Zero dentro do projeto apresentado: a melhoria da mobilidade viária no entorno do Terminal Urbano de Londrina.


O projeto foi apresentado por Londrina após provocação da Associação Mobilidade Ativa de Londrina, que elaborou uma carta de apoio à proposta, e teve como base o PlanMob, plano de mobilidade municipal. “Ele forneceu um diagnóstico de regiões que, pelo número de deslocamentos por modais, ou seja, pedestres, ciclistas, motoristas e usuários de transporte público, permitiu selecionar algumas áreas do Centro que demonstravam um conflito maior e, também, um maior potencial de soluções”, explica o diretor de trânsito do Ippul, Alexander Hulsmeyer. 


Ao analisar os locais, o Ippul selecionou inicialmente os arredores do IEEL (Instituto de Educação de Londrina), mas alterou a região devido ao maior potencial do terminal  urbano, devido à construção do Terminal Metropolitano de Londrina, que deve aumentar o fluxo de pedestres e usuários de transporte coletivo. “E o BID acatou, para essa mentoria, que usemos essa área como um programa piloto de melhoria do sistema viário”, diz Hulsmeyer.


Projeto e mentoria


A mentoria começou nesta terça com a leitura do plano focado na região, compatibilizando com o uso do solo e orientando para a mobilidade segura, que é a proteção e priorização dos sistemas mais frágeis, ou seja, os pedestre e os ciclistas, além da ordenação do transporte coletivo e do tráfego em geral.  "Essa já é uma diretriz que vem do plano de mobilidade e, depois da leitura, começamos a tentar levantar dados para que tragam evidências de soluções”, explica Suzana Nogueira. 


Entre os dados, estão levantamentos do Ippul e CMTU relativos à circulação, estacionamento, dados de transporte, vídeos e programação semafórica, entre outros. Paralelamente, a UEL entrou com exercício de campo de contagens veiculares, para entender todos os modos que circulam nessa região do entorno do terminal, e uma pesquisa específica focada no transporte coletivo. “Ela permitiu observar o carregamento da via e a ocupação dos ônibus, que também dá uma diretriz para pensar, também, como planejar ou revisitar o planejamento do sistema de transporte”, afirma a consultora do BID. 



A partir deste primeiro trabalho, no período matutino, os técnicos analisaram referências de estudos de casos de outros lugares para inspirar as soluções para Londrina. A expectativa é que até esta quarta (26) sejam pensadas conjuntamente as soluções propostas, que devem se efetivar depois como uma ação executiva da Prefeitura de Londrina.


Dentro das propostas a serem oferecidas, estão experiências como a regulação semafórica a partir de rastreamento por GPS do fluxo de veículos para priorizar a locomoção por transporte coletivo, de acordo com a demanda nos diferentes períodos do dia. 


As propostas sugeridas pela mentoria devem culminar, ainda em dezembro, com a elaboração de nota técnica para colocar em prática as sugestões dentro do Desafio Visão Zero. Porém, Ana Beatriz Monteiro esclarece que o município é soberano para escolher as sugestões que considerar mais viáveis. “O que nós fazemos é trazer um cardápio de soluções e analisar as que podem ser melhor aplicadas. Mas, eventualmente, a cidade pode esbarrar em questões que podem inviabilizar a sugestão, como a impossibilidade de cumprir a meta devido ao fluxo financeiro”, explica.


Do nível de Bogotá



O presidente do Ippul Claudio Bravim ressaltou a importância da mentoria do BID, que é um olhar exclusivo de um órgão internacional para ajudar nas soluções da mobilidade urbana. 


“Londrina foi uma das escolhidas entre muitas cidades do Brasil que participaram com seus projetos e a nossa proposta foi considerada uma das três melhores. Foi como o BID achar uma agulha num palheiro e é uma premiação realmente digna de primeiro mundo. Nós estamos, agora, nos comparando com Bogotá”, afirma Bravim. Capital da Colômbia, Bogotá é considerada um modelo de mobilidade urbana mundial.


Diretor da Associação Mobilidade Ativa Aluísio Silva Júnior ressaltou a importância do planejamento para além das perspectivas de duração de governos, com a visão de um projeto de gestão, com a participação da sociedade organizada. “O PlanoMob foi uma provocação da sociedade civil, que o prefeito Alexandre [Kireef] contratou lá atrás, via recursos da Câmara, e é importante porque conseguimos ter dados para seguir com os planejamentos”, exemplificou.


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