Falando de Literatura

Isabel Furini é entrevistada pelo jornalista Mhario Lincoln

26 fev 2017 às 12:02

Mhario Lincoln, jornalista, poeta e presidente da Academia Poética Brasileira, realizou uma pergunta sobre literatura à poetisa e membro dessa Academia, Isabel Furini.

A entrevista foi publicada no informativo da Revista Poética Brasileira: https://www.mhariolincolndobrasil.com/


A pergunta não admite uma resposta simples, porque a literatura tem muitos caminhos. Estudos, conceitos, ideias, teorias, oferecem visões diferentes do universo poético. Cada entrevistado pode dar uma resposta muito diferente. Mas o importante é provocar a reflexão sobre assuntos relacionados com literatura.


A pergunta de Mhário Lincoln:
O que poderia dizer da poesia no Paraná e no Brasil?


A literatura é o espelho do mundo. Com a globalização a literatura também tornou-se mais universal. O Brasil tem uma rica história literária. O Concretismo, por exemplo, teve representantes de primeira envergadura, como Décio Pignatari e os irmãos Haroldo e Augusto de Campos. Em 1962, Mário Chamie instaura a poesia práxis, que se opõe ao concretismo. Alguns falam que o auge da Poesia Concreta foi efêmero, mas muitos dos elementos ficaram inseridos na poesia contemporânea.


O manifesto modernista, em 1922, inseriu mudanças nas Artes e na Literatura. O Pós-modernismo integrou elementos de algumas correntes. Uma das características da poesia atual é a diversidade. Um fenômeno contemporâneo é o afastamento de poesia popular e da poesia produzida nas universidades e academias de letras.


Sempre existiu essa divisão entre literatura erudita e popular, é verdade, mas nunca foi tão pronunciada, tão radical. Por exemplo, um clássico como Madame Bovary de Flaubert, era lido pelo povo. Hoje em dia a divisão é claramente percebida. Os livros considerados bons para os escritores, críticos e leitores eruditos, resultam cansativos para os leigos.


Em poesia a situação é semelhante. Enquanto o povo gosta de rima, de musicalidade, de versos claros, para captar rapidamente a mensagem do poema. Já a poesia erudita não faz questão de clareza. Utiliza recursos sofisticados, entre eles, os jogos linguísticos, a sonoridade da palavra, a valorização do ritmo, a ausência de pontuação, a paródia, a linguagem irônica, o substantivo sem o uso do pronome, a linguagem depurada, quebrada, a supressão dos elementos de ligação da frase, a metáfora, o intertexto. A repetição para ajudar a fixar a mensagem nuclear, a singularidade, etc.
Também surgiram alguns poetas que agradam o público em geral e o público erudito, como Paulo Leminski. A habilidade com as palavras e a genialidade é sempre um prato cheio para os amantes da poesia.


No Brasil existe também um forte movimento de poesia de rua, do grafite, da expressão poética que nasce da revolta, da observação do mundo ou da observação do espaço interior.


A boa poesia pode ser hermética, expressar-se em três linhas como o haicai, ou pode ser uma longa reflexão sobre a vida como Vida e Morte Severina de João Cabral de Melo Neto.
Podemos dizer que a poesia é uma filha louca da literatura. Mario de Andrade afirmou: "É por seguirem os velhos poetas que os poetas modernistas são tão novos".
Sabemos que a poesia revela o ser interior, pensamentos, emoções, instintos. É como um copo que recebe líquidos de diferentes garrafas, com gostos, aromas e cores diferentes.

Mas para responder essa pergunta sobre a poesia no Brasil, seria muito interessante conhecer as respostas dos grandes nomes do Paraná: Miguel Sanches Neto, Ricardo Corona, Bárbara Lia, Regina Bustolim, Thadeu Wojciechowski, Jaime Vieira, Luci Collin, Jandira Zanchi, Domingos Pellegrini (Londrina), Jaime Vieira (Maringá), o pessoal da Feira do Poeta de Curitiba, como Geraldo Magela, Elciana Goedert, Jefferson Dieckmann, Amauri Nogueira e tantos outros poetas que lutam para divulgar seus trabalhos. Poetas que realizam trabalhos críticos como Vera Albuquerque e Robson Lima. Encontramos muita poesia de qualidade sendo editada de maneira artesanal. Muitos poetas estão todos os dias escrevendo no Paraná, no Brasil e no mundo, renovando esse imenso mar que é o mundo poético.
Isabel Furini


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