Uma discussão antiga tem sido sexo x amor. Alguns apontam, com uma certitude, de que o casamento acaba com o sexo. Infelizmente, para alguns indivíduos, nossa cultura tem baseado os relacionamentos em uma procura mútua que produza emoções. Muitos crêem em ''amor à primeira vista'', e priorizam as possibilidades de relacionamento desde que exista uma emoção forte associada. E quanto mais forte, supostamente, é melhor. Mas será mesmo?
Quando um casal namora vive emoções fortes, a distância diária os priva de vivenciar o relacionamento. Distantes se prometem mil coisas, aumentam, diariamente, as emoções com estas promessas. Agem com o pensamento para produzir emoções a cada dia e sempre.
Ao se casarem, com o cotidiano, não precisam mais ''esperar'' para que ocorra o encontro. Encontrar-se é certeiro, diariamente, e a emoção pela espera deixa de existir. Essa emoção não estaria associada ao desejo de sexo, à necessidade de encontrar-se?
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Na vida cotidiana o casal passa a ter outras prioridades, que antes cumpriam individualmente. O encontro diário tem outras funções, que não produzem as emoções agradáveis ou fortes que viviam no namoro. E agora com menos emoções o sexo parece diminuir.
Em verdade a frequência sexual de casais que convivem é sempre maior do que dos casais separados fisicamente, assim mostram as pesquisas. Mas não é o que parece, não é o que é sentido pelo casal. Antes eles se encontravam aos sábados e faziam sexo, agora em casa continuam na mesma frequência. E os outros seis dias? Soa uma diminuição.
Também é verdade que quando não moravam juntos eles administravam suas rotinas de maneiras diferentes. Cada qual chegava à sua casa e tinha a própria rotina de administrar o cansaço, os preparos para o dia seguinte. Agora eles tem que se ajudar a fazer aquelas coisas e mais algumas que eram cobertas por pais ou empregadas.
E não percebem que isto que se chama rotina também existia e também impedia ao casal fazer sexo, só não estavam no mesmo ambiente.
Um elemento muito importante é a comunicação no casal. Se perguntamos a alguém se existe ''boa comunicação'' no casamento, a resposta certeira é: ''sim'' e todos achamos que estamos nos comunicando bastante porque nos falamos todos os dias.
Mas em verdade a comunicação efetiva dos afetos e de como os aspectos negativos e positivos ocorrem a cada dia não acontece de verdade. Falar de si mesmo, do que sente, demonstrar o quanto algo é importante ou triste, isso falta para a maioria dos casais que se prendem às tarefas domésticas e organizações do cotidiano.
Os casais se esquecem de refazer, periodicamente, os planos de vida, sonharem juntos, planejarem como estarão um ano depois, dez anos após. Estas comunicações são importantes e não são percebidas como meio que conduz ao sexo. Ou são e os casais não sabem como efetivar estas comunicações?
Assim é que namorados que se casam passam a ter dificuldades de comunicar desejo sexual e se sintonizarem e a cada semana postergarem a fome de amarem-se e produzirem a inibição do desejo sexual.
Oswaldo M. Rodrigues Junior - psicólogo e terapeuta sexual (São Paulo)