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Estudo

Famílias que ganham até R$ 1.200 por mês usam 82% dos recursos aplicados no SUS

Laiz Menezes* - Folhapress
06 dez 2024 às 13:45

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- Arquivo/Agência Brasil
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As famílias brasileiras que ganham até R$ 1.200 por mês utilizam cerca de 82% dos recursos aplicados no SUS (Sistema Único de Saúde), segundo estudo divulgado pela Roche Farma Brasil nesta quinta-feira (5).

A pesquisa também revelou o impacto positivo do investimento em saúde na renda dos brasileiros: para cada R$ 1 investido em saúde pública, há um retorno de R$ 1,23 para as famílias e de R$ 1,61 no PIB (Produto Interno Bruto).

Esse retorno, segundo a pesquisa, é gerado por fatores como a redução de despesas com saúde, a recuperação da capacidade produtiva de trabalhadores, a geração de empregos e o fomento a diversos setores da economia.

O estudo, financiado pela Roche e conduzido pela consultoria HTopics, utilizou dados da PNS (Pesquisa Nacional de Saúde) de 2019 e informações mais recentes (2021) do SCN (Sistema de Contas Nacionais) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O SCN é um conjunto de normas e metodologias utilizadas para apresentar informações econômicas padronizadas, permitindo medir a atividade econômica, a produção, a renda e os gastos no Brasil.

Com esses dados, os pesquisadores aplicaram um modelo matemático para calcular o efeito multiplicador do gasto em saúde sobre o PIB e a renda das famílias. O efeito multiplicador é a maneira como um aumento em determinado gasto pode gerar um impacto maior do que o valor inicial, beneficiando vários setores da economia.

Everton Macêdo, doutor em ciências da saúde e coordenador técnico do estudo, explica que o principal objetivo da pesquisa é contribuir para o debate sobre o fortalecimento do financiamento do SUS.

"Nosso estudo mostra que a saúde, embora seja um direito constitucional, muitas vezes é vista como um custo, quando, na verdade, é um setor estratégico com retorno econômico significativo", afirma ele, que também é pesquisador visitante na área de economia da saúde na Université Paris Cité, em Paris.

Em 2010, um estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), vinculado ao governo federal, também utilizou o efeito multiplicador para avaliar a economia brasileira, concluindo que a cada R$ 1 investido em despesas sociais, gerava-se R$ 1,37 em riquezas.

"O modelo matemático utilizado neste estudo calculou o impacto de um aumento de 1% do PIB em gastos com saúde, criando um fluxo de renda que ativa diversos setores da economia, como a indústria da saúde e o mercado de trabalho", acrescenta Macêdo.

Embora o uso de dados de 2021, ano fortemente impactado pela pandemia da Covid-19, possa limitar algumas conclusões, o pesquisador ressalta que os efeitos positivos do investimento em saúde são inegáveis.

"Futuras análises serão realizadas com dados mais recentes. Nosso objetivo é fornecer informações úteis para gestores e políticos, estimulando o debate sobre o financiamento da saúde no Brasil. O próximo passo será uma análise regionalizada para entender como esses efeitos variam em diferentes partes do país."

O ex-ministro da Saúde e oncologista Nelson Teich, mestre em economia da saúde, destaca que o investimento em saúde pública no Brasil ainda é insuficiente e exige maior eficiência na gestão do sistema.
"O país investe 4,5% do PIB em saúde, um valor considerado baixo quando comparado a outros países", afirma.

Segundo Teich, o sistema público brasileiro gastou, em 2022, cerca de R$ 2.000 por pessoa, enquanto o setor suplementar, que inclui planos de saúde privados, gastou aproximadamente R$ 5.000. Em comparação, o Reino Unido, referência mundial em saúde pública, investiu R$ 21 mil por habitante.

Essa disparidade de recursos, para o especialista, obriga o Brasil a fazer escolhas difíceis na alocação de verbas, muitas vezes optando por reduzir investimentos em áreas eficazes devido à limitação orçamentária.

"Uma família pobre, por exemplo, precisa fazer escolhas difíceis sobre o que pode comprar, assim como o sistema de saúde precisa fazer escolhas sobre onde alocar recursos", argumenta.

A partir do estudo da Roche, o ex-ministro afirma que novas perguntas e análises mais específicas são necessárias para direcionar os investimentos de maneira mais eficaz. "Ajudar a entender o que está acontecendo hoje é fundamental para definir as prioridades e investir de forma mais assertiva."

*O projeto Saúde Pública tem apoio da Umane, associação civil que tem como objetivo auxiliar iniciativas voltadas à promoção da saúde.

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