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Por que ultraprocessados podem acelerar o declínio cognitivo, segundo estudos

Lucas Monteiro - Folhapress
03 jul 2023 às 11:30

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- Nicholas Cadwallader/Pixabay
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Estudos recentes apontam que os alimentos ultraprocessados podem ser motores para demência e declínio cognitivo. Eles são reconhecidos por terem forte relação com outras doenças, como obesidade, diabetes e até câncer.


Trabalho realizado por cientistas da USP (Universidade de São Paulo), UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e UFBA (Universidade Federal da Bahia) mostrou que a queda cognitiva foi 28% maior entre os participantes que consumiram mais de 20% das calorias diárias derivadas de ultraprocessados. Isso equivale, por exemplo, a comer três pães de forma todos os dias com base em uma dieta de 2.000 kcal.

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O levantamento analisa dados do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto, realizado desde 2008 por universidades que acompanham a saúde de cerca de 15 mil pessoas.

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Claudia Suemoto, professora associada da Disciplina de Geriatria da Faculdade de Medicina da USP e integrante da Academia Brasileira de Neurologia, indica que os resultados do estudo são um indicativo uma vez que ainda precisam de novas confirmações.

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"Nosso estudo sugere a aceleração das funções cognitivas, desencadeadas por pequenos derrames. Existe essa chance, mas ainda são necessários novos estudos", pontua.


O trabalho, publicado no períodico científico Jama, foi apresentado no congresso Brain Behavior and Emotions, que reuniu especialistas em neurociência em Florianópolis (SC), entre os dias 7 e 10 de junho.

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O declínio cognitivo é caracterizado pela incapacidade de realizar atividades simples do dia a dia, como lembrar datas, fazer cálculos, planejar e executar alguma tarefa.


Renata Levy, pesquisadora do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdadede Medicina da USP e do Nupens (Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da USP), afirma que os mecanismos que fazem os ultraprocessados terem esse impacto ainda não estão claros.

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"Já há evidências contundentes de que esses alimentos estão associados ao desenvolvimento de obesidade, hipertensão, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e depressão", diz ela, que também é coautora do trabalho.


"Essas condições são fatores de risco conhecidos para demência. Os ultraprocessados também podem afetar as funções cerebrais e a saúde cognitiva por meio da exposição a aditivos alimentares, contaminantes."

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Outro estudo, também desenvolvido por pesquisadores da USP, apontou que uma dieta rica em alimentos ultraprocessados pode acelerar em quase 30% o declínio cognitivo, além dos riscos cardiovasculares e de obesidade.


O trabalho analisou dados de 10.775 brasileiros entre 35 e 74 anos durante 10 anos.

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Já uma pesquisa feita com mais de 10 mil adultos nos Estados Unidos mostrou que, quanto mais alimentos ultraprocessados os participantes ingeriam, maior a probabilidade de relatarem depressão leve ou sentimentos de ansiedade.


"Houve um aumento significativo de dias mentalmente insalubres para aqueles que ingeriram 60% ou mais de suas calorias de ultraprocessados", diz Eric Hecht, autor do trabalho.

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Diferente dos alimentos chamados "in natura" - folhas, frutas, verduras, legumes, ovos, carnes e peixes—, os ultraprocessados apresentam maiores índices glicêmicos, mais gorduras trans e sódio, sendo também mais pobres em fibras e micronutrientes.


NÃO HÁ CONSENSO SOBRE DEFINIÇÃO


Alguns especialistas discordam da definição de ultraprocessados. É o caso de Mario Marostica Junior, professor do Departamento de Ciência de Alimentos e Nutrição da Unicamp (Universidade de Campinas). Para ele, o conceito estabelecido pelo "Guia alimentar para a população brasileira", do Ministério da Saúde, pode gerar dúvidas.


"O efeito dos alimentos na saúde está relacionado a sua qualidade nutricional. Temos alimentos produzidos a partir de ingredientes ditos como ultraprocessados que possuem excelente qualidade nutricional. Por exemplo, fórmulas infantis", afirma.


O professor pontua que o impacto deste tipo de alimento na saúde depende da qualidade nutricional dos produtos. "A OMS [Organização Mundial da Saúde] aponta a alimentação como um dos fatores, mas não o único, relacionado a doenças crônicas não transmissíveis, como Alzheimer e declínio cognitivo. A obesidade é um deles, sendo originada pela ingestão de quantidade de energia superior ao gasto."


"Desta forma, alimentos que possuem alta densidade energética, independentemente do processamento, podem aumentar a chance do desenvolvimento de obesidade e suas doenças correlatas, sendo o declínio cognitivo uma das possíveis consequências", diz.


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