Não adianta, a insatisfação consigo mesmo, com o jeito de ser e de viver, é uma das características do ser humano. E se, por um lado, ela é responsável pelos avanços sociais, econômicos e tecnológicos, esta insatisfação também responde pela dificuldade que muitos enfrentam para aceitar a si mesmos, valorizar suas qualidades.
Provavelmente ser feliz e ficar satisfeito (de verdade) são os maiores desafios que o ser humano enfrenta durante a vida. E com as promessas, nem sempre verdadeiras, dos avanços da medicina plástica, os sonhos se transformam facilmente em angústia. Principalmente quando estes padrões de beleza parecem estar ao alcance da mão, expostos e sendo oferecidos nas vitrines, em programas de televisão e propagandas, o tempo todo.
Hoje em dia tudo parece possível no campo da medicina estética. Ontem a moda vendida era a de modelos com seios fartos, e milhares de mulheres aumentaram o número do sutiã. Hoje, o padrão mudou e estas mesmas mulheres correm aos consultórios para diminuir o volume dos seios.
E não pensem que o homem está conseguindo fugir do ''consumismo da imagem''. O público masculino que usa produtos para melhorar a aparência vem aumentando. E os homens também estão lotando as clínicas de estética e cirurgia plástica. E se para as mulheres vale tudo para deixar os seios e o bumbum turbinados, o homem investe na plástica dos genitais para corresponder aos padrões de virilidade.
Mudar a aparência, eliminando problemas que incomodam, fazendo a pessoa se sentir mais bonita é ótimo. Faz bem para a auto-estima e melhora a qualidade de vida. O grande risco está nos exageros incentivados pela oferta crescente de serviços e facilidades da ''compra da beleza''.
Nunca foi tão importante a escolha de um profissional sério e competente, capaz de ajudar o cliente a discernir entre o que é importante e o que é obsessão. Os médicos precisam estar atentos e não ter medo de orientar um paciente a procurar avaliações de uma equipe multidisciplinar, quando o pedido parecer exagerado.
É preciso que os profissionais que atuam na área estejam atentos aos sinais de dismorfofobia - descontentamento exacerbado com a própria imagem. Nestes casos, só a cirurgia não vai contentar a pessoa e a melhor orientação que se pode prestar ao paciente é ajudá-lo a recuperar a auto-estima, antes de promover a mudança física desejada por ele.
Márcio D. de Menezes, médico e presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Sexual