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Emílio Ribas

Mais da metade dos internados em UTI do Emílio Ribas têm menos de 60 anos, diz diretor

Cláudia Collucci - Folhapress
30 abr 2020 às 08:28

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- Reprodução/Pixabay
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Primeiro hospital de São Paulo a ter 100% da UTI ocupada com pacientes de Covid-19, o Instituto de Infectologia Emílio Ribas tem mais da metade dos seus leitos de terapia intensiva ocupados por pessoas com menos de 60 anos.

Na maioria, hipertensos, diabéticos e obesos. "São, principalmente, homens que não cuidam da saúde", afirma o infectologista Luiz Carlos Pereira Júnior, 59, diretor técnico da unidade.

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O instituto coloca em funcionamento nesta sexta (1°) os últimos dez leitos de um total de 38 contratados emergencialmente para o enfrentamento da pandemia. Agora, tem ao todo 50 leitos.

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Isso não vai mudar os atuais níveis da taxa de ocupação. "Assim que um leito é liberado por alta ou por óbito, a central de regulação já autoriza a vinda de alguém que está aguardando uma vaga", diz ele.

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Para Pereira Júnior, a pandemia tem mostrado o valor do sistema público de saúde. "É nessa hora que a gente vê como o SUS se agiganta. É uma força de trabalho que não dá as costas. Apesar de medos e de receios, ninguém abandona os seus postos."


Pergunta - O Emílio Ribas foi o primeiro a ter ocupação de 100% dos leitos de UTI. Como está situação agora?

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Luiz Carlos Pereira Júnior - Na sexta-feira (1º), vamos abrir mais dez leitos, completando um total de 50 leitos. Nós tínhamos 12 leitos de UTI e, por conta da pandemia, contratamos 38 leitos a mais. Estão incluídos equipamentos e 170 profissionais.


Embora a contratação seja emergencial, a terapia intensiva é da instituição, os protocolos assistenciais são nossos. A nossa taxa de ocupação continua girando em torno de 100%. Assim que um leito é liberado por alta ou por óbito, a central de regulação já autoriza a vinda de alguém que está aguardando.

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O serviço é referência em doenças infecciosas, como HIV. Como fica o atendimento desses pacientes no momento em que a Covid-19 é prioridade?


LCPJ - Em um mês, o hospital se transformou. Nossos últimos pacientes soropositivos vão para o Hospital Heliópolis na semana que vem. As 42 unidades da administração direta do estado se mobilizaram para concentrar serviços por vocação, para dar espaço para que 11 unidades ficassem com os casos de Covid-19.

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Hospitais oncológicos concentraram os casos oncológicos de outros hospitais gerais. Maternidades, a mesma coisa. Trauma e cirurgia, idem. Os serviços começaram a apoiar uns aos outros.


E a reação dos pacientes aos serem transferidos?

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LCPJ - Existe uma compreensão, eles entendem esse momento. Os nossos pacientes soropositivos estão indo para Heliópolis sem resistência, a família compreende. É um momento de ajuda mútua, tanto dos serviços entre si quanto dos próprios pacientes.


O PS do hospital, que era porta aberta, desde segunda (27) só atende casos referenciados. Qual o impacto?

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LCPJ - Ainda é pequeno. As pessoas têm no imaginário que o Emílio Ribas é referência. Então vêm para cá, a gente explica e elas entendem. Obviamente que se o paciente está sintomático, ele será triado, atendido. A gente vai reorientar os pacientes que estão bem a procurar o serviço de saúde perto de casa.


Centenária, a instituição já passou por várias crises sanitárias. A pandemia de coronavírus é a pior?


LCPJ - Soube por pessoas que estavam aqui à época que a epidemia de meningite, na década de 1970, foi muito impactante. No fim dos anos 1980 e início dos anos 1990, tivemos o HIV-Aids. Eu já estava aqui. Era um desafio sem tamanho por alguns anos.


Havia dezenas de pacientes nos corredores. Foi muito traumatizante. Mas a evolução dos casos de HIV-Aids teve um ritmo diferente do da Covid.


O coronavírus chega com um espectro muito amplo de apresentações clínicas e traz consigo ainda muitas dúvidas. A gente não consegue definir, por exemplo, exatamente o nível de imunidade para quem já teve contato [com o vírus].


Mais da metade dos pacientes internados a UTI do Emílio Ribas têm menos de 60 anos. O desafio é maior?


LCPJ - É natural que isso aconteça num país com uma população mais jovem, como o Brasil. A maioria dos nossos pacientes com Covid e menos de 60 anos são aqueles com comorbidades, como hipertensão, diabetes, obesidade. São principalmente homens que não cuidam da saúde. A mulher se cuida mais.


Isso tudo nos assusta. A gente vê casos evoluindo com muita rapidez. No contexto de uma pandemia de um vírus novo, em que a gente não conhece ainda todos os detalhes da sua evolução, isso traz desafios grandes para as equipes de saúde.


