Outro dia recebi um e-mail que, em tom de brincadeira, listava o que as mulheres mais procuram e o que menos desejam em um homem. E entre as especificações estava uma crítica ferrenha aos ‘metrossexuais’, denominação criada para especificar homens vaidosos e heterossexuais. Dizia, entre outras coisas, que músculos são bem-vindos, mas que a ala feminina não aceitaria dividir as prateleiras do banheiro com os creminhos do parceiro.
Por essas e outras, chego a acreditar que deve ser mais fácil ser feliz no mundo dos ditos animais irracionais. O pavão macho cuida bem de suas penas porque da beleza de sua cauda depende a conquista da parceira e, conseqüentemente, seu sucesso de dar continuidade à espécie. No mundo animal, a fêmea reconhece o trabalho do macho em cultivar a ‘estampa’. E, sim, o mais bonito tem mais chances, sem neuras nem censuras.
É claro que o ser humano é muito mais complexo. Mas, até por isso mesmo, era de se esperar que a preocupação do homem com a estética fosse recebida com mais compreensão. E principalmente encarada como um avanço na sua relação com a sociedade em que vivemos.
Ninguém consegue se manter saudável se não estiver feliz com a própria aparência. É através da imagem de si mesmo e da dos outros que o ser humano se relaciona. E neste contexto, a beleza é, sim, fonte de bem-estar e de qualidade de vida. Por que, então, negar isso ao homem?
Há séculos o homem vem lutando para ganhar o direito ao seu quinhão de vaidade. Na corte do rei Luiz XIV, na França, os homens usavam saltos, perucas com cachos, empoavam os rostos e usavam perfumes e rendas. Tudo para poder parecer mais bonitos e aceitáveis.
Mas esta como outras tentativas ao longo dos milênios também não teve sucesso. Logo, a ala mais rústica cortou estes hábitos, acusando-os de efeminados. Só sobraram os perfumes. No e-mail, água e sabonete são itens básicos, mas homem cheiroso ganha pontos extras.
Diante de tanto preconceito, fica fácil entender por que a maioria dos homens prefere omitir sua preocupação com a beleza. Nas pesquisas, a maioria admite, quando muito, a prática de esportes e academia com o objetivo de manter a saúde. Plástica de nariz, só se for por causa da adenóide. Outras intervenções continuam sendo proibidas até no confessionário.
No mundo virtual, o homem já conquistou o direito à vaidade. Tem a liberdade de não precisar conviver com olheiras, nem com a papadinha que costuma se avolumar com o avanço do tempo. Mas, na vida real, a beleza parece ter se tornado uma propriedade feminina. E o homem ainda vai ter de lutar muito, ser muito macho, para garantir o que já vemos no mundo virtual das propagandas e da tecnologia.
Márcio Dantas de Menezes, médico e presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Sexual