A Cachoeira do Paraíso, beleza natural da Reserva Ecológica da Jureia e uma das preferidas pelos turistas que viajam ao litoral sul de São Paulo, agora tem entrada restrita: só 270 pessoas podem entrar no local por dia. E com senha.
O número é bem menor do que os cerca de 3 mil visitantes que chegavam a comparecer ao local em dias de feriados prolongados.
O novo limite foi imposto no mês passado pelo governo do Estado, que administra o local por meio da Fundação Florestal. É uma resposta à decisão judicial que, atendendo a pedido do Ministério Público, lembrou que a Jureia é uma estação ecológica, não produto de exploração turística. Sendo assim, não pode sofrer com o excesso de visitantes.
Trata-se também de uma das duas cachoeiras em áreas estaduais que sofrem restrição. A outra fica no Parque Estadual da Serra do Mar, em São Luiz do Paraitinga. Lá, onde a presença de turistas também costumava ser maciça, só 200 pessoas podem agora entrar por dia, divididas em grupos.
Na Cachoeira do Paraíso - que fica em Iguape, mas tem acesso por Peruíbe -, a entrada também é dividida. São quatro turnos por dia, dois pela manhã e dois à tarde. Quem consegue entrar tem duas horas para aproveitar a queda d"água de seis metros de altura, com poço de águas cristalinas ricas em diferentes espécies de peixes. Depois, tem de dar a vez a outro grupo. Os ingressos são distribuídos na própria Jureia, no km 14 da Estrada da Barra do Una (Trevo do Itinguçu).
Polêmica
Entre os frequentadores, a restrição já virou polêmica. A maioria ficou indignada por ser "barrada" no local. Para Márcio Nobre, de 20 anos, por exemplo, a medida foi "desnecessária". Frequentador assíduo da região, ele não conseguiu senha para a cachoeira em um dos dias deste verão e acabou regressando para Mongaguá, onde estava hospedado, sem visitá-la. "Estive aqui em outras temporadas e todo mundo conseguia se divertir sem confusão. Não precisava restringir."
Para Marcelo Zwarg, outro frequentador antigo da Cachoeira do Paraíso, a decisão não faz sentido e apenas reflete a falta de interesse do governo em criar estrutura no local. Já os comerciantes dos cerca de 20 bares do entorno temem perder o negócio. Sebastião Lima, de 80 anos, por exemplo, tem bar ali há 40 e conta que, antes de a região virar estação ecológica, na década de 1980, a cachoeira já era ponto de visitação.
Mas há também quem apoie a decisão. Roberto Nicácio, coordenador da Estação Ecológica da Jureia-Itatins, afirma que a queda d"água tem mais vocação para pesquisa e educação ambiental do que para turismo. "Com 270 pessoas por dia, é possível haver um controle da informação passada ao visitante, que passa a conhecer mais sobre o bioma da região." Quem chega à cachoeira hoje assiste a um vídeo sobre detalhes e serviços do local.
Quem também vê benefícios na restrição é o frequentador Ademir Brito, de 48 anos. "Antes ficava muita muvuca. Não dava para aproveitar."
A entrada com senhas ainda pode acabar com um problema. Já foram registradas no local 18 mortes, em geral de turistas que bateram a cabeça ao escorregar no tobogã - nome dado à queda d"água. Alguns possivelmente embriagados.