Sexualidade

A aparência é tudo para os relacionamentos afetivos?

23 ago 2010 às 19:01

As cirurgias plásticas podem melhorar a auto-estima e há pesquisa mostrando a possibilidade de melhoras na saúde geral como no caso da depressão. O seu efeito é mais acentuado nas cirurgias corretivas como, por exemplo, nos casos de câncer de mama favorecendo o processo de recuperação das pacientes.

Cada vez mais homens têm buscado uma melhor auto-imagem através de recursos estéticos como lipoaspiração e implantes de cabelos para favorecimento da socialização. Mas, cuidado com a banalização dos tratamentos. Lembrando a frase do nosso querido colega Ivo Pitanguy: ''Qualquer pessoa com um ego mais bem estabelecido não procuraria a cirurgia plástica''.


Naturalmente, frases de efeito à parte, estamos vivendo a era da ''sociedade líquida'' com uma supervalorização da aparência onde modelos desfilam roupas e corpos descartáveis e consumíveis. A mídia determina em grande parte a cultura da beleza estereotipada para ser comercializada e consumida na roleta russa da sexualidade irresponsável e fútil.


Influenciados, por um tipo físico inatingível esteticamente perfeito, homens e mulheres consomem pneus, cosméticos, carros e até tabaco na esperança de identificação com os astros e estrelas da mídia. A mídia transformou os seres humanos em uma legião de fantasmas que vivem na sombra dos grandes ídolos.


Ser vaidoso, cuidar da saúde e da aparência faz parte de uma boa saúde mental e um envelhecimento equilibrado, mas o que estamos vendo é uma correria irracional e adolescente em busca da fonte da juventude como se as pequenas rugas, a barriguinha indiscreta pudessem nos tirar a alegria de estar vivos e o amor pelo nosso próximo.


A construção da sexualidade num primeiro e rápido encontro pode ser alicerçada em atributos de beleza, mas a seguir a complexidade e profundidade do relacionamento humano normal caminha pelas insondáveis e inebriantes estradas da intimidade. Esta sim é o grande segredo dos casais desejantes, estes felizardos que desfrutam gota a gota da suave e palpitante presença do ser amado.


Uma correção cirúrgica eventual pode colaborar com o prazer sexual, mas sempre de modo secundário pois o desejo, construído ao longo de anos bem vividos, em muito transcende as pequenas marcas inegáveis e indeléveis deixadas pelo tempo. Não se iludam. O grande afrodisíaco é o amor.

Calvino Coutinho Fernandes, terapeuta sexual e ginecologista


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