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Povoado colonial

Em Minas Gerais, um arraial de antigamente

Redação Bonde
22 jul 2009 às 14:23

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- Divulgação]
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Após 35 quilômetros pela Estrada Real, saindo de Diamantina em direção ao Serro, encontra-se uma placa de boas vindas ao viajante, anunciando a bucólica São Gonçalo do Rio das Pedras (MG). O antigo vilarejo é visto do alto de um monte, ao fundo, construído ao redor de uma igrejinha branca e azul – a Matriz de São Gonçalo, datada de 1787. Aos poucos, o povoado vai surgindo: a rua estreita de casarões antigos, um gramado aonde vacas dormem debaixo de uma paineira, meninos que assistem ao futebol de domingo na televisão do bar.

Aqui, a Minas de antigamente ainda existe. Tudo remete ao passado. Mulheres cozinham goiabada num enorme tacho de cobre, vinhos artesanais são produzidos numa birosca. A diversão dos homens é jogar sinuca e enrolar cigarrinho de palha. Já as mulheres gostam de tecer e fofocar. O carteiro só aparece às terças e sextas. O padre só faz a reza uma vez por mês. São Gonçalo parece cenário de presépio, um lugar aonde sua gente hospitaleira ainda encara os carros com o receio de uma novidade. O vilarejo de 1300 habitantes parece esquecido em algum lugar do passado, estático em sua tranqüilidade.

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A alguns metros da Igreja Matriz fica a pousada Refúgio dos Cinco Amigos, da suíça Anne Marie Kuhne. Radicada no Brasil desde 1971, ela pisou pela primeira vez em São Gonçalo em 1975, durante uma longa caminhada entre Diamantina e Conceição do Mato Dentro.

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Naquela época, Anne encontrou em São Gonçalo uma vila arrumada, mas sem luz elétrica e água encanada. Encantada com o lugar, ela abandonou o Rio de Janeiro, onde lecionava na escola alemã, e com toda as suas economias e dinheiro emprestado de familiares, comprou ali um casarão. Montou primeiro uma colônia de férias, que acabou se transformando, em 1984, numa rústica pousada.


É ela quem recebe seus hóspedes, dá dicas de turismo local, conta estórias e presta todos os serviços que mantêm a pousada sempre hospitaleira. Durante a semana, quando o movimento é menos intenso, Anne presta serviços comunitários, educando as crianças locais com aulas de flauta.

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A sugestão do nome da pousada veio de uma criança que, às vésperas do encerramento da colônia de férias, escutou uma estória de Anne sobre um esconderijo onde cinco amigos brincavam e se divertiam. Daí a sugestão do menino para o nome: Refúgio dos Cinco Amigos.


Em São Gonçalo do Rio das Pedras, além do aconchego de um antigo arraial, pode-se encontrar uma cooperativa de doces. Na Casa de Doces, senhoras preparam tachos de goiabada, marmelada, pessegada, doces em barra e em conserva. Quanto aos restaurantes "tradicionais", desses em que há cardápio, existe o Angu Duro, especializado em massas artesanais. Lá encontram-se deliciosos bolinhos de queijo que devem ser provados. Quanto aos demais "restaurantes", a opção dos clientes divide-se em aceitar ou não o que há para ser servido.

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O pomar de Lori


Uma estrada de terra batida, estreita e sinuosa, leva o viajante até a Pousada do Capão. Seu dono, Lorival Figueiró, o recebe com um sorriso. É ele quem guia o viajante através do jardim bem cuidado até o casarão principal. O aconchego do local e o bom gosto do proprietário convidam quem chega para dias extras de hospedagem.

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Lori, como prefere ser chamado, faz questão de fazer o hóspede se sentir em casa. Vai logo oferecendo um cálice de licor de cor âmbar. "Humm, banana, né?". Ao lado do casarão principal, todos os produtos feitos na pousadas estão à venda: doces de banana, abóbora com coco, mamão com rapadura, além de licores, cachaça e do artesanato do vilarejo de São Gonçalo do Rio das Pedras.


Criado em Diamantina, Lori tem a pousada desde 1998, quando a comprou de um amigo. Diz que "foi coisa do destino e, aí, não há como discutir". A Pousada do Capão está há pouco mais de mil metros da Igreja da Matriz, ponto central de São Gonçalo, num terreno amplo que inclui um pomar cercado por muro de pedras levantado pelos escravos. Por toda a pousada há quadros com citações de autores consagrados: Rubem Braga, Carlos Drummond de Andrade, Affonso Romano de Sant’Anna, Guimarães Rosa. A temática das frases é a comunhão do homem com a natureza, assim como a busca da plenitude entre tempo e espaço.

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Direto do Quintal


No fim da tarde, nota-se o aroma de pães sendo assados. No casarão principal, a mesa está posta com manteiga e queijo do Serro. Tuquinha, a cozinheira oficial da pousada, côa um café. É mais um aroma que se mistura ao dos pães recém saídos do forno. Na pousada de Lori, a diária é completa, inclui almoço, jantar, além de vários quitutes ao longo do dia. Mais tarde, quando o céu já está estrelado, Tuquinha coloca um caldo em cima do fogão à lenha. É o que há de melhor para esquentar a noite fria. Depois de uma fatia de pão, uma taça de vinho tinto, alguns doces caseiros, e mais um cálice de licor de banana, o sono vem com facilidade.

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No dia seguinte, depois do café da manhã com bolinhos de chuva, biscoitos, frutas colhidas no pé, e até um iogurte com granola caseira, Lori faz questão de acompanhar o hóspede num passeio por seu pomar. É dali que vem praticamente toda a matéria prima utilizada na pousada. Ele explica que não foi tão fácil fazer com que tudo crescesse na sua horta. "No ínicio não dava nada. Só depois de corrigirmos a acidez do solo com um produto alcalino, o cálcio, é que o pomar mostrou-se revigorado".


Lori passeia pelo pomar mostrando tudo: pés de goiaba, quiabo, abacaxi, laranja, mamão, tangerina, mandioca, jiló, maxixe, caju, etc, etc. Até que pára diante de uma árvore e apanha uma fava – o andu -, um feijão miúdo trazido da África, que dá em galhos de árvore. Colhe algumas favas e diz que irá pedir para Tuquinha prepará-las no almoço. Conta que há dois tipos de andu, o verde e o maduro. "O verde é ideal para farofa, basta cozinhar e refogar junto de torresmo, ovos, cebola e salsinha. Já o andu maduro, esse dever ser feito igual o feijão comum".


Lori, favas de andu apoiadas junto do corpo, volta a caminhar pelo pomar. Agora mostra a samambaia. "Essa cresce aos montes em solo ácido. Como essa parte do pomar não tem cálcio, aí está ela. A samambaia fica uma delícia se refogada e acompanhada de costelinha". Lori apanha um broto e mostra sua ponta. "Mineiro é tudo pão duro, né? Não?! Então é o quê? Ah sim, é munheca de samambaia. Taí o motivo da expressão", brinca Lori ao mostrar o formato de uma mão fechada na ponta da planta.


É hora do almoço. Tuquinha coloca várias panelas de pedra sobre o fogão à lenha. Não há como resistir: arroz, feijão, lagarto ao vinho, bolinhos de mandioca, folhas de mostarda refogada, e a prometida farofa de andu. Após a saborosa refeição, o pano que cobria os doces na mesa ao lado é retirado por Dirce, ajudante de Tuquinha. Depois da sobremesa e de um gole de café, o cochilo numa das redes estendidas nas varandas é bem vindo. Pronto, a sensação de plenitude mais uma vez está estabelecida.

Fonte: Brasil Sabor


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