De antemão, adianto! O título deste artigo sugere contrapontos marcados pelo tempo e pela vida em sociedade: de um lado, ''Na minha época...'' representando a senilidade, a história vivida, as experiências trazidas pela regras rígidas e normativas sociais que não devem ser negadas; de outro lado, a relação conflituosa entre pessoas de idades bem distintas, salientadas nos discursos ''libertários'' de uma juventude exposta cada vez mais a práticas violentas (produzidas também pela mídia) que desrespeitam o desenvolvimento global de crianças e adolescentes em todo o mundo. Continuando a análise do título, cabe uma nova indagação: por que não ''pais e filhos'' ao invés de ''jovens e cuidadores''? Muitas perguntas e apenas alguns apontamentos reflexivos.
O censo ainda não iniciado, possivelmente, revelará dados populacionais interessantes acerca das faixas etárias crescentes (o Brasil está ficando mais idoso); novas configurações familiares, entre elas, destacam-se as famílias monoparentais (chefiadas por um dos pais, geralmente a mãe), famílias onde os avós ou tios, ou ainda irmãos mais velhos são responsáveis pelos neto/sobrinhos/irmãos; entre outros. Também se buscaram referências em dados epidemiológicos alarmantes anunciados pelo Ministério da Saúde, que indicam a infecção de HIV por jovens entre 14 a 24 anos, sendo grande parte dessa população pertencente ao gênero feminino, que também aponta o aumento de casos de gravidez precoce e do aborto informal entre as jovens mulheres. O que fazer diante de graves estatísticas? O que dizer aos jovens de modo a levá-los a refletir um modo seguro de exercer sua erotização sem evidenciar uma interdição das expressões das sexualidades e dos afetos?
Os tempos mudaram, mas algumas questões pertinentes às sexualidades e aos afetos permaneceram acesas no imaginário e na busca de jovens desde décadas atrás. Hormônios em ebulição, modificação corporal, desejo, flertes, construção de identidade coletiva e individual, consumismo entre outros aspectos típicos da fase da adolescência, também estiveram presentes entre adultos que nasceram há décadas e hoje repetem a frase de seus avós na década de 1970: ''na minha época...''. O que se quer dizer é que, de fato, houve mudanças significativas nas estruturas sociais, e possivelmente, não são elas os fatores determinantes de uma cultura juvenil vulnerável às mazelas sociais. Se esses adultos se questionarem, verificarão que não expressavam suas sexualidades por medo e não por uma escolha reflexiva e que poderia se pensar uma proximidade no diálogo entre gerações, de maneira a se proporcionar uma cumplicidade e ajuda mútua em se pensar a vida, o que se foi, o que se é, e o que será.
Se hoje as pulseirinhas do sexo suscitam discussões escabrosas, há décadas se brincava de médico ou s.a.l.a.d.a (''se amam loucamente, amor de adolescente'', jogo erotizado que um(a) menino(a) escolhia com os olhos vendados um dos colegas da rua para beijar, abraçar, acariciar entre outras expressões). O problema consiste em duas meias verdades: 1 - nunca na história da humanidade foi tão acessível e disponível a comunicação facilitada por aparelhos eletrônicos como, por exemplo, telefonia, redes virtuais de relacionamento. 2 - nunca o ser humano demonstrou tanta falta de habilidade em se expressar, em se comunicar. De fato, a culpa não está somente do lado de fora dos lares, mas na ausência ou deficiência de diálogos convergentes, que aproximam as diferentes gerações. Pense nisso!
Márcio Alessandro Neman do Nascimento, professor de Psicologia da UEL.