É preciso mais de uma hora para percorrer toda a estrutura do Hospital da Criança de Maringá, no Noroeste do Estado. São 24,2 mil metros quadrados de área construída em um terreno de 88,6 mil metros quadrados. O espaço abriga 13 blocos conectados por um grande corredor central, onde funcionarão 40 leitos de UTI nas alas pediátrica e neonatal, 124 leitos de internação, centro cirúrgico, um hospital-dia, um centro de especialidades, duas recepções, laboratório, centro de imagens e uma ala de ensino e pesquisa.
O projeto, desenhado em 2017, atingiu 80% de conclusão em meados de agosto e a entrega está prevista para outubro deste ano. O investimento é de R$ 124 milhões – parceria do Governo do Estado e do governo federal – e US$ 10 milhões da OMF (Organização Mundial da Família), totalizando cerca de R$ 150 milhões. O convênio é uma conquista da prefeitura de Maringá e da Unapmif (União Nacional de Proteção à Maternidade, à Infância e à Família), representante legal da OMF na América Latina, responsável pelo esboço e pela execução.
Os números da obra ajudam a entender o arrojo arquitetônico: 4.850 tomadas, 634 quilômetros de cabo, 3,6 mil luminárias de LED, 299 vasos sanitários, quatro geradores de energia, auditório com 178 lugares e 5 mil metros cúbicos de concreto instalados sobre parte da antiga pista do aeroporto velho de Maringá. As obras começaram em fevereiro de 2019 e renderam de 150 a 200 empregos diretos, além de milhares indiretos e da movimentação nos setores de comércio e serviços do município.
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"O Hospital da Criança de Maringá é uma conquista do Paraná. Ele vai atender toda a demanda do Noroeste, Norte e Norte Pioneiro, além de ser referência nacional no atendimento especializado. É um projeto de proteção da vida, das famílias, e um dos maiores hospitais do País”, afirma o governador Carlos Massa Ratinho Junior. "Ainda restam R$ 9 milhões de um investimento gigantesco. O Governo do Estado entrou como parceiro nesse projeto e se orgulha dessa conquista”.
O governador destaca que o novo hospital se insere no contexto de regionalização da saúde pública e no aprimoramento da rede de especialidades. "Inauguramos os hospitais regionais de Telêmaco Borba, Guarapuava e Ivaiporã, e a quimioterapia de Guarapuava. O Erastinho está quase finalizado e diversos hospitais públicos e filantrópicos receberam novos leitos de UTI nos últimos meses. Alguns investimentos são parte da estratégia de atuação durante a pandemia, mas, independente da pandemia, esses espaços vão ficar como legado aos municípios”, acrescenta Ratinho Junior. "O salto de qualidade na saúde é a rapidez de atendimento e uma rede cada vez mais integrada”.
A Secretaria de Saúde foi responsável por repassar os recursos estaduais para as obras. O aporte federal foi de R$ 90 milhões, e o complemento é fruto dos esforços da própria pasta. "É um ganho inestimável para a saúde pública paranaense. Serão inúmeras especialidades atendidas em um complexo robusto para atender toda a faixa Norte do Paraná. Com essa estrutura de Maringá o Estado será a principal referência da Região Sul em procedimentos complexos para ajudar as crianças, com o Erastinho e o Pequeno Príncipe”, acrescenta o diretor-geral da secretaria, Nestor Werner Júnior.
ESTRUTURA
A estrutura básica do Hospital da Criança é dividida entre recepção geral (espelhada), hospital-dia e centro de especialidades, que são os primeiros blocos perto da guarita e do estacionamento, e a ala de internação, cirurgia, pesquisa e o prédio administrativo, que são os blocos conectados ao corredor principal como se fossem galhos saindo de um tronco.
Um dos principais diferenciais visuais é a decoração das alas de internação, desenhadas como duplas conectadas a um símbolo turístico do Paraná: João e Maria (Cataratas do Iguaçu), Pedro e Júlia (agricultura), Tonico e Joana (araucárias) e Gabriel e Rosa (Parque de Vila Velha). Ele será pintado na cor bege e adesivos coloridos ajudarão na comunicação visual, tornando o espaço um pouco mais lúdico para o atendimento de crianças.
