Sexualidade

Como as pessoas religiosas devem entender o amor?

04 jun 2010 às 19:16

As pessoas passam a vida buscando alguém que as complete. Projetam seus sonhos idealizados sobre o outro, apaixonam-se pelo sonho projetado e não pelo outro, pois muitas vezes nem o conhecem e o amor os cega. Mais cedo ou mais tarde, o sonho projetado se desfaz, o outro vem à tona e a coisa mais triste acontece. Descobre-se que o que se amou foi só uma projeção dos desejos idealizados. Mas como, enquanto houver vida há esperança de felicidade e completude, vai-se em busca novamente de alguém.

Elliot escreveu: ''Livre-me da dor do amor não satisfeito, e da dor maior do amor satisfeito...''. No amor não satisfeito existe uma esperança de felicidade; mas o amor satisfeito traz consigo a tristeza de compreender que não era bem aquela pessoa que amávamos. E todo amor é uma experiência do sagrado.


Se buscamos a completude no ato sexual, nos deparamos com o amor citado por Vinícius de Moraes: ''Que não seja eterno, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure''. Esta declaração de amor anuncia uma despedida.


Mas quem ama não aceita que seja assim. Quer perpetuar a chama. E a arte de perpetuar é ser engravidada pelo ouvido, como foi Maria, mãe de Jesus. Nós amamos quem preenche os vazios da nossa alma. E isso ocorre por meio da fala, por onde transmitimos nosso mundo interno.


Como somos imperfeitos, chegará o momento em que a fala, algo que deixa o amor mais constante, mostrará também nossas imperfeições. Por isso é preciso maturidade para aceitar o outro como este se apresenta, ou fecharemos a porta para esta relação, e não conseguindo viver a solidão que nos faz sentir fracos, incompletos, abrimos novamente a porta em busca..


Buscamos a perfeição onde a imperfeição prevalece. A perfeição só é encontrada em Deus.


Precisamos aprender por meio da Bíblia, em Coríntios 13, que o amor é o dom supremo e que temos que ser pacientes, benignos, deixar de lado os interesses, a soberba, saber esperar. Estes são conselhos dados a partir da sabedoria de quem sabe que amamos alguém imperfeito como nós mesmos e que conviver bem com a imperfeição do outro é prenúncio de felicidade.


Teremos que conviver com a falta, até que a vida seja extinta, e aí fechamos o ciclo da existência com a oração de Santo Agostinho em ''Confissões'': ''... Oh, Deus, tu nos criaste para ti mesmo e inquieto estará nosso coração até que descanse em ti.''

Denise Hernandes Tinoco, professora doutora em Psicologia Clínica e psicoterapeuta


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