Brenda Teixeira, 29, descobriu uma nova gestação mesmo após ter feito o procedimento de laqueadura após falha no DIU (dispositivo intrauterino) que colocou antes do nascimento de sua terceira filha.
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"Foi um susto enorme, não vou negar. Fiquei perdida e assustada por dias. Cheguei a passar três horas chorando de medo e desespero. Sabemos que há risco de falhas, mas quando isso acontece conosco, é diferente", disse em entrevista à Folha de S.Paulo.
Ela optou pela laqueadura após a falha do DIU, durante o parto por cesariana de sua terceira filha, nascida em 2023. Atualmente, está grávida de 10 semanas do quarto filho. Os outros têm sete, quatro e dois anos.
"Tínhamos muita confiança na laqueadura, e meu marido acompanhou tudo de perto. Como já tínhamos passado pelo susto da gravidez mesmo com o DIU, seis meses após a colocação do dispositivo, nunca imaginamos vivenciar isso novamente", afirma.
O DIU é altamente eficaz como método contraceptivo, com uma taxa de falha geralmente entre 0,5% e 0,6%, de acordo com Helga Marquesini, ginecologista e sexóloga do Núcleo de Medicina Sexual do Hospital Sírio-Libanês. Isso se deve aos diferentes mecanismos que o dispositivo pode ter.
Falhas no DIU podem acontecer se ele estiver mal posicionado ou for usado por mais tempo do que o recomendado (geralmente de cinco a 10 anos). A expulsão não detectada do dispositivo, infecções ou anomalias anatômicas do útero também são possíveis causas, explica Maurício Abrão, coordenador de ginecologia do Hospital Beneficiência Portuguesa de São Paulo (BP - São Paulo).
Já a laqueadura é realizada para evitar a fertilização, cortando ou bloqueando as trompas uterinas. No entanto, pode haver falhas se ocorrer a formação espontânea de canais das tubas (geralmente em meses ou anos) ou uma fístula entre a tuba e o peritônio, permitindo o encontro do óvulo e do espermatozóide.
Essas situações são raras, mas possíveis. A taxa de falha da laqueadura é semelhante à dos DIUs e pode ocorrer imediatamente após o procedimento ou anos depois (10 a 20 anos).
O vendedor Lucas Lopes, 29, também ficou surpreso com a gravidez da mulher e preocupado com a dinâmica familiar e financeira com os quatro filhos. Após as falhas do DIU e da laqueadura, o casal está considerando uma vasectomia.
"Meu marido ficou três dias sem comer e dormir direito, e estamos considerando juntos quais seriam as melhores opções [contraceptivas] para nós. Minha gestação está tranquila, apesar dos enjoos. Acredito que o maior desafio seja emocional", conta.
Teixeira afirma ter precisado de terapia para aceitar as gestações não planejadas. "Passei por um período de depressão e ansiedade. Meu DIU estava mal posicionado e perfurou meu ovário direito, causando dores durante toda a gravidez e medo pelo que poderia acontecer comigo e com a bebê. A terapia foi fundamental para entender o que estou passando", diz.
Ana Paula Beck, ginecologista e obstetra do Hospital Israelita Albert Einstein reforça a importância da revisão regular do DIU para evitar as falhas. "A inserção do DIU pode aumentar o fluxo menstrual, o que pode facilitar seu deslocamento e a paciente não identificar. Após a inserção, é essencial que a paciente faça revisões periódicas com um ginecologista para manter a eficácia contraceptiva abaixo de 1%", diz.
Para minimizar os riscos de gravidez após o uso desses métodos contraceptivos, é importante estar atenta para a sintomas como dores e sangramentos anormais que possam indicar uma possível expulsão do DIU. No caso da laqueadura, é fundamental discutir com o médico sobre a técnica utilizada e esclarecer dúvidas.
De acordo com os especialistas, após a inserção do DIU ou procedimento de laqueadura é importante observar sintomas comuns de gravidez, como atraso menstrual, náuseas, vômitos, fadiga, aumento das mamas, aumento da frequência urinária entre outros. Caso os sintomas persistam e o teste de gravidez for negativo, deve-se buscar outras causas.
"Mulheres que usam DIU ou fizeram a laqueadura e suspeitam de gravidez devem fazer um teste de gravidez, até mesmo os de farmácia, e procurar imediatamente um médico para orientação", diz Abrão, da BP - São Paulo. "Isso porque, se engravidarem devido a falhas, há um maior risco de gravidez ectópica, ou seja, uma gestação fora do útero."