O hospital-dia terá 12 leitos e espaços para tratamento de hemodiálise, recuperação pós-anestésica, três salas de pequenas cirurgias, quimioterapia, sala de infusão (vacina) e anestesia. O centro de especialidades contará com consultório odontológico e outras 28 salas dedicadas a atendimentos diversos em dermatologia, cardiologia, oftalmologia, fonoaudiologia, psiquiatria, entre outros. O atendimento nesses dois espaços será eletivo, referenciado pela atenção primária ou por urgência médica.
O corredor para a área administrativa, de pesquisa e internação começa depois desse primeiro mini-complexo. Ele tem 235 metros de comprimento. Em um dos lados estão dois blocos horizontais a partir de um novo corredor, o primeiro com farmácia e administração e o segundo com um refeitório, vestiário, lavanderia e almoxarifado. No outro há quatro blocos verticais, quatro conexões nessa vértebra principal: laboratório, centro de imagem, ala de ensino e pesquisa e recepção da internação.
Os três primeiros espaços dessa ala de acesso restrito aos profissionais contêm múltiplas separações e especialidades. O laboratório, por exemplo, terá alas para pesquisa em biologia molecular, hematologia, micologia, virologia, parasitologia, citologia, macroscopia, microscopia, sala de laudos e necropsia. O Centro de Imagens incluirá ressonância, endoscopia, tomografia, raio-x, sala de laudos, fonoaudiologia, recuperação, eletrocardiograma, ecocardiografia, ecografia, eletromiografia, pneumologia, alérgicos, eletroterapia e sinisioterapia.
A ala de ensino e pesquisa vai abrigar biblioteca, duas salas de aula, auditório e sala de simulação realística. O local deve ser ocupado por pesquisadores e acadêmicos das universidades públicas e privadas da região Noroeste. A recepção de internação terá um piano, brinquedoteca e um espaço ecumênico para os familiares que assistirão os pacientes.
No fim do corredor estão dois blocos de internação, as UTIs neonatal e pediátrica e um centro cirúrgico com quatro salas de aproximadamente 42 metros quadrados cada. Os blocos com as camas contam com desenho em U, com os leitos nas laterais e espaços exclusivos para os enfermeiros no centro para acesso rápido a qualquer quarto. Esses leitos têm 18 metros quadrados.
O exoesqueleto do hospital é todo metálico, inclusive as telhas e as grandes estacas de sustentação, e a separação interna é em drywall, o que facilita manutenção, limpeza e eventual readaptação de espaços. Apenas as salas de tomografia e raio-x têm um diferencial das demais: uma lâmina de chumbo dentro do drywall. O gesso utilizado no Hospital da Criança tem grande resistência ao fogo e o poliisocianurato ajuda a manter o equilíbrio térmico, fundamental em uma cidade que registra temperaturas altas no verão. O chão de laje armada tem 15 centímetros de espessura.
O estacionamento oferece capacidade para 645 carros, 66 motos e 64 paraciclos, e o local ainda abrigará, em pequenas estruturas independentes próximas da primeira recepção, uma loja de conveniências, a subestação de energia e a reserva de água. A maioria das peças e dos insumos de estrutura veio do Exterior, mas os equipamentos hospitalares e os móveis foram adquiridos no Brasil.
"São quase 180 leitos no geral para atendimento de todas as especialidades, doenças raras, além de ensino e pesquisa. É um desenho arrojado. É uma conquista para o Paraná, referência no País, assim como o Pequeno Príncipe em Curitiba”, afirma o secretário de Saúde de Maringá, Jair Biato. Segundo ele, a expectativa é de início de algum tipo de atendimento já neste ano e inauguração definitiva de todos os espaços em 2021.
