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Captura de 45 mil aranhas-marrons ao ano viabiliza 15 mil ampolas de antiveneno no Paraná

18 jul 2023 às 09:53

Na primeira quinzena de julho, a equipe de captura de aranhas-marrons (Loxosceles spp) do CPPI (Centro de Produção e Pesquisa de Imunobiológicos) do Paraná, unidade da Sesa (secretaria de Estado da Saúde), trouxe para os laboratórios 2.459 exemplares, cerca de 20% a mais do que o habitual, que é de 1.875 aranhas em um período de duas semanas. Esse trabalho de campo ocorreu no Norte Pioneiro, nos municípios de Cambará, Andirá e Quatiguá.


Ao longo do ano, são capturadas aproximadamente 45 mil das três espécies de aranha-marrom, em várias regiões do Paraná e de Santa Catarina – uma média de 3.750 animais ao mês, somando as coletas nos dois estados.


As aranhas-marrons são levadas para laboratórios do CPPI, onde é extraído o veneno usado para fabricação do soro para atender quem sofre picadas. A Sesa disponibiliza em todas as Regionais de Saúde a soroterapia antiveneno para ser usada conforme indicação clínica em caso de ocorrer o acidente. Com o veneno de 45 mil aranhas-marrons podem ser produzidas até 15 mil ampolas de antiveneno.


Conforme o farmacêutico Erickson Moura, responsável pela equipe, o processo é rigoroso. O trabalho de captura requer cuidados e experiência dos profissionais, por conta do veneno que cada um desses animais carrega.


“Existe um mapeamento prévio dos locais de coleta, seguido da extração do veneno na área laboratorial e a manutenção das aranhas-marrons. Os profissionais fazem a extração gota a gota do veneno de cada aranha capturada. É muito minucioso”, explica Moura. “O trabalho da equipe é imprescindível, pois, além do esforço em campo, os profissionais têm enfrentado condições adversas nos locais em que atuam”.


De cada aranha-marrom, é extraído o veneno por meio de estímulo de eletrochoque. São coletados cerca de 25 a 50 microlitros de veneno, o que gera produção anual de 1.800 miligramas de veneno bruto liofilizado – processo avançado que permite a retirada da água do produto do estado sólido para a forma gasosa, sem passar pelo estado líquido, permitindo a preservação das proteínas do veneno bruto de aranha-marrom.


Essa quantidade anual de veneno é suficiente para a produção de até 1.200 litros de plasma hiperimune antiloxoscélico (matéria-prima do soro antiloxoscélico). O volume pode gerar até 15.000 ampolas, quantidade suficiente para o tratamento entre 1.800 e 3.600 pessoas vítimas da picada da aranha-marrom. Depois de duas ou três extrações, elas acabam morrendo, por isso, há necessidade de capturas em campo de forma contínua. 


Se picada, a pessoa deve procurar imediatamente uma unidade de saúde. Sempre que possível, o paciente deve levar a aranha causadora do acidente. As picadas podem levar a estados classificados como leve, moderado e grave. Os casos graves se apresentam como lesões de pele bem características, com feridas maiores que podem causar isquemia de vasos sanguíneos e necrose no local, de quatro a cinco dias após a picada.


Segundo dados da Sesa, do Sinan (Sistema de Informação de Agravos de Notificação), o Paraná registrou no ano passado 2.973 acidentes com aranha-marrom. Do início deste ano até ao dia 13 de julho ocorreram 1.646 acidentes.       


Um Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde apontou que entre os anos de 2017 e 2021, dos 1.298.429 acidentes por animais peçonhentos notificados, 168.420 (12,97%) foram causados por aranhas, sendo o terceiro tipo de animal peçonhento com o maior número de notificações. Neste período, o ano em que foram notificados mais acidentes foi 2019 (38.961).


O informativo ainda registra que a Região Sul foi a responsável pelo maior número de notificações de acidentes por aranhas (53,54% do total), sendo o Paraná da região que mais registrou acidentes (45.024), 26,73% do total. Na sequência estão Santa Catarina (26.342), São Paulo (26.264), Minas Gerais (22.832) e Rio Grande do Sul (18.811). 


Entre os municípios com mais registros de acidentes no Estado, Curitiba aparece como a líder em casos desde 2017, com mais de 6 mil notificações, seguida de Ponta Grossa, Pato Branco e Guarapuava.


Fundada em 1987, a unidade de pesquisa e desenvolvimento de produtos de interesse para a saúde pública do país produz soros antivenenos, insumos e antígenos para auxílio diagnóstico. Em 2022 foram investidos R$ 2 milhões na revitalização de pavilhões e a conclusão de quatro obras inacabadas dos laboratórios.


O CPPI é referência nacional do soro antiloxoscélico, contra a picada de aranha-marrom, e do antígeno de Montenegro, utilizado para auxílio diagnóstico da leishmaniose tegumentar americana. Atualmente o centro é gerenciado pela Funeas (Fundação Estatal de Atenção à Saúde).


A Sesa disponibiliza um número de telefone do Centro de Informações a Assistência Toxicológicas do Paraná: 08000-410148 - CIATox para dúvidas em caso acidentes por animais peçonhentos e intoxicações.


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