No atendimento a casais já há alguns anos, não tenho receio em afirmar que um dos maiores problemas que os trazem à terapia é a dificuldade de comunicação. E este obstáculo aparece em vários aspectos na vida do casal: na área financeira, educação dos filhos, tomada de decisões, área sexual. Como gosto de usar as metáforas em meu trabalho, aproveito um texto do escritor Rubem Alves para fazer pensar: como funcionam seus relacionamentos? Você tem jogado mais tênis ou frescobol?
Ele nos diz que há os casamentos do tipo tênis e os casamentos do tipo frescobol. Aqueles parecidos com um jogo de tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal. Os casamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa.
O tênis é um jogo feroz, seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador de tênis é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para este alvo que ele vai dirigir a sua cortada. O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo. Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolhas de sabão...
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Já o frescobol se parece muito com o tênis: são dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la e para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra. Aquele que errou pede desculpas, e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos.
Conversar é ficar batendo sonho pra lá, sonho pra cá. O sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que se é sonho, é coisa delicada, do coração. O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres. Bola vai, bola vem, cresce o amor... Ninguém ganha, para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim... Precisa dizer mais?
Mitos e verdades
- Mito: nas discussões, a última palavra é sempre do vencedor
- Verdade: nas discussões, aquele que pode ouvir mais, espera o momento oportuno para colocar a sua opinião, de forma que os dois saiam ganhando
Margareth Alves, psicóloga e terapeuta familiar