“Não sobrou um único pé de café”. Essa foi a manchete da Folha de Londrina no dia seguinte à geada que atingiu o Paraná em julho de 1975. Apelidado de “Geada Negra”, o evento climático teve um impacto devastador e transformador na economia paranaense, considerado por muitos um divisor de águas na história do estado.
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O Paraná, até então, era o maior produtor de café do Brasil. De acordo com Emerson Esteves, economista e conselheiro do Corecon/PR (Conselho Regional de Economia do Paraná), a geada foi tão intensa que dizimou quase todas as plantações de café no Paraná. A temperatura chegou a -9°C no campo.
A estimativa é de que mais de 300 mil hectares de café foram erradicados em decorrência desse evento climático. Em 1975, o Paraná colheu mais de 10 milhões de sacas de café, respondendo por cerca de 48% da produção nacional. No ano seguinte, a participação paranaense caiu para 0,1%.
As consequências desse evento climático ocorrido no Paraná também impactaram na dinâmica entre o campo e a cidade. De acordo com Esteves, após julho de 1975, o estado enfrentou um êxodo rural massivo decorrente da perda das lavouras.
A estimativa é de que mais de 2,6 milhões de pessoas deixaram o campo em busca de oportunidades em outros estados ou até mesmo migrando para as periferias das cidades paranaenses.
A catástrofe forçou a diversificação da agricultura paranaense, em que terras antes dedicadas ao café foram substituídas por outras culturas, como a soja e o trigo. Essa mudança, de acordo com o economista, consolidou o Paraná como protagonista na produção desses grãos, utilizando tecnologias e técnicas agrícolas mais eficientes, como a mecanização e defensivos agrícolas.
Apesar dos diversos impactos negativos causados pela geada de 1975, Emerson Esteves afirma que, após o evento, o Paraná buscou uma industrialização mais acelerada, com o objetivo de reduzir a dependência do setor primário.
Diversos complexos industriais de grande porte começaram a operar ou foram implantados no estado após 1975, como o do vestuário em Cianorte. “A população precisou buscar novas fontes de renda e foi nesse cenário que muitas pessoas começaram a abrir pequenas fábricas de roupas em suas próprias garagens e quintais”, conta.
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