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Desafios da educação

Saúde mental dos alunos é principal preocupação na volta às aulas

Isabel Palhares - Folhapress
29 jan 2023 às 11:27

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- Pixabay
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Após dois anos de aulas presenciais interrompidas pela pandemia, a expectativa era de que o ano letivo de 2022 seria de retomada da normalidade das relações escolares. As escolas, no entanto, se depararam com uma situação inédita de dificuldade de convívio e esgotamento mental dos alunos. Por isso, a saúde mental é vista como principal preocupação nesta volta às aulas.


Além das consequências do isolamento da pandemia, as dificuldades de aprendizado acumuladas nesse período trouxeram para os alunos ansiedade, frustração e estresse. Para evitar a repetição desse quadro, as escolas se preparam para trabalhar melhor as questões emocionais.

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"O ano passado ainda foi muito atípico. Um ano em que vi muitos alunos com dificuldade na escola, o que gerou muito estresse e sofrimento. Eles chegaram ao fim do ano com dificuldade de serem aprovados, mudando de escola para passar de ano. E, isso traz um desdobramento importante para esse ano letivo", diz o psiquiatra Gustavo Estanislau, especialista em infância e juventude.

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Para ele, a frustração com os resultados escolares tende a acompanhar os alunos neste próximo ano letivo de 2023. Situação que é agravada, após a pandemia, quando muitas crianças e jovens perderam autonomia e segurança para lidar com os desafios comuns dessa fase.

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"A defasagem é uma realidade em todas as escolas e regiões do país, mas não adianta despejar conteúdo e pressão em cima dos alunos. É preciso flexibilizar as cobranças e desafios escolares para que eles ganhem confiança e possam avançar", diz.


O diretor de uma escola da zona sul de São Paulo, conhecida pelos bons resultados nos principais vestibulares do país, disse à Folha de S.Pailo, sob condição de anonimato, que os próprios professores pediram mais autonomia para administrar os conteúdos escolares por perceber que os alunos não estavam acompanhando.

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Segundo ele, os docentes seguiram as recomendações da escola de manter o ritmo de anos anteriores e perceberam que os alunos estavam ficando frustrados e desanimados por não acompanhar. Ele contou que, ao fim do ano, percebeu um número muito superior de jovens diagnosticados com depressão ou ansiedade.


O diretor avalia que nem todos os casos estão relacionados a problemas escolares, mas reconhece que a escola não pode ter uma postura que possa agravar esses quadros. Por isso, disse que o colégio vai oferecer mais atividades artísticas e esportivas e reforçou o número de psicólogos.

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A psicóloga Mara Rossi, que há 15 anos trabalha com adolescentes em fase pré-vestibular, conta ter recebido no fim de 2022 muitos casos de alunos com sintomas de burnout por conta das cobranças escolares e das atividades extras.


"São adolescentes que têm a agenda cheia, acordam e vão dormir com uma série de atividades: escola, reforço, curso de inglês, de redação, atividade física. Tudo vira uma cobrança. Não sobra espaço para o descanso e o lazer, que são necessários em todas as idades", diz.

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Para ela, não só as escolas devem ficar atentas com o excesso de cobrança, mas, principalmente, as famílias.


Luciene Tognetta, doutora em Psicologia Escolar pela USP, também destaca a importância das famílias se aproximarem e trabalharem em parceria com as escolas para promover um ambiente escolar mais saudável.

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Para ela, a pressão em cima das escolas por resultados educacionais muitas vezes vem de uma cobrança dos pais em oferecer o melhor ensino para os filhos. No entanto, ela diz que é preciso olhar para a educação de uma maneira mais ampla.


"Bons resultados não são só aqueles que levam um jovem a uma universidade de renome. Bons resultados educacionais são aqueles que formam pessoas saudáveis, que vão saber conviver em sociedade. As famílias também precisam valorizar isso."

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Para os especialista, é fundamental que as escolas encontrem espaços e horários para trabalhar questões socioemocionais e para que os alunos possam relaxar. Eles reconhecem, no entanto, que esse é um desafio já que os colégios são cada vez mais cobrados a oferecer mais conteúdos e disciplinas.

A lei do novo ensino médio, por exemplo, prevê o aumento de 25% do tempo de aula em todo o país.


"São políticas muito bem-vindas, mas estão sendo implementadas de forma equivocada. Na prática, elas estão seguindo o caminho inverso do que fazem países desenvolvidos. Elas retiram os espaços de convivência para colocar mais conteúdo. Isso não vai se refletir em melhor desempenho, mas em mais estresse e falta de interesse com a escola", avalia Tognetta.

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