A aliança no dedo não é empecilho. Ser o(a) outro(a) na vida de alguém faz parte do cotidiano de muita gente. E você, o que tem a dizer? Um olhar mais sedutor e a fantasia transforma-se em beijos, cama, sombra. Casais com uma aliança no dedo. Corpos nus, risos, prazer, amantes. Para alguns, um encontro cheio de amor e felicidade, já para outros, um momento rápido e proibido, o medo de que a sensação de ''estar em segundo plano'' dure para sempre, até que um telefonema fora de hora ou uma visita surpresa volte a acender o desejo.
O que pensam os amantes, aqueles que estão em segundo plano na vida de alguém? O que os fascina na relação, essas pessoas que experimentaram e experimentam esse amor clandestino. Há casos como o de uma mulher que conta como começou a sua relação como amante: ''ele se aproximou aos poucos, com um convite para tomar café. Descobriu meu aniversário, os presentes começaram a aparecer. Deixei-me levar, e quando vi já estava presa nele. Tínhamos uma relação intensa, porque nos víamos pouco e queríamos curtir até não poder mais. Eu não ligava em ser a outra. Mas um dia o encanto acabou. Durou três anos e meio. Enfim, quando ele se mudou para minha casa, não durou um ano a relação''.
Os encontros escondidos, a adrenalina do perigo. Depois, o retorno ao cotidiano, e ficam as lembranças dos momentos proibidos. O que motiva uma pessoa a ser amante revela-se com seus sonhos e sua personalidade. Estes relacionamentos vivem de paixão, não de compromisso. São uma fuga às frustrações que a vida e o relacionamento formal provocam. O ser amante pode durar anos. Os amantes não sentem uma culpa que os paralisa, mas proximidade não apenas sexual. E é isso que faz com que cada encontro seja único e fascinante.
Para outros, o fato de ser amante gera dor e frustração. Algumas pessoas transformam-se em indivíduos tristes, com dores do abandono e solidão. O amante às vezes coloca-se numa posição desconhecida: a de manter o relacionamento do outro. A pessoa comprometida vê em seu amante o que não encontra em seu relacionamento oficial, criando um jogo de compensação. Quando o amante aceita esse estado, tudo vai bem. Mas quando quer exclusividade, o equilíbrio é rompido.
Atualmente, ser amante é mais fácil do que no passado. Amantes estão sempre disponíveis e na maior parte das vezes em que se encontram já planejaram ansiosamente a ''ida para a cama''. Na maioria das vezes a pessoa traída perdoa o traidor e se auto acusa da traição. Uma minoria se dá mal, é abandonada, acaba com morte ou vítima de vingança. O arrependimento é terapêutico e traz amadurecimento. Outras pessoas são irremediáveis, causam problemas no convívio grupal e fazem mal a si mesmas também, tornando-se eternas infelizes.
Hoje existe mais tolerância em relação ao assunto do que no passado. Vivemos numa época em que a fidelidade é mais afetiva do que sexual.
Eliane Marçal, psicóloga clínica e hipnoterapeuta