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Mulheres têm asas ou garras? Crônica de Isabel Furini

10 jul 2025 às 22:04

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Imagem gerada pela IA do Bing
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Crônica de minha autoria que analisa os preconceitos contra mulheres, alguns deles tão arraigados na sociedade que não são considerados preconceitos.

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Mulheres têm asas ou garras?

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Com o passar do tempo, embranqueceram-se os cabelos — e também a alma. Em outros tempos, escrevia nas estrelas. Os sonhos me afastavam do mundo, mas o tempo, o velho Cronos, foi encurtando meus voos poéticos, silenciando desejos. O príncipe encantado, com seu cavalo branco, talvez tenha errado o caminho ou simplesmente se perdido — porque nunca chegou à minha porta para pronunciar palavras de amor. Bateram à janela apenas jovens desajeitados — alguns nem tão jovens assim —, mas todos com algum traço fora do lugar: o nariz torto, o sorriso falso, a testa estreita. Outros traziam vícios ou um egoísmo descomunal.

Sabemos que o mundo dos sonhos é mais belo que o real. Na adolescência, as mulheres têm asas — podem ser de borboletas, andorinhas ou águias —, mas têm asas. Com o tempo, elas vão diminuindo. Não adianta colori-las com tintas vivas — azul, turquesa, amarelo, vermelho, cinza, verde ou laranja. Tampouco adianta seguir o mapa de um artista louco que fugiu de um manicômio numa noite de lua cheia.

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De repente, as asas diminuem ou desbotam. A adolescência fica para trás. Resta arregaçar as mangas e lutar — ou se acomodar. Algumas mulheres, então, desenvolvem garras — como as leoas.

Talvez acomodar-se seja o destino mais cruel, mas é inegável que muitas foram ensinadas desde cedo a buscar conforto e evitar o confronto — ou, melhor dizendo, a deixar que os homens lutem, enquanto elas passam horas diante do espelho observando como a barriga e os quadris se transformam com o tempo.

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Um dos desafios é que a sororidade ainda é frágil. Certa vez, ouvi de uma vereadora que ela foi eleita com votos masculinos. "Mulher só vota em mulher se um homem pedir", disse.

E quanto às escolhas profissionais? Por que tantas mulheres, ao escolherem um médico, optam por homens, mesmo quando há excelentes médicas disponíveis? Acreditam que eles são mais competentes? Teriam as médicas estudado menos?

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No mundo glamouroso da televisão, então, o julgamento é implacável. Se uma apresentadora ganha alguns quilos, surgem críticas (algumas até maldosas) nos blogs, nas redes sociais, nas rodinhas de comentários. Uma simples foto de biquíni pode virar piada. Já os homens, com os mesmos "quilinhos a mais", são vistos como mais fortes, mais poderosos.

E os cabelos brancos? Que incômodo social parece haver com os fios grisalhos femininos! Elas precisam pintá-los, esconder o tempo. Homens, por outro lado, são vistos como charmosos ao natural. Uma mulher com o cabelo pintado de vermelho, mas com as raízes brancas  pode ser julgada como relaxada. “O que será que ela faz de tão importante para não ter tempo de cuidar do cabelo?”, pergunta a loira oxigenada do sétimo andar. “Preguiça!”, responde a morena de cabelo avermelhado e brilhante.

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E quanto àquelas que não gostam de crianças? Como ousam? Se uma mulher não se derrete por crianças barulhentas e chorosas, logo é vista com desconfiança. Já um homem que não gosta de crianças, é aceitável, pois “não é da natureza dele.” Mas se for uma mulher, logo se cogita: “Será que ela tem algum desvio? Talvez seja uma psicopata...”

No mês passado, li uma postagem nas redes sociais de um senhor indignado: “Onde já se viu uma mulher discutir com um homem?” Ele parecia realmente ofendido. Conheço esse indivíduo. Acredita que os homens estão sempre certos. Como pode uma mulher levantar a voz? Ele pode dizer o que quiser — mesmo bobagens —, mas ninguém deveria contrariá-lo.

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Deixo aqui alguns versos sobre esse tipo:

Ele é um poderoso chefão imaginário,

porque se acha um rei,

mas na realidade é um velho otário.

As garotas de programa o chamam de velhaco — e não discutem com ele. O poder do dinheiro é, para alguns, inquestionável. Não à toa, ele prefere conversar com elas a ouvir uma professora universitária, uma jornalista ou uma advogada. Essas podem argumentar — e mulher que argumenta é perigosa. Muito perigosa!

A submissão feminina, tão exaltada por certas correntes religiosas, é, na verdade, uma construção machista disfarçada de virtude.

Certa vez, uma diarista me disse que eu não deveria usar calça, pois em sua religião Deus não aprovava. Como eu estava de bom humor, respondi com leveza: “Na minha religião, Deus não é estilista de moda. Ele não se preocupa com roupas, tem galáxias inteiras para cuidar.”

Curioso como as regras quase sempre recaem sobre os cabelos e as roupas femininas. Uma vez, alguém me afirmou que a Bíblia determina que mulheres usem cabelos compridos e homens, curtos. Desconheço essa passagem — especialmente porque muitos judeus, segundo registros históricos e imagens, também usavam cabelos longos. A moda dos cabelos curtos masculinos foi adotado pelo exército de Roma. Soldados romanos eram obrigados a cortar o cabelo para evitar piolhos. A medida se mostrou prática e acabou sendo adotada por outros povos.

Chegamos, então, a um ponto crucial: o direito individual de escolha. Quem deve determinar como uma mulher se veste, o comprimento do seu cabelo, os sapatos que calça? — Sim, um estilista pode opinar. E tudo bem. A diferença é que, nesse caso, há escolha.

O direito à autodeterminação é uma conquista importante e deve ser defendido.

E, como disse antes: com o tempo, embranqueceram-se os cabelos — e, talvez, a alma.

Isabel Furini é escritora e poeta premiada.

Contato: [email protected]

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