Toda pessoa precisa gostar de si mesma, caso contrário não sobreviveria. Se não houvesse preocupação e cuidado consigo mesma, a pessoa sequer providenciaria os recursos mínimos para sua existência, tais como alimentação, sono e higiene.
O bebê sente-se o dono do mundo e acredita que todas as atenções devem ser voltadas para si mesmo. De certa forma é isso que ocorre, pois a mãe e/ou seus substitutos procuram satisfazer as necessidades da criança da melhor maneira possível. A tal ponto que por volta dos dois anos de idade sente-se o verdadeiro dono do mundo e precisa que os seus cuidadores mostrem que os demais também existem e, logo, nem sempre as coisas acontecem da maneira que deseja.
Nos primeiros anos da vida, o egocentrismo é natural e, inclusive benéfico. A criança consegue lutar e obter os cuidados que necessita, uma vez que ainda não consegue fazer as coisas com seus próprios recursos. O contato com o meio ambiente familiar e escolar promove situações onde a pessoa precisa dividir a atenção e os cuidados que recebe com os outros, tornando-se mais capaz de aguardar a satisfação dos desejos.
Por volta dos 6/7 anos o egocentrismo está bem menor a ponto de a criança ser capaz de analisar situações, independente de relacionar tudo consigo mesma, tanto em relação aos objetos como nas relações interpessoais. De forma tal que começa a compreender que suas ações podem provocar alterações no ambiente físico (estabelecendo relações sofisticadas de causa e efeito), bem como desencadear reações de alegria e também sofrimento às pessoas.
Podem ocorrer falhas no desenvolvimento emocional, levando a dificuldade em se colocar na ''pele do outro'', não ser capaz de perceber e se importar com a dor física ou psíquica provocada nos demais. Podemos encontrar pessoas que apresentam alguns traços do problema em questão sem que sejam capazes de causar maiores danos a si mesmos ou aos outros.
Os casos mais graves são manifestações de distúrbio de caráter que se manifesta como conduta anti-social, cujos sintomas incluem: indivíduos que mentem, corrompem, cometem delitos, transgridem as leis sociais, usam drogas, etc.
Quando se questiona se a pessoa que ''só se importa consigo mesma é capaz de imaginar que feriu alguém'', é necessário considerar a faixa etária, o grau de maturação e a os aspectos psicopatológicos envolvidos. Assim é possível perceber que a criança pequena ainda não apresenta a maturidade emocional necessária para perceber a proporção dos danos causados pelas suas ações em função do egocentrismo natural da infância. Embora algum grau de percepção e até de capacidade de sentir culpa já esteja presente a partir do final do primeiro ano de vida.
Por outro lado, no indivíduo adulto o egocentrismo é bem reduzido e o sentimento de culpa está presente. Se o adulto pratica ações que lesam de alguma forma a outra pessoa e não se sente culpado ou com necessidade de reparar o dano, estamos diante de situações patológicas. Tais casos estão relacionados a personalidades psicopáticas, que se caracterizam principalmente por três aspectos: impulsividade, repetitividade compulsiva e ações de natureza maligna, pelas quais não se sente responsável nem culpada.
Maria Elizabeth Barreto de Pinho Tavares - doutora em Psicologia