Sexualidade

Novos termos tentam esconder frustrações da vida a dois

10 mai 2011 às 15:21

Depois de homens e mulheres terem conquistado a plena liberdade no que se refere às suas sexualidades, parece que se criou a lógica do quanto mais, melhor. Entretanto, essa lógica não foi suficiente para suprir uma demanda afetiva que continua insatisfeita, caótica e de onde saem experiências novas como o ficar.

Da proposta do relacionamento amoroso convencional às alternativas de ligações amorosas atuais observamos estender-se um terreno árido, onde as pessoas têm se distanciado cada vez mais umas das outras.


As tentativas de denominar uma relação amorosa parecem conter muito mais uma forma de oposição aos resultados indesejáveis do modelo tradicional do que uma efetiva possibilidade de mudança na qualidade dos envolvimentos. Amizade colorida, ficar, transar sem compromisso, entre outros termos, compõem um quadro de palavras que veiculam significados diferentes de modos de relacionamentos amorosos, calcados na maior liberdade de expressão da sexualidade, nos quais se busca estar junto, mas com liberdade de continuar, buscando e buscando.


Hoje grande parte dos que ''optam'' pelo modelo de casamento formal parece ter a necessidade de justificar, de forma que fique anunciado que, se não der certo, partem para outra ''numa boa''. Desta forma, ficam assegurados de que nada detém as buscas ao prazer e à felicidade.


A fantasia criada em torno dos desencontros que se enfrenta nesta atmosfera de modernidade pode ser a de que não encontremos alguém suficientemente capaz de nos entender. Qualquer eventualidade que se apresente ao casal, por pequena que seja, confirma e perpetua o estado de ''eternos claudicantes''.


Só que, mesmo abandonando, temporariamente ou não, um projeto amoroso, não descartamos sua importância, ainda que seja pela lástima de sua ausência ou pelas atividades que escolhemos para substituí-lo.


Precisamos de uma forma de expressão para os sentimentos que emergem dos nossos desejos e, na ausência ou na insatisfação do que possa nos atender, nos tornamos vulneráveis a qualquer imposição potencial que nos circunde.


Neste caso, a superficialidade desenvolvida como um artifício de proteção para escapar de um envolvimento, nos contatos amorosos atuais, pode criar uma odisséia com reveses inesperados nessa área, pela inconsistência emocional decorrente do desenvolvimento entre o que é aparentemente vivido e o que é efetivamente sentido.


Por um lado, tende-se a reverenciar os discursos apologéticos sobre a liberdade de explorar a diversidade e a transitoriedade dos relacionamentos, com a idéia de que se está tirando o melhor do que a vida pode oferecer. Por outro, tende-se a sentir que o melhor é sempre o que ainda não foi atingido, e, por conseguinte, quem está ao alcance é tido como insuficiente e pouco motivador para um aprofundamento amoroso.


Com essa postura, podemos estar nos aventurando em nossas experiências sentimentais baseados em premissas que nem sequer paramos para questionar como foram construídas, ou por que mantemos.

Margareth de Mello F. dos Reis - psicóloga e terapeuta sexual


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