Os últimos dias têm sido de termômetros nas alturas em grande parte do país, principalmente na região Sudeste.
Esse calorão que tem batido recordes de temperatura do verão preocupa pelos efeitos nocivos à saúde da população e pelos temporais que origina quando aliado à alta umidade do ar. Mas o que provoca essa onda de calor?
Segundo os meteorologistas, esse é um fenômeno bem comum nesta época do ano e é provocado pela alta pressão atmosférica. Basicamente, ela faz com que o ar quente e seco desça e atue como a tampa de uma panela, impedindo que o vapor de água suba e forme nuvens de chuva.
"Sem nuvens, todos os raios de sol chegam até o chão sem nenhum bloqueio, se transformando em calor", explica Giovanni Dolif, pesquisador do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais).
Olivio Bahia, meteorologista do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) destaca que, por ser verão, o sol está iluminando o hemisfério sul, jogando radiação diretamente sobre o país. Assim, as temperaturas, que já são mais altas, acabam sendo amplificadas pelo sistema de alta pressão, que comprime e aquece o ar.
"Imagine uma seringa ou uma bomba de encher pneu. Você sente o corpo do êmbolo aquecendo quando pressiona. É isso o que está acontecendo. A pressão é comprimida de cima para baixo e isso inibe e dificulta a formação de nuvens. Além de inibir a formação das nuvens, que filtrariam a radiação solar, ela faz com que a temperatura se eleve. Essa compressão dá um aquecimento adicional. Já é quente pela própria radiação e ao mesmo tempo tem a compressão que dá o aquecimento além da radiação", diz Bahia.
Essa situação faz parte da dinâmica da atmosfera. Ocorre que ela está sendo piorada pelo aquecimento global, segundo fator de influência no calorão atual.
"Num planeta mais quente, temos ainda mais calor nesses períodos. E a sensação térmica nesta época do ano é outro diferencial", diz Dolif. Ele afirma que as máximas registradas ultimamente são muito similares às de meses anteriores, como setembro e outubro, mas a umidade do ar tem sido mais elevada.
Uma máxima de 37°C pode causar uma sensação de 52°C se a umidade chegar a 60%, por exemplo.
"Nessas condições, o corpo sofre e vai se degradando, causando até mau funcionamento dos órgãos, principalmente do coração, que precisa bombear mais sangue para tentar resfriar o corpo", segue o especialista. Há até risco de morte, completa.
Olivio Bahia compara a sensação térmica à agonia de estar em uma sauna úmida.
"Em um ambiente mais seco e ventilado, você nem sente que está quente porque o vento rouba calor da sua pele, como na praia. Mas depois você chega em casa e percebe que está todo queimado e desidratado. Quando há mais umidade, fica abafado e não há troca calor do corpo com o ambiente", explica o meteorologista do Inmet, contando que a umidade atual se mantém no Sudeste desde a ZCAS (Zona de Convergência do Atlântico Sul), um corredor de umidade que veio da amazônia e provocou muita chuva entre janeiro e começo de fevereiro.
Bahia, no entanto, explica que o que ocorre não é precisamente uma onda de calor. Segundo a OMM (Organização Meteorológica Mundial), onda de calor é quando em uma grande área, de diversos municípios e até estados, as temperaturas ficam pelo menos cinco graus acima da média por pelo menos cinco dias consecutivos.
Na última sexta-feira (14) as previsões do Inmet indicavam que as temperaturas subiriam a partir de segunda-feira (17) acima de 5°C por vários dias, mas isso não se cumpriu, segundo o meteorologista.
"O Rio de Janeiro ficou dois dias com temperatura acima de 5°C, mas hoje já caiu para 33°C, que é a média climatológica na Marambaia. Está quente, mas não cumpre os critérios de onda de calor da OMM pelo valor e pelo tempo. Nunca ficou mais de três dias acima de 5°C", afirma.
A Defesa Civil do Estado de São Paulo, por sua vez, informou que algumas regiões ficaram sob influência da onda de calor, que seria a primeira do estado. Este ano, o país teve duas ondas de calor oficializadas pelo Inmet, ambas no Rio Grande do Sul, de 17 a 23 de janeiro e de 2 a 12 de fevereiro.
Olívio Bahia afirma que só é possível prever o clima até sete dias à frente. Para o estado de São Paulo, ele diz o calor vai continuar, mas próximo a 1°C, 2°C ou 3°C acima da média.
"A preocupação de São Paulo passa a ser mais a chuva. No verão vai estar calor mesmo. Com vários dias sem chuva e com temperatura acima da média, atinge 5°C em alguns dias, mas não cumpre os critérios da onda de calor", diz.
DICAS PARA MANTER A SAÚDE EM SITUAÇÕES DE CALOR EXTREMO
- Mantenha-se hidratado, mesmo se não sentir sede;
- Evite a ingestão de bebidas alcoólicas e com alto teor de açúcar;
- Use roupas leves, inclusive ao dormir;
- Proteja-se do sol: procure uma sombra e use chapéu ou boné;
- Use protetor solar;
- Evite alimentos gordurosos e calóricos e prefira alimentos frescos;
- Evite atividade física intensa nas horas mais quentes do dia;
- Coma com mais frequência;
- Use água fria para se refrescar;
- Certifique-se que familiares e amigos estejam bem e hidratados, principalmente crianças e idosos;
- Use umidificadores de ar ou toalhas molhadas nos ambientes;
- Facilite a circulação do ar.
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