O ser humano em sua essência carece de pertencer a algum grupo social. Este sentimento pode ser considerado o propulsor da resiliência, que é o recurso que o indivíduo possui para superar e sair mais fortalecido das adversidades.
É na infância (desde os primeiros dias) que esses sentimentos são introjetados e apreendidos, gerando significativa diferença na construção da subjetividade da criança. São nos momentos mais simples como amamentar, ler uma história, dar um banho, uma festinha de escola, pentear o cabelo que estes valores são passados para a criança. Nestes gestos, a pessoa inicia o conceito de pertencimento.
Pertencimento refere-se, do latim pertinere, conceito que se relaciona a como ser de responsabilidade de alguém, ser referente a algo, fazer parte de algo ou alguém. Esse sentimento é o que permite que o indivíduo experiencie e perceba seu lugar no mundo, a partir da realidade de seu grupo social.
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Na vida adulta, essa questão tem papel relevante. Quando se conhece este valor, se viveu isso de uma forma real, seja na família ou em outro lugar, a pessoa possui um porto seguro e se sente aceita pelas outras. Assim, quando mais velha, não se faz necessário buscar este pertencimento a qualquer custo.
Esta procura por ''ser'' de alguém gera no indivíduo uma fragilização, bem como uma sujeição ao outro: a pessoa pode ter dificuldades em dizer ''não'' e se subordina a situações difíceis para ser aceita e assim iniciam-se os conflitos externos.
Isso aparece nas dificuldades nos relacionamentos, nos empregos, no casamento, nas amizades. Um exemplo são aquelas pessoas que se envolvem em brigas de torcidas organizadas pelos clubes que torcem: entram em conflito pelo time, cujos jogadores nem o conhece. O que mobiliza neste individuo para produzir tamanha fúria? A necessidade pertencer a alguma coisa.
Outra forma de externalizar a falta do pertencimento se dá pelo ciúme, que produz situações inclusive relacionadas a homicídios com falas como ''se ela não é minha, não será mais de ninguém''. Isso significa que muitas vezes, pela ausência, busca-se o outro somente para si mesmo, como se fosse seu único amparo.
Deste modo, percebe o grande valor de se construir na família, na igreja, nos amigos, nos clubes, nos times, este vínculo especial de poder ser aceito como é e aceitar o outro. Compreender e aprender a fazer parte de um grupo sem a necessidade de sujeitar-se a situações difíceis, mas desfrutando dos ganhos e segurança de pertencer a algo.
Leda Maria Meda Caetano - psicóloga e terapeuta de família (Londrina)