Esta questão me remete a pensar em quem é bem resolvido frente à vida, pois a sexualidade faz parte do ser, sendo assim, não deve ser analisada como algo separado, à parte, e sim em conjunto com as outras instâncias que compõem uma pessoa.
Desde a concepção, a personalidade está sendo formada, recebendo influências da mãe mais diretamente, mas também de todas as outras pessoas que convivem e se relacionam com ela. Após o nascimento, o desenvolvimento psicossexual ocorre a partir da oralidade, passando por outras instâncias, libidinizando todo o corpo. Junto com este processo, a criança começa a formar seu aparelho psíquico e neste seu pré-consciente, aprendendo a linguagem, começando a devanear, fantasiar, criar, tendo suas experiências no ambiente, começando a conhecer seus limites e potencialidades.
A partir do primeiro ano de vida a criança já começa a conviver com a falta em si, pois descobre muito cedo que é um ser incompleto e que depende de uma outra pessoa para existir. Se começa a projetar no outro a possibilidade de se completar totalmente, será um eterno insatisfeito e infeliz, pois mais dia, menos dia, descobrirá que o outro não o completa como deseja e se frustrará, indo novamente em busca desta completude, voltando a se frustrar novamente.
A felicidade está em aprender a conviver com a incompletude, com a falta, com a imperfeição, pois esta é a condição humana. Ser sábio é ser feliz com o que se tem, não levantando grandes expectativas, pois estas geralmente produzem frustração. Também na sexualidade isto deve ocorrer. Precisamos saber que ela faz parte da vida e que devemos lidar com o desejo sexual com naturalidade associando sempre o amor, o carinho, a compreensão para com o outro que é objeto da nossa escolha. É sempre com o vento suave que mantemos acesa a chama e o aconchego, pois o vento impetuoso geralmente a apaga e nossa existência se torna inundada pela escuridão e pelo frio da solidão.
Mito: Bem resolvido sexualmente é o indivíduo sem nenhum limite nesta esfera corporal
Verdade: Devemos lidar com o desejo sexual com naturalidade associando sempre o amor, o carinho, a compreensão para com o outro, objeto de nossa escolha
Denise Hernandes Tinoco é doutora pela PUC/SP, docente em graduação e pós- graduação em Psicologia e psicoterapeuta