CONCEPÇÃO
Esse gigante é a maior obra da OMF no Brasil e espelho de um projeto feito no Líbano, no Oriente Médio, e em Brasília, no Distrito Federal. O Hospital da Criança de Maringá será a 12ª obra inaugurada da entidade no País, parte de um programa de fortalecimento de sistemas locais de saúde. No mundo já foram erguidas mais de 2 mil estruturas para atendimento especializado. A OMF é representada na América Latina pela Unapmif.
O projeto chegou em Maringá depois da inauguração da unidade da Capital do Brasil, em 2018. Representantes da prefeitura e do Ministério da Saúde solicitaram um projeto similar para atender a faixa Norte do Paraná e, mais ou menos nessa época, foi assinado o primeiro termo de cooperação com o município. Depois disso a ideia virou um desenho arquitetônico e foi chancelada pela OMF. À prefeitura, que havia doado o terreno, restou a captação de R$ 124 milhões.
A médica Deisi Noeli Weber Kusztra, presidente da OMF, explica que a concepção do projeto envolve discussões em nível local e internacional. Ele é elaborado em cima das necessidades de cada região. "Fizemos um grupo de trabalho com a Secretaria Municipal de Saúde para levantamento das ideias e colocamos isso dentro de fórmulas. A partir disso criamos uma proposta arquitetônica e voltamos a conversar. Em seguida o projeto foi aprovado e encaminhado para o escritório da organização nos Estados Unidos”, resume a presidente.
"A segunda etapa foi a fabricação das peças e uma nova compatibilização. Uma fábrica produziu, um grupo trabalhou na montagem, outro na codificação. Nossos projetos são como legos, planejados nos mínimos detalhes. Eles seguem uma lógica de produção e montagem que facilita a construção e a futura manutenção”, acrescenta.
A OMF investiu US$ 10 milhões no projeto, principalmente para custear as despesas internacionais. Outra vantagem do apoio da organização desde a concepção foi a possibilidade de aquisição de equipamentos a preço de custo, menores do que as tabelas comerciais tradicionais.
O hospital será entregue com móveis, camas, computadores, equipamentos e insumos, e a Unapmif também disponibilizará treinamentos de fluxo de trabalho para as equipes que vão assumir o dia a dia dos corredores. A prefeitura municipal deve passar a gestão para alguma organização especializada nesse tipo de atendimento.
O projeto leva em consideração a facilidade de locomoção. Cada bloco tem uma copa, por exemplo, chamada de copa de distribuição, e o sistema de zeladoria também é coordenado por blocos, com horários específicos nas lavanderias para controle de lavagem e reposição das roupas. O projeto prevê pelo menos 3,7 funcionários por leito, ou seja, no mínimo 600 profissionais de saúde e de serviços gerais. Mas as estimativas da prefeitura indicam geração de 1,5 a 2 mil empregos diretos.
"Ele é todo plano e existe uma razão para isso. Trabalhamos com projetos desde 1987 em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e um dos grandes dilemas é o seguinte: implantar não é problema, problema é manter. Construímos uma estrutura que precisa de baixa manutenção. Se ele fosse vertical, em pavimentos, precisaria de elevadores, um sobe e desce, as despesas aumentam”, conta Deisi. "É um prédio todo conectado, mas, ao mesmo tempo, independente. Cada bloco é autônomo em tudo, energia, água, climatização. Se acontecer algum imprevisto a solução é rápida”.
O hospital de Brasília custou R$ 96 milhões e o Ministério da Saúde avaliou a obra e os equipamentos em cerca de R$ 400 milhões. O Hospital e Maringá é maior porque no primeiro não foram erguidos o hospital-dia e o ambulatório, que já existiam.
"O mundo sabe que 85% das doenças são curáveis com intervenções no nível local. A principal premissa é ter uma rede hierarquizada de atendimento especializado perto da casa das pessoas. O Brasil tem sistema excelente com os agentes comunitários e a atenção primária, o que ajuda a identificar muitas doenças e a manter uma periodicidade de exames. Com isso sobra recursos para atuar nos outros 15%. Esse hospital terá atendimento secundário e terciário e vai realizar os procedimentos mais modernos da saúde”, arremata a presidente da OMF.