Não faltam bons motivos para visitar Recife. Uma das mais charmosas cidades do Nordeste do Brasil, a capital pernambucana encanta pelo céu azul, mar de águas mornas, construções coloniais e pelas pontes que enfeitam o Centro ao ligar as margens do Rio Capibaribe, uma das estrelas da paisagem.
Atentos a essas atrações, os roteiros convencionais esquecem de destacar uma característica forte da terra do poeta Manuel Bandeira: a sua vocação para as artes. Principalmente as artes plásticas, que saltam aos olhos até mesmo dos turistas que não passam perto dos museus.
Como isso é possível? Além dos painéis e esculturas espalhados por praças e ruas, uma lei municipal de 1961 estabelece que todos os prédios com mais de 1.000 metros quadrados de área construída só recebem o alvará de construção se indicarem na planta o local onde será instalada uma escultura ou painel. Assim, basta prestar atenção nos edifícios que cruzarem o seu caminho para ter uma mostra do que é que o Recife tem.
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A Rosa dos Ventos de Cícero Dias no Marco Zero da capital pernambucana
Nessa linha, um bom tour pelas artes visuais da capital de Pernambuco pode começar com uma parada no chamado Marco Zero da cidade, bem no Centro. Lá, nas pedras do mar, está instalado o Parque das Esculturas de Brennand, um conjunto de esculturas do recifense Francisco Brennand, um dos mais importantes nomes das artes plásticas no estado e no país.
No piso da praça onde fica o ponto inicial do município o destaque vai para a Rosa dos Ventos, do não menos respeitado Cícero Dias, pernambucano de Escada, a 50 quilômetros do Recife. Aproveite a brisa, descanse os olhos e deixe o tempo passar sem pressa enquanto observa o trabalho dos dois.
Ainda na série "esbarrando em arte", preste atenção quando for ao Aeroporto dos Guararapes para pegar seu voo de volta. Lá, há obras de outro mestre: o pernambucano Abelardo da Hora, que assina esculturas como a do sociólogo recifense Gilberto Freyre, autor de Casa Grande e Senzala.
Disposto a conhecer alguns dos bons museus que a cidade oferece? Então anote três referências importantes no seu caderno de viagens: Museu do Estado de Pernambuco (com 14 mil itens no acervo e instalado num palacete no bairro das Graças), Museu do Homem do Nordeste (traz peças que explicam a formação, os hábitos e a diversidade da cultura nordestina, isso além de ficar num dos mais nobres e charmosos bairros do Recife: Casa Forte) e Instituto Ricardo Brennand (reúne peças adquiridas pelo colecionador que dá nome ao museu, objetos que vão de armaduras a peças raras de tapeçaria. Também fica em Casa Forte).
Oficina do Brennand - área externa
A Oficina de Brennand, no bairro da Várzea, é a mais badalada atração do roteiro de arte no Recife
Quer mais? O Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Mamam), na Rua da Aurora, Centro, às margens do Rio Capibaribe, reserva boas surpresas em seu acervo. "O Mamam tem uma coleção muito interessante de obras de artistas brasileiros como Cildo Meireles, Nelson Leirner, João Câmara e Samico, entre outros", explica o artista plástico e assessor técnico da Secretaria Municipal de Cultura da Cidade do Recife, Fernando Duarte.
Outra parada essencial no roteiro das artes na terra do poeta e escritor João Cabral de Melo Neto é o Museu de Arte Popular, no Pátio de São Pedro, no bairro de São José, região central. Quer saber por que? O espaço reúne mais de 480 peças de escultores populares do Nordeste brasileiro, como Zé Caboclo, Zé Rodrigues, Manuel Eudócio e o mais famoso deles, Mestre Vitalino. "Quem visita o museu tem uma boa ideia do trabalho desses artistas", recomenda Duarte.
Oficina de Brennand
Não tem muito tempo para explorar tudo? Sobrou um dia apenas para se dedicar às artes em seu tour pelo Recife e você precisa escolher uma atração só? Tudo bem, desde que você conheça a Oficina de Brennand, no bairro da Várzea. "Esse passeio todo mundo tem que fazer", diz Duarte. Trata-se do ateliê/museu a céu aberto das obras de Francisco Brennand (sim, é o mesmo que assina o Parque das Esculturas do Marco Zero), inaugurado em 1971, a partir das ruínas da antiga Cerâmica São João da Várzea, de propriedade da família do artista. Um templo das artes instalado num local reservado, tranquilo, em meio a muito verde, em plena capital.
Oficina do Brennand - salão interno
Salão interno da Oficina de Brennand: mais de 2 mil peças de cerâmica
Em 2009, a Oficina recebeu mais de 32 mil visitantes interessados em conferir de perto as esculturas cerâmicas que ocupam as áreas internas e externas do local, com destaque para o Templo do Ovo Primordial e a Grande Muralha Mãe Terra. "São mais de 2 mil peças entre esculturas, painéis e murais, sem falar nos mais de 300 desenhos", explica a bibliotecária e coordenadora do Centro de Documentação – Acervo e Biblioteca de Brennand, Marinez Teixeira da Silva.
Os ovos e as aves são elementos recorrentes na obra do artista e são para ele símbolos da imortalidade e fertilidade. "Os visitantes ficam maravilhados e surpresos com o formato das esculturas, com a sua cor, além da elogiar a beleza e a aura mítica que tem esse lugar", diz Marinez.
Esculturas a céu aberto na Oficina de Brennand
Não bastasse tudo isso, de quebra, é fácil ver Brennand pelo local, sempre trabalhando e, bom recifense que é, atendendo com gentileza todos aqueles que o abordam. Uma mostra da boa hospitalidade na capital pernambucana. E das surpresas que o mundo das artes reserva por lá.
Mais informações
Agenda Cultural da Cidade do Recife (www.recife.pe.gov.br/fccr/agenda)
Museu do Estado de Pernambuco (www.fundarpe.pe.gov.br/mepe)
Museu do Homem do Nordeste (www.fundaj.gov.br/docs/indoc/muhne/muhne1.html)
Instituto Ricardo Brennand (www.institutoricardobrennand.org.br/index2.html)
Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (www.mamam.art.br)
Oficina de Brennand (www.brennand.com.br)