Hábitos irregulares como jantar tarde ou não tomar o café da manhã podem aumentar o risco de óbito em pacientes acometidos com infarto agudo com supradesnivelamento. Isso é o que diz estudo publicado em 18 de abril, na European Journal of Preventive Cardiology, uma revista científica da ESC (Sociedade Europeia de Cardiologia).
A pesquisa, realizada pelo médico Guilherme Neif Vieira Musse, da Faculdade de Medicina da Unesp (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho), descobriu que pessoas vítimas de infarto agudo e que adotavam hábitos alimentares irregulares tinham uma probabilidade de quatro a cinco vezes maior de morrer e de ter outro ataque cardíaco ou angina (dor no peito), durante a internação e 30 dias após a alta hospitalar.
No universo de pacientes que morreram, 58% não tomavam o café da manhã, 51% jantavam tarde e 41% adotavam os dois hábitos combinados. O estudo incluiu 113 pacientes com idade média de 60 anos, sendo 73% deles homens. Os pacientes foram questionados sobre os comportamentos alimentares na admissão em uma unidade de terapia intensiva coronariana.
O café da manhã foi definido como nada antes do almoço, excluindo bebidas, como café e água, pelo menos três vezes por semana. O jantar tardio foi definido como uma refeição, realizada duas horas antes de dormir, pelo menos três vezes por semana.
O médico Guilherme Neif explica que esse estudo foi o primeiro a analisar tais hábitos alimentares em pacientes acometidos por infarto agudo. "Precisamos que novos estudos, de preferência ensaios clínicos randomizados e cegos, reforcem a hipótese, porém, a mesma já foi levantada abrindo novas portas para pesquisas futuras", garantiu.
O médico ainda ressalta e alerta: "Hábitos alimentares irregulares geralmente estão associados aos hábitos de vida ruins, como por exemplo, acordar tarde ou mesmo comer em excesso no jantar e fora de hora. É uma questão até comportamental que influencia no pior prognóstico para esses pacientes. O mais indicado é evitar açúcar, produtos industrializados em geral e adotar a chamada "dieta do mediterrâneo", que é crucial na proteção contra doenças cardiovasculares", explica.
Marcos Ferreira Minicucci, professor-assistente da Disciplina de Clínica Médica Geral da Unesp e orientador da pesquisa, ainda chama a atenção para outros possíveis fatores que possam explicar a associação da dieta irregular e do óbito de pacientes infartados. "Também achamos que a resposta inflamatória, o estresse oxidativo e a função endotelial podem estar envolvidos na associação entre comportamentos alimentares pouco saudáveis e desfechos cardiovasculares", acrescentou.
"Pela primeira vez trazemos um estudo que levanta a hipótese de que não só a qualidade da dieta influi na ocorrência de doenças cardiovasculares, mas, sobretudo, o horário dessas refeições. Espero que a pesquisa possa contribuir na diminuição dos casos de óbito por infarto, que, no Brasil, já chegam a 85,9 mil, segundo dados do Ministério da Saúde de 2017", pondera.