Às vésperas da temporada de verão e com o aumento de casos da Covid-19, a Prefeitura de Ilhabela, no litoral norte de São Paulo, começou a montar nesta quinta-feira (10) um hospital de campanha para casos que não sejam de coronavírus, a fim de concentrar os pacientes em tratamento da doença no único hospital local, o Mário Covas Jr, da rede pública.
A cidade chegou a registrar 99 casos em 24 horas na semana seguinte ao segundo turno das eleições, que sofreu uma lotação de turistas, em todo o litoral norte. Até esta quinta, Ilhabela já contabilizava 2.600 casos, com 14 mortes.
O hospital de campanha tem previsão de funcionar em dez dias. Ele está sendo montado no estacionamento do hospital de Ilhabela. Inicialmente terá 20 leitos, podendo chegar a 46 conforme a demanda. Deve atender casos de fraturas, acidentes, afogamentos e feridos em quedas de cachoeiras, por exemplo.
"Desde o início da pandemia, nunca havíamos registrado tantos casos graves como nas últimas semanas. As internações dispararam. E não há nenhuma outra causa para esse aumento que não seja o comportamento humano", diz o médico Luiz Fernando Minamihara, coordenador da clínica médica do Hospital Mário Covas Jr., de Ilhabela.
O aumento de casos vem deixando os hospitais da região lotados. Em Ilhabela, o Hospital Mário Covas Jr. tem 10 pacientes internados com Covid-19, de um total de 15 leitos reservados para receber pacientes contaminados. Quatro destes leitos são de UTI, para casos mais graves, e apenas um estava vago até a tarde desta quinta.
Os que apresentam quadro mais grave são transferidos para o Hospital Regional Mário Covas, localizado em Caraguatatuba, que recebe pacientes das quatro cidades do litoral norte.
Até esta quinta, a enfermaria do hospital em Caraguatatuba já registrava 80% de ocupação, enquanto a UTI já estava com 70% de sua capacidade comprometida, segundo a Secretaria de estado da Saúde.
Dos dez leitos da enfermaria de Caraguatatuba, oito estão ocupados. Na UTI, 17 dos 20 leitos também estão comprometidos. Até esta quinta, a unidade tinha 16 pacientes de Caraguatatuba, 5 de Ubatuba e 4 de Ilhabela.
Os números do hospital de Caraguatatuba são piores que os dos hospitais regionais do Vale do Paraíba, que têm cidades com mais de 300 mil habitantes. O de Taubaté registra 33,3% de ocupação, enquanto o de São José dos Campos tem 25% dos leitos ocupados na enfermaria.
Nesta semana, a prefeitura estabeleceu um plano de ação para conter o fluxo de pessoas, já prevendo um aumento no número de turistas que deverá visitar a cidade durante a alta temporada, de dezembro a fevereiro.
Uma das medidas é o cancelamento da emissão de alvará para eventos em áreas públicas, como festas e shows. A prefeitura quer um controle de entrada de turistas na cidade, seguindo os passos de Búzios (RJ) e Monte Verde, distrito de Camanducaia (MG), mas a medida ainda será discutida.
Apesar dos números alarmantes de casos de Covid-19, Ilhabela vem registrando uma das menores taxas de mortalidade em decorrência da doença no país. Desde o início da pandemia, o arquipélago registrou 14 mortes, ou 0,57% dos casos confirmados.
Segundo a prefeitura, o baixo índice de mortes se deve às ações desencadeadas nos últimos meses, que incluíram a restrição na travessia das balsas e a proibição de entrada de turistas, mesmo por barcos.
"De acordo com projeções do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde, uma média de 5% dos casos confirmados da doença evolui para óbito. Apesar do número alto de casos confirmados, em Ilhabela nosso índice de mortalidade é bem baixo, de 0,57%", diz o secretário de saúde de Ilhabela, Gustavo Barboni.
Ele afirmou que todas as mortes registradas em Ilhabela foram de pacientes idosos, com doenças preexistentes.