Um complexo arquitetônico de 27 mil metros quadrados, 10 mil destinados a espaços expositivos, 350 obras de arte, 75 mil documentos de arquitetura, entre desenhos, fotografias e projetos, e 150 milhões de euros investidos em 12 anos. São os números do MAXXI, o Museu Nacional para a arte do Século XXI, projetado pela arquiteta iraquiana Zaha Hadid inaugurado nesta quinta-feira (27) em Roma. A partir deste domingo (30) o espaço será aberto ao público. O museu é o primeiro projeto de Zaha na Itália.
"O MAXXI foi concebido para ser um museu de encontro, vivo, e não somente entre arte e arquitetura, mas de integração. Integração entre música, dança, arte performativa (etc)", afirmou Zaha, durante coletiva de imprensa concedida a cerca de 600 jornalistas italianos e estrangeiros nas instalações do museu. A arquiteta disse ainda que sua paixão por Roma é antiga. "Eu tenho comigo até hoje uma foto de quando eu tinha 10 anos, tirada em frente à Fontana de Trevi. Foi quando visitei a Itália pela primeira vez. Roma ficou no meu coração e, com esse projeto, eu quis fazer uma homenagem à cidade", disse.
A história do MAXXI começou em meados dos anos 90, quando o governo federal e administração local decidiram que Roma precisava de um museu nacional para a arte contemporânea, assim como as grandes capitais da Europa: Paris, Londres e Berlim. Em 1998, foi decidido o local para abrigar o novo espaço, o bairro Flamínio. Nas imediações, no mesmo período, se erguia o Auditorium Parco della Musica, atualmente o maior complexo destinado à música no continente europeu, projetado por Renzo Piano.
Antiga área militar
O espaço escolhido era cheio de casas de pequeno porte que serviam de alojamento para soldados do Exército italiano e um desafio para a construção do novo museu. No ano seguinte, foi realizado um concurso para a escolha do projeto. Cerca de 250 arquitetos e estúdios de arquitetura de todo o mundo apresentaram suas propostas. O júri selecionou 15 semi-finalistas para, em seguida, anunciar o escritório de Zaha Hadid como vencedor. Segundo Pio Baldi, presidente da Fondazione MAXXI, foi a forma como Zaha integrou a construção ao bairro que fez o júri optar pelo seu projeto. O desenho curvo de Zaha não agredia o bairro, ao contrário, dialogava.
As obras começaram em 2003 e, segundo Zaha, foram muitas as dificuldades a serem superadas, desde o encolhimento e a readaptação do projeto, por conta de corte na verba, até as mudanças de interlocutores, devido às eleições municipais e federais. Concreto e vidro em grandes quantidades foram usadas no prédio, que privilegia a iluminação natural, criando alguma dificuldade para os artistas, ou ‘um desafio’, como disse Zaha. Para a cenografia, no entanto, Zaha foi generosa, o MAXXI não possui apenas salas expositivas, cada espaço, inclusive as paredes externas do museu podem abrigar mostras e intervenções artísticas.
A jibóia
O prédio da Zaha, diante da arquitetura da cidade, é discreto. Apesar de ser apelidado pelos romanos de jibóia, quem o observa de fora, não imagina a imensidão que vai encontrar dentro. É uma verdadeira caixa mágica, que surpreenderá o visitante com seus espaços fluídos, que, por vezes deságuam em ambientes amplos, abertos e, outras vezes, em salas menores, quase intimistas. É um museu para se perder e para se encontrar. Se encontrar com a arte contemporânea. E, em muitos casos, fazer as pazes com ela, como quando se entra na sala de exposição temporária 'Mesopotamian Dramaturgies', que traz oito obras em vídeo do artista turco Kutlug Ataman.
Em seu trabalho, Ataman trata da diversidade cultural e de questões tão na pauta da atualidade, como a problemática relação entre o Ocidente e o Oriente. Na obra 'English as a second language', por exemplo, o artista questiona a imposição do inglês para a criação do tal mundo globalizado. Na instalação, dois garotos turcos, um de frente para o outro, com o visitante no meio, lêem sem pausa um dificílimo texto de Shakespeare - difícil até para quem domina o idioma. Os dois não falam inglês e pronunciam as palavras com muita dificuldade.
Para a abertura do MAXXI, outras três mostras estão em cartaz: uma coletiva do artista italiano Gino De Dominicis, a exposição 'Spazio', que traz obras da coleção de arte e arquitetura do MAXXI e, por último, a mostra 'Dal razionalismo all'informale', de Luigi Moretti. Esta última faz parte da programação do MAXXI Arquitetura, outra inovação do museu, que opera nas duas linhas: arte e arquitetura, com duas diretorias independentes, mas que falam mesma língua.
Incompleto
Além das salas expositivas, o MAXXI conta com uma livraria, onde são vendidos os catálogos das mostras temporárias e também da coleção permanente do museu, um café e uma biblioteca, que será aberta ao público somente no segundo semestre. Na área externa, para a inauguração, foi montado um palco para apresentações musicais e performances. A intenção é que o espaço seja usado com freqüência, unindo música, arte e arquitetura. O museu trabalha ainda projetos didáticos direcionados, inicialmente, aos moradores do bairro, com o objetivo de aproximá-los do MAXXI, da arte contemporânea. Depois serão estendidos às escolas e grupos específicos, inclusive portadores de necessidades especiais.
Serviço:
MAXXI
Via Guido Reni 4 A, Roma, Itália
Site: www.fondazionemaxxi.it
Ingresso: 11 euros (inteiro), menores de 14 anos não pagam
Horário: de terça a domingo, das 11h às 19h, quinta-feira até 22h.
Fechado sempre às segundas-feiras e nos dias 25 de dezembro e primeiro de maio