A cidade é pequena, silenciosa. Se chama São Miguel das Missões e fica no noroeste do Rio Grande do Sul. Em um passeio mais detalhado por suas ruas, cercadas de vegetação e lavouras, porém, é possível ouvir gente falando em inglês, francês, espanhol e de vez em quanto até em japonês. A tranqüila São Miguel abriga um dos patrimônios culturais da humanidade, as ruínas de São Miguel, sítio arqueológico da comunidade de padres jesuítas e índios que existiu ali no século 17, a Redução de São Miguel Arcanjo.
Sítio atrai turistas do Brasil e exterior
O local é chamariz para turistas do Brasil e do exterior, principalmente latino-americanos e europeus. De acordo com a chefe do escritório técnico do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Candice Ballester, as ruínas de São Miguel recebem de 60 mil visitantes ao ano. Pesquisas recentes indicam que 25% do público é estrangeiro. A ligação histórica do local com a Europa e a América Latina faz destas regiões as maiores responsáveis pelo envio de turistas. "São turistas que buscam informação no turismo", diz Candice.
Ela explica que os europeus são visitantes freqüentes também porque as ruínas de São Miguel acabam sendo divulgadas por meio do escritório da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), que fica em Paris, na França. O sítio foi declarado patrimônio cultura da humanidade pela Unesco em 1983. "Um bom número de turistas é voltado à área cultural, trabalha com preservação, são historiadores. Mas também há pessoas como um argentino andando de bicicleta pela América", explica Candice.
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Museu tem imagens de madeira
Apesar de atrair turistas por seu valor histórico, o sítio arqueológico da antiga redução jesuítica também encanta por sua beleza natural. As ruínas ficam em meio a um vasto gramado, de onde, no ambiente da cidade quieta, é possível ouvir passarinhos e o burburinho de conversas ao longe.
A construção mais conservada, no local, é a antiga Igreja da comunidade. Também há muitos resquícios, como paredes das casas dos padres, das oficinas, que eram o local de trabalho, e do colégio. Na quinta, uma espécie de pomar da aldeia, foram plantadas espécies que eram cultivadas no espaço durante o século 17.
Os índios, os padres, a guerra
A formação da comunidade aconteceu no contexto das missões jesuíticas, quando a ordem religiosa da Igreja Católica, Companhia de Jesus, da Espanha, resolveu enviar os seus religiosos para catequizar os indígenas que vivam na América. A comunidade de São Miguel Arcanjo foi fundada em 1687, como parte dos Sete Povos das Missões, que são as sete reduções criadas na região, na época, pelos jesuítas, no território que hoje é do estado do Rio Grande do Sul e que então era de domínio dos espanhóis. Os padres também tinham fundado comunidades no Paraguai, Argentina e Uruguai, também de domínio da Espanha, e resolveram passar para a outra margem do rio Uruguai.
A Redução de São Miguel funcionou por longos anos, misturando o modelo social dos guaranis com o dos jesuítas. Em 1750, porém, o Tratado de Madri fez uma revisão do Tratado de Tordesilhas e os governos de Portugal e Espanha redefiniram as suas posses de terra na região. Os Sete Povos das Missões ficaram com os portugueses e os indígenas teriam que passar para a outra margem do rio. Isso desencadeou uma revolta, chamada de Guerra Guarani, entre 1754 e 1756. Para conter os ânimos, Portugal e Espanha se uniram contra os índios. Nesta época ficou famoso um guerreiro bravo, que se destacou por sua liderança na luta, o cacique Sepé Tiaraju.
Um novo tratado fez tudo voltar a ser como era antes. Mas os jesuítas foram expulsos de suas missões e então, no começo do século 18, quando Portugal de novo assumiu a região, as comunidades das reduções já tinham se dissipado e espalhado para outras áreas.
Espetáculo de história
Nas ruínas de São Miguel todos os começos de noite um espetáculo com som e luz reconta e dramatiza essa história, com enfoque especial ao índio guerreiro. No sítio arqueológico também fica um museu, projetado pelo urbanista Lucio Costa, que projetou Brasília. Ele contém 120 imagens religiosas, de santos e anjos, entre outros, que foram talhadas pelos padres e índios – principalmente pelos índios – no século 17. A comunidade de índios era formada principalmente por guaranis. Atualmente índios da família Mbyá Guarani, uma das linhagens dos guaranis, vivem em São Miguel das Missões e vendem seu artesanato no sítio arqueológico.
Serviço:
Ruínas de São Miguel
São Miguel das Missões - RS
Informações: +55 (55) 3381 1300
Site: www.saomiguel-rs.com.br/Turismo