A letra de antiga música popular brasileira ‘Emília’ dizia: ‘Eu quero uma mulher que saiba lavar e cozinhar; e que de manhã cedo me acorde na hora de trabalhar’. Essa afirmação reflete muito do machismo cultural do povo brasileiro, que vê na relação conjugal a esposa como serviçal: Amélias e Emílias da vida.
Tal machismo remonta os primórdios da colonização pelo ‘civilizado’ homem europeu, que chega ao nosso continente, usa as nativas para a sua satisfação sexual egoísta e vai embora, não constituindo família e retornando para seu lar, que havia ficado sob os cuidados e administração de sua esposa.
O machismo histórico brasileiro cria duas fantasias a respeito da mulher: a serviçal, que deve ficar em casa e cuidar da administração do lar e da educação dos filhos, servindo ao marido em todos seus mimos quando este retorna para casa; e a sensual, fogosa, cheia de volúpia e pronta a dar o prazer sexual ao homem desejoso.
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Essas fantasias são, na mente masculina, irreconciliáveis e isso leva muitos homens a tratarem mal suas esposas e terem casos fora do casamento. Na realidade o que realmente o homem espera de sua esposa é uma mulher que o ajude na construção de sua autoestima.
A sociedade impõe, a cada dia que passa, uma performance cada vez maior ao homem, tanto em sua vida pessoal como profissional e isso faz com que esse homem sinta-se incapaz de atender todas as expectativas e demandas que se lhe impõe.
Sente-se fragilizado e necessita de alguém ao seu lado que o incentive e ajude nessa caminhada. Essa é a principal tarefa da esposa: auxiliar na construção da autoestima de seu marido e, em última instância é o que os maridos esperam de suas esposas.
Assim a esposa cumpre um papel que não pode ser cumprido por qualquer um, pois é necessário um nível alto de intimidade para aceitar a ajuda, ou mesmo para reconhecer que necessita ser alentado na construção de sua autoestima.
Lamentavelmente o machismo cultural não só leva o homem a bloquear sua percepção dessa necessidade, como a recusar qualquer tipo de auxílio de sua companheira para seguir adiante na valorização de si de forma saudável e positiva. Como consequência dessa negação, o homem se isola em seu ‘ninho televisivo’ ou afunda-se em compulsões (álcool, drogas, esportes etc) e relaciona-se com a esposa num padrão objetal (uso do outro) e eternamente insaciável - sempre insatisfatório - a não ser que a esposa vire ‘Amélia ou Emília’ - serviçal no lar - e aceite que o marido tenha suas musas/amantes fora do lar; mas aí será a esposa que terá que anular sua autoestima.
Reconhecer a necessidade do outro a estar aberto a ser ajudado é sem dúvida o melhor que o casal pode fazer na busca da realização conjugal. E essa é uma tarefa de construção contínua.
Carlos Tadeu Grzybowskii, psicólogo
(Curitiba)