Em uma cena de um filme do Woody Allen, um casal aparece nos consultórios de seus psicanalistas. Eles procuram terapia. Ela o acusa de maníaco sexual, ele a chama de frígida. O psicanalista pergunta ao comediante com qual frequência ele tinha relações: ''Quase nunca, no máximo uma ou duas vezes por semana.''
No outro canto da tela o psicanalista da sua noiva faz a mesma pergunta e ela diz: ''O tempo todo, uma ou duas vezes por semana.''
É muito comum casos de discrepância de desejo, em que o de desejo mais intenso se sente carente e o de desejo menor se sente pressionado e sempre se escondendo. É uma constante dança de gato e rato em que um desempenha o papel de ''maníaco sexual'' e o outro de ''geladeira''.
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Esses descompassos nos impulsos sexuais devem ser discutidos demoradamente entre os casais e submetidos a terapia sexual, pois podem resultar em profundas rachaduras na estrutura do edifício conjugal e comprometimento grave da função sexual.
Quando o macho insiste nesta pressão, há uma carência de proximidade e uma certa inseguranca ocultas pelo machismo irracional. Interessante lembrar que quando conseguimos em terapia uma liberação sexual da esposa, aquela ''fome'' do macho desaparece em poucos dias, porque as carências são satisfeitas e ele desiste do status de ''máquina sexual'' e a paz se estabelece.
Os compulsivos são pessoas muito diferentes dos carentes descritos acima ou mesmo daqueles com desejo acentuado. São pessoas que estão em
constante estado de prontidão, são caçadores sempre à espreita de atividade sexual como se estivessem sempre insatisfeitos e famintos.
Frequentemente se arriscam só para obter alívio da tensão sexual: sexo oral com desconhecidas, coito sem camisinha, lugares públicos, dentro do carro durante o dia ou em estacionamentos.
Qualquer coisa por um orgasmo ''fast food'' e tolerância zero. Sao autênticos ''sexólatras'' com sintomas de abstinência muito semelhantes aos drogados e um estado de euforia e intenso prazer após o sexo que lembra muito o ''barato dos noiados''. Antes quealguém fique muito animadinho com estes aditos sexuais é bom lembrar que eles são muito mais chatos do que as mulheres em TPM, incomodam constantemente a parceira por mais sexo, acordam inquietos, eretos e agressivos no meio da madrugada e, muitas vezes, logo após a relação, continuam ansiosos por mais umazinhas.
Impressionante o caso de uma mulher que conseguiu separação devido ao cansaço extremo e incessante procura do marido que se estendia noite adentro com o uso do despertador. Favor não confundir estes dependentes de sexo com os felizardos premiados com um alto e explêndido apetite sexual, já que esta é uma outra conversa.
O tratamento é muito importante, porque o paciente está muito doente e colocando sua vida e a dos outros em risco. Muitas vezes, há necessidade de drogas para controle de ansiedade ou mesmo depressão. Esta disfunção sexual é uma porta aberta para o abuso sexual que, muitas vezes está associado a uma inaceitável violência que, infelizmente, só encontra punição no máximo em 5% das vezes.
Calvino Fernandes - sexólogo (Londrina)