O imperador Septimus Severus, que governou Roma de 193 a 211 d.C., nasceu em 145 d.C. em Leptis Magna, situada na costa da atual Líbia. A cidade, fundada no século 07 a.C. pelos fenícios, era o maior enclave romano na região na época de Severus e, sob seu reinado, atingiu o auge ao ser agraciada com um amplo programa de obras.
Muitas dessas construções, e outras, anteriores e posteriores, podem ser visitadas ainda hoje por quem vai à Líbia. Consideradas umas das mais bem preservadas ruínas romanas do Mediterrâneo, elas ficam cerca de 120 quilômetros a sudeste de Trípoli, a capital do país, e o trajeto pode ser facilmente percorrido de carro.
Para quem já conhece Roma, a Leptis Magna não deixa de espantar. Embora grandes construções como o Coliseu e o Panteão estejam bem preservadas, a capital italiana foi constantemente habitada desde a época dos césares, sendo que prédios foram erguidos em cima de prédios e material de antigas edificações foi utilizado para a construção de novas.
Um bom exemplo disso é a Basílica de São Clemente, localizada próxima ao Coliseu, em Roma. Escavações feitas sob a igreja do século 12 descobriram uma mais antiga, do século 04, que, por sua vez, foi construída sobre um templo do século 02, dedicado ao deus persa Mitra, e uma casa Romana do século 01. Debaixo de tudo há indícios que datam da época da República Romana, anterior ao Império. E as escavações ainda continuam.
Arco Septimus Severus e Coluna com relevos na Basílica
No caso da cidade na costa líbia isso não ocorreu. Nos séculos seguintes ao reinado de Septimus Severus, segundo informações da Enciclopédia Britânica, Leptis Magna entrou em decadência e, após a conquista árabe do Norte da África, no século 07 d.C., foi deixada ao abandono, não tendo sido habitada desde então. Isso garantiu a preservação não só dos edifícios romanos, mas também de indícios de outras civilizações que ocuparam a região, como os cartagineses e os númidas.
Para chegar à cidade basta acertar o transporte na recepção do hotel que você estiver em Trípoli, ou então negociar diretamente com um taxista. O ideal é sair cedo e combinar um preço que inclua a ida, o tempo de espera e a volta. Um giro rápido pelo sítio dura cerca de duas horas, mas os mais minuciosos podem querer passar o dia.
Há, na entrada do parque, pequenas lanchonetes e lojas de souvenires, boas para quem quer se abastecer de água ou refrigerantes, mas não para alguém que queira uma refeição de verdade. É bom levar boné e óculos escuros para se proteger do sol. O ingresso custa 6,00 dinares líbios, ou US$ 4,80.
Algumas estruturas merecem destaque, como o Arco de Septimus Severus, logo na entrada, construção com quatro entradas em arco, relevos e uma boa opção para fugir do sol. Com poucos turistas, acaba sendo ponto de encontro dos guardas do parque.
Há também as Termas de Adriano, que ainda conservam quase intactas as latrinas de mármore utilizadas em tempos imperiais; o mercado; o Fórum e a Basílica, que embora não tenham mais teto, ainda conservam as paredes e vários dos relevos e inscrições originais. Algumas colunas da Basílica têm entalhes detalhados retratando a vida do deus Dionísio e os doze trabalhos de Hércules.
O edifício mais impressionante, porém, é o anfiteatro, em ótimo estado de conservação, e que poderia receber ainda hoje o show de algum astro pop. Olhar do alto das arquibancadas para o palco, com o Mediterrâneo ao fundo, é uma vista de tirar o fôlego, que por si só já vale o passeio.
Detalhe do fórum
Leptis Magna faz parte da região antigamente conhecida como Tripolitânia, que inclui a cidade onde hoje está a moderna Trípoli, e Sabratha, outro enclave romano mais a noroeste. Em Trípoli também podem ser vistas ruínas romanas. Dentro da medina, o centro histórico da capital, há o Arco de Marco Aurélio, construído há mais de 1,8 mil anos.
Mercado árabe
A medina é o lugar também para quem quer conhecer um "souk", tradicional mercado árabe. Entrando pelas muralhas da cidade antiga, a partir da Praça Verde, região central e ponto de encontro de Trípoli, o mercado se espalha por vielas estreitas e as lojas estão instaladas em prédios baixos pintados de branco. É o ponto para comprar artesanato típico.
Barraca de lenços na medina de Trípoli
O lugar mais interessante da medina, pelo menos do ponto de vista turístico, é esse próximo à Praça Verde. Ao se caminhar mais para o interior, os prédios tornam-se mais degradados e o comércio passa a ser de bugigangas populares, desde tênis, roupas, cigarros, passando por antenas parabólicas usadas e até produtos para os cabelos.
Uma coisa curiosa no "souk" de Trípoli é que a cultura da pechincha não é tão difundida quanto em outras cidades árabes até muito mais exploradas pelo turismo. Dependendo do comerciante, o preço da mercadoria é o que está marcado, e ponto final. Tentar um desconto, porém, não custa nada.
Típico mercado árabe
Aliás, a Líbia tem algumas diferenças em relação ao outros países árabes que exploram mais fortemente o turismo e estão há mais tempo abertos para a economia global. Em primeiro lugar, é mais raro encontrar pessoas que falem outra língua além do árabe, e dificilmente placas e anúncios nas ruas, e até no aeroporto, têm indicações em outros idiomas. O líder Muammar Kadafi é presença constante nos outdoors.
São poucos também os hotéis de categoria internacional, o que faz as diárias nos que existem serem bastante salgadas. Os motoristas de táxi, salvo exceções, não parecem interessados em levar vantagem do visitante na cobrança da corrida. Embora os carros não tenham taxímetro, geralmente eles cobram um preço fixo para determinada distância. O valor, no entanto, pode ser negociado.
As praias são lindas e a costa é extensa. Em Trípoli, onde elas ficam cheias, ir à praia é um programa de família e que geralmente envolve um piquenique. A Líbia é um país conservador, então, embora não seja obrigatório o uso de determinado tipo de roupa, é bom sempre optar por algo mais discreto. O consumo de bebidas alcoólicas é proibido no país. Só há cerveja sem álcool.