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Exames ajudam a dar diagnóstico mais preciso de Alzheimer e Parkinson, mas não são necessários

17 nov 2023 às 18:40

"Um dia eu estava tomando banho e minha mãe me ligou: 'Filha, eu me perdi, não sei onde estou e qual caminho vou fazer. Eu parei aqui, mas não sei para onde vou agora'", diz a psicopedagoga Thayná Mattos Wittz, 36. A preocupação aumentou quando a mãe, Maria Cecília Mattos, 70, disse que já tinha se encontrado e desligou o telefone.


"Ligava para ela e ela não me atendia mais", diz Thayná, que logo em seguida é rebatida por Maria Cecília, que escutava a história: "Não podia atender, estava dirigindo".


Essa foi a gota d'água para as duas irem procurar ajuda e conferir se o esquecimento poderia ser fruto de alguma forma de demência. "Eu fiz questão de fazer todos os exames. No fundo, no fundo tinha aquela esperança. Vai que", diz Thayná.


"Mas realmente veio alterado [o exame do líquor]. É um processo que gera uma ansiedade na família e no paciente. Poderia ser Alzheimer, qualquer outro tipo de doença ou poderia não ser nada."


Thayná conta que o diagnóstico de sua mãe foi precoce, sem um avanço maior dos sintomas do Alzheimer. O neurologista que as atendeu dizia não ter mais dúvidas do diagnóstico da doença, mas ainda não tinha feito o exame do líquor. Thayná queria o máximo de certeza possível.


"Existe essa segurança que a família constrói a respeito de algo que está ali provado", diz Diogo Haddad, neurologista e coordenador do centro de memória do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. "Talvez faça muita diferença para a família. Imagina você trazendo seu pai. Ele tem algumas alterações de memória. Só que, se eu estou falando de Alzheimer, eu estou falando de uma doença degenerativa progressiva. O quanto você se sente confortável de eu fazer cinco testes e falar que isso é Alzheimer? E que, teoricamente, ele vai começar a piorar progressivamente a partir disso. Você entende o quanto um diagnóstico desse muda a vida não só do paciente, mas da família e de todo mundo ao redor?"


O PET (abreviação em inglês para tomografia por emissão de pósitrons) amilóide é um deles. A ideia aqui é, basicamente, verificar através de um exame de imagem o acúmulo de placas beta-amilóide nas diferentes áreas do cérebro de uma pessoa.


O acúmulo dessa proteína em placas no cérebro é associado ao Alzheimer. Consequentemente, conseguir visualizar se há a formação dessas placas - sem ter que esperar uma análise do cérebro posterior à morte da pessoa - pode ajudar com o diagnóstico da doença que, atualmente, feito principalmente a partir da avaliação do médico e de testes cognitivos.


Menos recente, a busca por biomarcadores relacionados à doença de Alzheimer no líquor de pessoas também se expandiu nos últimos anos. Nessa exame, coleta-se o líquido cefalorraquidiano por uma punção lombar e que também auxilia na realização de diversos outros diagnósticos.


Nesse caso, olha-se para a proteína tau e, novamente, para a beta-amilóide. Em casos de Alzheimer, percebeu-se que a tau sofre uma alteração bioquímica, recebe um fósforo a mais e perde a conformação, explica Ivan Okamoto, neurologista do Hospital Albert Einstein.


Os exames costumam ajudar em casos de diagnóstico precoce. Okamoto afirma que também ajudam quando a demência é rapidamente progressiva, com perda rápida de funcionamento, pacientes que não respondem bem às medicações.


O especialista afirma que as pessoas estão mais atentas a diagnósticos de demência. Se antes esquecimentos eram tratados só como coisas da idade, hoje isso já desperta mais atenção. Filhos de pacientes que tiveram demência também procuram os médicos.


"Quando eu comecei, faz algum tempo já, os pacientes chegavam e não precisava nem de testes, você não tinha dúvida que ele tinha um quadro demencial. Esses pacientes evoluíram, morreram, e os filhos desses pacientes estão voltando preocupados. Eles são mais atentos, estão chegando mais cedo. Então, a gente está fazendo diagnóstico mais precoce", afirma Okamoto.


A detecção precoce permite o rápido início do tratamento medicamentoso, e da preparação da família e do planejamento para o restante da vida do paciente, considerando que se trata de uma doença neurodegenerativa progressiva.


"Eu acho que ela aceita [o diagnóstico] muito mais do que eu", diz Thanya. "Eu fico com aquela questão: quando minha mãe não vai mais me reconhecer?."


Apesar de ajudar, especialistas afirmam que o processo diagnóstico vai bastante além dos exames de imagem ou de líquor.


"Eu faço diagnóstico com testes de lápis e papel. Peço para desenhar um relógio, eu peço uma lista de palavras, eu peço para identificar algumas figuras. E eu sei o quanto esperar de uma pessoa analfabeta ou semianalfabeta, de um executivo, por exemplo, com alto funcionamento cognitivo. Eu não posso comparar, eu tenho que adequar o resultado do teste à faixa de escolaridade e à idade", diz Okamoto.


Em geral, o diagnóstico da doença não vai passar pelos exames citados, ainda restritos no contexto brasileiro - eles podem custar mais de R$ 3.000, caso do PET amilóide.


O mal de Parkinson é outra doença degenerativa que também se beneficia da evolução dos exames, como a ressonância magnética, mas feita em um aparelho de três tesla, e a cintilografia.


Essa ressonância tem um campo magnético mais potente, segundo Egberto Reis Barbosa, coordenador do ambulatório de doença de Parkinson e distúrbios do movimento do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Isso faz com que se veja mais detalhes e com maior precisão a região cerebral sabidamente mais afetada.


A ideia é observar mensencéfalo, uma parte do tronco cerebral onde há duas regiões que são sítios de dopamina, diz André Felício, especialista do Hospital Albert Einstein, que reforça que Parkinson tem uma relação íntima com a diminuição desse neurotransmissor.


Já na cintilografia os médicos analisam a concentração de transportadores de dopamina, o que, consequentemente, consegue indicar a situação desse neurotransmissor.


Assim como no caso do Alzheimer, o exame ajuda em casos precoces e em que há dúvida do diagnóstico.


"Quando é óbvio [o diagnóstico e a doença], é óbvio para todo mundo, mas quando não é, aí vem o problema", diz Felício. Segundo o médico, a literatura científica indica que há erro em cerca de 25% no diagnóstico de Parkinson, considerando neurologistas gerais. "Se for um neurologista especialista em transtorno do movimento, mesmo assim, o erro é de 10%."


Um erro, basicamente, pode significar atraso no tratamento, que, para Parkinson, também é medicamentoso, a partir de reposição de dopamina.


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