O Ministério da Saúde vai incluir no calendário vacinal contra o HPV (papilomavírus humano) pessoas usuárias de PrEP (profilaxia pré-exposição) contra o HIV de 15 a 45 anos.
Com a mudança no esquema da vacina contra o HPV para dose única, anunciado em abril, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, disse nesta quarta-feira (3) em sua conta no X (ex-Twitter) que será possível aumentar a adesão e ampliar a cobertura vacinal para outros grupos. "Esse é mais um importante recurso para prevenir essa infecção sexualmente transmissível e cânceres associados a ela", disse Trindade.
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No Brasil, a medida permitiu incluir no público elegível os adolescentes de até 19 anos e pessoas com papilomatose respiratória recorrente (tumor benigno causado pelo vírus HPV que pode acometer crianças ou adultos), independentemente da idade.
Até então, crianças e adolescentes de 9 a 14 anos e vítimas de violência sexual de 9 a 45 anos recebem duas doses da vacina contra o HPV. Para pessoas de 9 a 45 anos vivendo com HIV/Aids, transplantados e pacientes oncológicos -grupos com maior risco de desenvolver complicações- são três.
A nova recomendação feita pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e Opas (Organização Pan-Americana de Saúde) é que crianças e adolescentes até 19 anos sem imunossupressão sejam vacinados com uma dose única. Quem já tomou a primeira dose anteriormente não precisa se vacinar com a segunda. Para os demais grupos, não haverá mudanças.
"Havia uma recomendação da Organização Mundial da Saúde, da Organização Pan-Americana da Saúde, no sentido de disponibilizar mais doses, especialmente para países com dificuldade de compra de vacina. Se você muda o esquema de duas para uma dose, vacina o dobro de pessoas. Pode incluir meninos naqueles países que o sexo masculino ainda não foi incluído, ampliar o grupo de vacinados", afirma Renato Kfouri, vice-presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações).
Com a medida, o Brasil se junta a 37 países que já adotaram o esquema de dose única, seguindo recomendações internacionais e buscando resultados positivos na proteção da população contra o vírus HPV.
Nos últimos dez anos, diversas pesquisas mostram evidências robustas de que uma dose da vacina contra o HPV pode fornecer proteção igual a duas ou três doses (a depender da idade), em áreas com altas coberturas vacinais.
Há estudos que reúnem resultados positivos na literatura sobre os efeitos da dose única nos programas de vacinação. Um deles, do Quênia, mostra que uma dose da vacina contra o papilomavírus humano é altamente eficaz para evitar infecções durante três anos, reduzindo as taxas de câncer do colo do útero e outras doenças ligadas ao vírus.
Na Índia e na Costa Rica, dois estudos mostram que a proteção contra infecções por HPV após a administração de uma dose é semelhante a duas ou três doses e dura pelo menos dez anos após a vacinação.
"Os dados de resposta imune, de proteção, vem se acumulando nos últimos anos, mostrando que pessoas vacinadas com uma, com duas ou com três doses, não têm tanta diferença no resultado, especialmente para o câncer de colo de útero, o principal desfecho a ser prevenido", explica o especialista.
Segundo o Ministério da Saúde, a cobertura vacinal nas meninas com a primeira dose contra o HPV não atingiu 76%; para a segunda ficou abaixo de 60%. Em relação aos meninos, 42% receberam a primeira dose e 27% a segunda.
O HPV é associado aos cânceres de colo do útero, de pênis, vulva, canal anal e orofaringe, além das verrugas genitais.
De acordo com o Inca (Instituto Nacional do Câncer), no Brasil, excluídos os tumores de pele não melanoma, o câncer do colo do útero é o terceiro tipo mais incidente entre mulheres e a quarta causa de morte. Para cada ano de 2024 e 2025, foram estimados 17.010 casos novos, o que representa uma taxa bruta de incidência de 15,38 casos a cada 100 mil mulheres.
No SUS, a vacina ofertada é a quadrivalente, que protege contra infecções persistentes e lesões pré-cancerígenas causadas pelos tipos de HPV 6,11,16,18.
O imunizante é produzido pelo Instituto Butantan. De acordo com o Ministério da Saúde, a distribuição é mensal, conforme a demanda dos estados e do Distrito Federal, e do estoque disponível.
O paciente é imunizado uma vez na vida, ou seja, sem a necessidade de repetir o esquema no ano seguinte.
Segundo o Ministério da Saúde, os envios são operacionalizados de acordo com o estoque disponível e a população-alvo de cada estado.
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