As equipes de saúde estão cansadas, estressadas. Como lidar a saúde mental delas?


LCPJ - Nossa prioridade desde o início do planejamento de enfrentamento da Covid-19 foi cuidar de quem cuida.


Nós temos um ambulatório, e a nossa medicina do trabalho está extremamente pró-ativa em relação a isso, temos uma equipe de saúde mental que está dando essa atenção, mas a demanda é pequena.


Todos os profissionais que estão na linha de frente passam por treinamentos contínuos. As pessoas têm um certo cansaço físico no final dos plantões de tanto paramentar e desparamentar.


Não sei se é porque é uma instituição que traz como missão primeira, historicamente, o enfrentamento de epidemias. Quando você coloca esses profissionais do SUS diante de um desafio como essa pandemia, é nessa hora que vê como o SUS se agiganta.


Uma força de trabalho que não dá as costas, veste suas armaduras e enfrenta. Apesar de medos e de receios, ninguém abandona os seus postos. Todo mundo cumpre o seu papel. Toda a equipe médica, o pessoal da enfermagem, os fisioterapeutas, todos merecem os aplausos.


Merecem aplausos, mas também equipamentos de proteção para trabalhar, melhores salários, certo?


LCPJ - Condições de trabalho a gente tem, número de profissionais também tem, EPIs a gente tem.


As compras foram centralizadas pela Secretaria da Saúde, a gente recebe, duas, três vezes por semana. Estamos conseguindo trabalhar com tranquilidade. As outras questões que você comenta [salariais], acho que podem ser revistas.


O Emílio Ribas começou a ter mais disponibilidade de testes e já consegue ter resultados de Covid-19 em 48 horas. Isso muda a assistência?


LCPJ - Sim, por dois motivos: quando você tem uma enfermaria com dois leitos e você tem um caso suspeito, você não pode colocar outro suspeito do lado. Porque tem que ter dois confirmados. Ou que não são Covid ou que são Covid. Para otimizar o uso dos leitos, é importante ter o diagnóstico.


O segundo aspecto é que, quando você está trabalhando com vários casos confirmados, os cuidados com EPIs são universais, não precisa desparamentar completamente para sair de um quarto e entrar no outro, não tem mais o perigo de passar de um doente para outro.


Enquanto a ocupação das UTIs e a taxa de óbitos na região metropolitana de São Paulo aumentam, a adesão ao isolamento cai. O que falta para as pessoas perceberam a gravidade do momento?


LCPJ - É uma situação difícil, precisamos nos colocar no lugar das pessoas que não conseguem fazer isolamento social, nos aproximar das comunidades e ter o apoio delas.


Há municípios, como Caieiras (Grande SP), com mais de 60% de distanciamento social. Mas quando a gente vê o número de óbitos da região da Brasilândia (zona norte de SP), uma das regiões de menor adesão ao afastamento social, é alto. Existe uma relação direta.


A imprensa, o jornalismo, tem feito um trabalho fundamental para levar essa informação para todo mundo. Essa taxa de 48%, 50%, 52%, está abaixo do ideal, mas, sem essa informação toda em todos os jornais, estaríamos muito pior.


Qual é hoje o principal desafio?


LCPJ - A nossa única estratégia de tratamento para os pacientes com insuficiência respiratória é dar suporte ventilatório para manutenção da vida.


A taxa de ocupação das UTIs está subindo, a gente vem abrindo novos leitos de UTI, mas é uma corrida contra o tempo. Essa taxa de crescimento de serviços a serem oferecidos tem que empatar com o número de casos chegando nas nossas portas.
Nós precisamos equilibrar a demanda por essa estratégia versus os serviços oferecidos.


Por isso é tão importante que essa discussão seja feita de mãos dadas com a população no momento em que se discute flexibilizar o distanciamento social.


Quais lições o sr. já tirou dessa pandemia?


LCPJ - Tenho tirado lições positivas. A gente está conseguindo empurrar essa curva [de casos] para frente e isso está dando fôlego para os serviços de saúde se estruturarem. A população identifica o isolamento social como estratégia correta, a gente tem que insistir nela.


Outra lição é sobre o papel do SUS e como os profissionais de saúde devem ser valorizados mais do que nunca. Quando são demandados, todos estão aí, arregaçando as mangas.


RAIO-X


Luiz Carlos Pereira Júnior, 59, graduado em medicina pela Faculdade de Medicina da fundação do ABC, fez residência em infectologia no Instituto de Infectologia Emílio Ribas, especialização em medicina tropical pela USP e gestão de doenças infecciosas no setor público e privado pela Fundação Getúlio Vargas.

Foi coordenador nacional do Centro de Pesquisas em HIV da Rede Global de Pesquisas INSIGHT (NIH, USA). É diretor técnico do Instituto de Infectologia Emílio Ribas desde 2013.


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