Nos primeiros meses de vida do bebê é a mãe quem lhe apresenta um mundo. As primeiras impressões vêm por meio da amamentação, dos cuidados, afeto e proteção. Mas suas necessidades vão muito além do que se supõe e é fundamental que a mãe esteja inteira, numa condição de sintonia fina e identificada com as necessidades físicas, afetivas e emocionais do seu bebê.
Para o bebê tudo é desconhecido e pode ser assustadora a experiência de como ele é tocado, alimentado, e olhado. No rosto da mãe, no seu olhar, estão impressos seus próprios sentimentos, emoções e expectativas para com seu bebê e com o mundo.
Neste lugar é que se impõe efetivamente a importância do pai nesta relação, oferecendo à mãe companheirismo, cumplicidade, liberdade e segurança emocional para cuidar desse bebê. Isso implica dedicação, generosidade, compreensão e desprendimento, pois nesse momento existem forças biológicas e psíquicas, impelindo essa mãe na direção do seu bebê; disso depende sua sobrevivência e desenvolvimento.
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Torna-se indispensável que o pai também esteja em sintonia com o mesmo objetivo e sentimento, já que as demandas são muitas, uma tensão (explícita ou não) se estabelece. Na ausência desta sintonia a tensão cresce como forças opostas às necessárias.
No caso dos pais estarem juntos, imagine a mãe, seu nível de ansiedade em cuidar bem de seu filho, garantir-lhe afeto, amamentação, higiene, saúde e ambiente adequado. O pai reclama-lhe atenções, queixa-se do abandono, de sua aparência e estética e/ou silenciosamente afasta-se, sob o pretexto de que cuidar do bebê é função da mãe. Somam-se a isso suas próprias angústias.
As exigências do momento com o bebê, atender às expectativas do parceiro e as suas próprias, pressões estas que podem deflagrar uma grande angústia de perda, de não conseguir se dividir nas atenções, ter seus vínculos afrouxados, e o desejo de se manter desejável ao seu parceiro. Situações que podem e afastam a mulher de sua maternidade plena.
São angústias e desejos que ela carrega. Se, ao contrário de todos os apelos e pressões culturais, o pai estiver voltado aos mesmos ideais, sintonizados no mesmo desejo (que é o filho), e às necessidades reais do momento, tudo pode se dar de forma mais tranquila. É importante contar com a sensibilidade de um companheiro, no momento em que a natureza lhe impõe transformações no corpo, que sua auto-estima pode estar comprometida.
Seus hormônios em ebulição, sua libido sexual enfraquecida, seios fartos e sua energia voltada à sobrevivência de sua prole. Como reagir a essas questões implica na disposição da mãe ao bebê. A função do pai ou seu representante, mediada pela mãe, é ampla e definitiva, pode possibilitar um campo seguro, de sustentação emocional e concreta, em que ela compõe sua maternidade, amplia suas potencialidades de sintonizar com o bebê e suas necessidades.
Experimentar nessa relação a medida exata da presença e da ausência, do amor à frustração, é indispensável ao desenvolvimento pleno e saudável, físico, intelectual e emocional do individuo.
Anaí Licia Couto - psicológa e psicanalista (São Paulo)