O útero da mulher adulta encontra-se habitualmente na pelve, em sua porção anterior, fletido sobre a bexiga em direção ao púbis. Portanto, sua posição é inclinada anteriormente em relação ao eixo da vagina e fletido sobre seu próprio eixo, chamado de útero em anteversoflexão. Esta posição varia com o grau de repleção (estado ou condição do que está repleto) da bexiga ou do reto. Em mais ou menos 15% das mulheres, o útero pode estar voltado para a região posterior do corpo, o que é chamado de útero retrovertido (virado para trás). Ademais, pode ainda encontrar-se em uma posição intermediária.
Qualquer uma destas apresentações é considerada normal e o diagnóstico de sua posição é feito durante o exame ginecológico ou por meio de ultra-som. Para exemplificar, podemos fazer uma comparação entre pessoas canhotas e destras, que, assim como a posição uterina, são consideradas normais.
O útero mantém-se sustentado por meio de ligações com estruturas vizinhas, mantendo-o na pelve, e evitando que seja empurrado por meio da vagina.
Há muitos anos, quando uma mulher não conseguia engravidar e tinha o útero retrovertido, acreditava-se que esta era a causa da esterilidade, realizando-se uma cirurgia para a correção.
Hoje esta posição clínica está superada. O útero retrovertido pode estar relacionado a uma maior incidência de endometriose, a qual geralmente é acompanhada de sintomas como dor pélvica crônica, dor na relação sexual, cólica menstrual intensa e até mesmo ocorrência de dor ao urinar e evacuar. O diagnóstico e tratamento são feitos por videolaparoscopia, retirando-se os focos de endometriose.
Portanto, o útero retrovertido não leva à dor na relação sexual nem a dificuldades na gravidez, a não ser quando existem outras causas associadas, tais como aderência, processo inflamatório crônico, tumores e endometriose.
Mitos e verdades
- Mito: o útero retrovertido não é normal e deve ser tratado
- Verdade: o útero retrovertido pode estar relacionado a uma maior possibilidade de endometriose
Marcelo Mendonça, ginecologista