Quando pensa no Brasil, em geral o turista estrangeiro lembra das famosas praias, como as do Rio de Janeiro. Mas o que dizer de mudar de ares e visitar alguns dos maiores cânions brasileiros? Uma paisagem de tirar o fôlego e um roteiro imperdível para os praticantes do canyonismo está no Sul do país, na divisa dos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Lá o visitante se depara com a mais extensa cadeia de cânions do Brasil. Na região entre o município gaúcho de Cambará do Sul e as cidades catarinenses Praia Grande e Jacinto Machado ficam dois dos destinos mais famosos protegidos em parques nacionais: Aparados da Serra e Serra Geral.
Quem vive em grandes áreas urbanas, prepare-se para ver uma paisagem grandiosa, com conjunto de campos, coxilhas tingidas de verde e dourado que parecem tocar o céu. No final dela, estão, imponentes, os cânions. O passeio pode começar nos campos na parte de cima da serra, em Cambará do Sul, chegando às bordas dos penhascos, com um banho refrescante em cursos d’água cristalinos pelo caminho. Outras opções são trilhas na zona baixa da serra, em Santa Catarina, onde estão a maior parte das cachoeiras e mais propícias para a prática de cascading, ou rappel dentro d’água, rafting e bóia-cross.
Cânyon Fortaleza: paisagem rochosa começou há 130 milhões de anos
Formados há cerca de 130 milhões de anos, os cânions do Sul do Brasil retratam a história geólogica da separação da América do Sul e África, antes unidos no que os cientistas chamam Gondwana. A pesquisadora Erika Collischonn, doutora em Geografia, que leciona na Universidade Federal de Pelotas, aproveitou o feriado prolongado de carnaval para passar uns dias na região. Ela explica que derrames de basalto (lava) e processos erosivos ao longo de milhões de anos deram origem aos cânions. São mais de 60 deles, os mais extensos chegam a 8,2 km de extensão e cerca de 1.000 metros de profundidade.
Cachoeiras estão espalhadas pela região
A umidade que vem do Atlântico e que encontra os gigantescos paredões, as profundas gargantas de pedra e os campos formam um ambiente rico em animais e plantas, integrando ecossistemas de campo, a Mata Nebular, a Mata Atlântica e a Floresta de Araucárias, como é chamado o pinheiro que predomina no Sul do país e está ameaçado de extinção. Nesta união peculiar de ambientes é possível encontrar diversas espécies de aves, como sabiás, gralhas, caturritas, corucacas, arapongas e aves de rapina, num dos melhores destinos para observação de aves. Também são avistados com freqüência quatis, tatus, graxains, veados e bugios.
Apaixonado por montanhas, o desenhista e fotógrafo Enio Frassetto perdeu a conta do número de vezes que percorreu e fotografou a região nos últimos 25 anos. "O que sempre me atrai aqui é a beleza cênica, os cânions escavados durante milhões de anos e a vegetação exuberante", enumera. Ele sugere aos turistas quatro locais para visitar na região. O primeiro deles, o Parque Nacional dos Aparados da Serra, com excelente infraestrutura e trilhas bem demarcadas, onde está protegido um dos mais conhecidos cânions, o Itaimbezinho, de 750 metros de profundidade e 5,8 km de extensão.
Cachoeirão dos Rodrigues tem várias trilhas
Ainda mais extenso e considerado o maior monumento dos Aparados da Serra, o cânion Fortaleza fica no Parque Nacional da Serra Geral. Frassetto recomenda ali o acompanhamento de guias uma vez que não há infraestrutura de orientação ao visitante. Dois outros roteiros imperdíveis são o Morro da Igreja, em Urubici, Santa Catarina, onde está o segundo ponto mais alto de Santa Catarina, a Pedra Furada, com 1822 metros de altitude; e o Cachoeirão dos Rodrigues, com 28 metros de altura e trilhas que levam a uma dezena de outras cachoeiras nas proximidades.
Pela importância paisagística e biológica, a região conta ainda com outras áreas protegidas das quais vale mencionar o Parque Estadual da Janela Furada, a Reserva Biológica do Aguaí e o Parque Nacional de São Joaquim. Mas os passeios se estendem fora dos parques. Grande porção dos cânions corta propriedades particulares, algumas transformadas em pousadas para atender ao crescente turismo.
Quando visitar
O melhor período para visitação vai depender da expectativa do visitante. Outono e primavera oferecem as temperaturas mais amenas e com menor oscilação. No verão, a temperatura pode variar de pouco mais de 10ºC pela manhã, passando dos 30ºC ao longo do dia e caindo novamente à noite. Este é o período de maior visitação, no entanto, com a desvantagem de estar mais sujeito à formação repentina de densa neblina e tempestades, o que é menos freqüente durante o outono e primavera. O inverno oferece a oportunidade de explorar outra face da região, já que ali são registradas as menores temperaturas do país. Ela chega a variar entre 10º e -8ºC. Com sorte o turista pode ver as cores originais da paisagem recobertas pelo branco das geadas e neve.
Pico de Monte Negro, em São José dos Ausentes
Há roteiros para todos os gostos e graus de dificuldade que vão de trilhas que levam aos vales, rios, cachoeiras, formações rochosas que parecem terem sido esculpidas à faca - por isso o nome aparados - até cavalgadas guiadas por nativos. Mas seja um visitante assíduo ou de primeira viagem, a oportunidade de sentar-se a beira de um desses despenhadeiros com uma paisagem a perder de vista, o vento fresco em sua face e os grandiosos paredões de rochas já é uma experiência sem dúvida fascinante.
Onde ficar
Em São José dos Ausentes/RS
Pousada Monte Negro
Telefone: +55 (54) 9978-2299
E-mail: fazendamontenegro@gmail.com
Site: www.visiteausentes.com.br
Cambará do Sul/RS
Pousada das Corucacas - Fazenda Baio Ruano
Dois quilômetros de Cambará do Sul, na saída para São José dos Ausentes/Ouro Verde, RS 020.
Telefones: +55 (54) 3251-1123 / 99567042 com Roberto ou Beatris
Site: www.corucacas.com
Urubici/SC
Pousada Serra Bela
Estrada Grão Pará, 1 Urubici – SC
Telefone: (55) (49) 3278-4666
Site: www.serrabela.com.br
Em Praia Grande/SC
Refúgio Ecológico Pedra Afiada
Estrada geral da Vila Rosa s/n - na saída do Cânion Malacara
Telefone: +55 (48) 35321059
Site: www.pedraafiada.com.br