A cada 40 mil pessoas uma nasce menino e terá um problema que será muito difícil para os familiares e o mundo à volta compreender. Esta criança já é um transexual, uma pessoa que sente grande desconforto com o fato de ter um corpo incongruente com o que pensa de si mesma.
Estas pessoas nascem com uma percepção de terem nascido com um defeito físico, com um corpo errado que precisa ser consertado. Mas este não é um problema apenas para esta pessoa. Existe grande dificuldade para os profissionais de saúde atuarem neste campo.
A família não compreende e muitas vezes atua na direção contrária, tentando impedir que o filho se manifeste da forma que lhe soa conveniente. Desde as brincadeiras até as formas de se vestir contrariam o que os pais desejam para o filho.
Leia mais:
Comportamento de risco aumentou infecções sexualmente transmissíveis
Programas focados em abstinência sexual não são eficazes, diz SBP
Evento em Londrina discute vida sexual em relacionamentos longos
Você sabia que colesterol alto pode levar à impotência?
Muitas vezes a família prejulga, erradamente, que seus filhos são homossexuais. Isto apenas piora o quadro, pois confunde mais o (a) filho (a) que está tentando compreender o que lhe ocorre.
Algumas famílias buscam ajuda com psicólogos ou médicos, que desconhecendo a condição, fazem compreensões erradas da situação problema.
Tanto a criança quanto a família precisam de atenção especializada. Um tratamento psicológico para a família deve acontecer e será prolongado. Será muito difícil para uma mãe ou pai conseguir administrar esta situação sem se sentir culpado de um ''erro'' que deve ter produzido e estes sentimentos negativos atrapalham em muito o caminho que esta criança precisa seguir.
Mas como saber se uma pessoa tem mesmo a disforia de gênero, se é transexual? O método de tratamento é a forma de reconhecer a situação com segurança e auxiliar a pessoa às adaptações que lhe sejam cabíveis e necessárias.
Com o tratamento psicoterápico que seguirá esta pessoa por dois anos os comportamentos e atitudes necessárias acontecerão e a pessoa mesma sentirá a certeza do que precisa e pode fazer para melhorar a congruência com o gênero que vive emocionalmente.
Em paralelo à psicoterapia, um tratamento hormonal ocorre para adequação do corpo e das sensações que acontecem quando hormônios diferentes correm pelo corpo. Uma nova compreensão de mundo irá sendo estabelecida para que o corpo não sofra com as mudanças. O acompanhamento por um endocrinologista, mensalmente, será muito útil.
Também uma avaliação psiquiátrica será efetuada, pois é necessário descartar características psiquiátricas ou efetuar um tratamento destas características quando as encontramos. Adaptações com fonoaudiólogos precisam ser ponderadas e um tratamento para melhoria da voz também deve ocorrer.Então os procedimentos cirúrgicos podem começar.
E somente depois buscamos um advogado que promova o reconhecimento social com a mudança dos documentos e registros legais. As adaptações sociais de trabalho são extremamente importantes e geralmente não puderam ser desenvolvidas com os problemas gerados com o nome incongruente com o visual já existente nestas pessoas.
São muitas adaptações que estas pessoas precisam viver para deixarem uma identidade social inadequada e desenvolverem algo que não sabem como será, mas sonham que possam vir a ser.
Oswaldo M. Rodrigues Junior - psicólogo (São Paulo)