Esta questão me remete a pensar em quem é bem resolvido frente à vida, pois a sexualidade faz parte do ser, sendo assim, não deve ser analisada como algo separado, à parte, e sim em conjunto com as outras instâncias que compõem uma pessoa.
Desde a concepção, a personalidade está sendo formada, recebendo influências da mãe mais diretamente, mas também de todas as outras pessoas que convivem e se relacionam com ela. Após o nascimento, o desenvolvimento psicossexual ocorre a partir da oralidade, passando por outras instâncias, libidinizando todo o corpo. Junto com este processo, a criança começa a formar seu aparelho psíquico e neste seu pré-consciente, aprendendo a linguagem, começando a devanear, fantasiar, criar, tendo suas experiências no ambiente, começando a conhecer seus limites e potencialidades.
A partir do primeiro ano de vida a criança já começa a conviver com a falta em si, pois descobre muito cedo que é um ser incompleto e que depende de uma outra pessoa para existir. Se começa a projetar no outro a possibilidade de se completar totalmente, será um eterno insatisfeito e infeliz, pois mais dia, menos dia, descobrirá que o outro não o completa como deseja e se frustrará, indo novamente em busca desta completude, voltando a se frustrar novamente.
Leia mais:
Comportamento de risco aumentou infecções sexualmente transmissíveis
Programas focados em abstinência sexual não são eficazes, diz SBP
Evento em Londrina discute vida sexual em relacionamentos longos
Você sabia que colesterol alto pode levar à impotência?
A felicidade está em aprender a conviver com a incompletude, com a falta, com a imperfeição, pois esta é a condição humana. Ser sábio é ser feliz com o que se tem, não levantando grandes expectativas, pois estas geralmente produzem frustração. Também na sexualidade isto deve ocorrer. Precisamos saber que ela faz parte da vida e que devemos lidar com o desejo sexual com naturalidade associando sempre o amor, o carinho, a compreensão para com o outro que é objeto da nossa escolha. É sempre com o vento suave que mantemos acesa a chama e o aconchego, pois o vento impetuoso geralmente a apaga e nossa existência se torna inundada pela escuridão e pelo frio da solidão.
Mito: Bem resolvido sexualmente é o indivíduo sem nenhum limite nesta esfera corporal
Verdade: Devemos lidar com o desejo sexual com naturalidade associando sempre o amor, o carinho, a compreensão para com o outro, objeto de nossa escolha
Denise Hernandes Tinoco é doutora pela PUC/SP, docente em graduação e pós- graduação em Psicologia e psicoterapeuta