De prontuários digitalizados ao uso de inteligência artificial, os sistemas eletrônicos foram utilizados por 92% dos estabelecimentos de saúde no Brasil no último ano, segundo o levantamento de tecnologias da informação e comunicação TIC Saúde, divulgado nesta sexta-feira (11).
O estudo do CGI.br (Comitê Gestor da Internet no Brasil), órgão vinculado à Unesco, mostra, no entanto, que apenas 23% dos profissionais da área estão capacitados para lidar com os serviços modernizados.
Se comparado ao mesmo levantamento do ano anterior, o número de estabelecimentos com algum tipo de sistema eletrônico este ano é 5% maior e, em UBSs (Unidades Básicas de Saúde), o crescimento foi ainda mais expressivo, saltando de 89% para 97% nos últimos dois anos.
De acordo com o estudo, cerca de 97% das UBSs mantêm histórico digital com dados cadastrais dos pacientes, 95% têm informações como caderneta de vacinação digitalizadas e 76% possuem dados de atendimento e alta disponibilizados digitalmente.
Para o estudo, o CGI.br entrevistou 2.021 profissionais da saúde de todo o Brasil, com idades a partir de 30 anos, e 2.057 gestores de estabelecimentos da área entre fevereiro e agosto deste ano.
Dentre os equipamentos digitais, os principais utilizados são os computadores -disponíveis em 97% dos estabelecimentos de saúde públicos e privados. Logo atrás estão itens como notebooks (68%) e tablets (39%). Nas UBSs, o uso de tablets saltou de 44% no último ano para 53%.
No entanto, a simples variedade de dispositivos eletrônicos não pode ser o único parâmetro para analisar o que é tecnologia em saúde, segundo a docente de administração e saúde da FGV (Fundação Getúlio Vargas), Ana Maria Malik. "O fato de haver dispositivos eletrônicos não necessariamente quer dizer que esse estabelecimento está informatizado", afirma.
Para Malik, a baixa capacitação tecnológica dos profissionais da área pode ser justificada pelo receio que esses profissionais têm quanto ao processo de informatização de determinados serviços de saúde.
"Estes tipos de tecnologias existem há, pelo menos, 10 anos e, para usar adequadamente é necessária uma formação, mas profissionais de gerações mais velhas costumam resistir mais se comparado aos mais novos", relata.
A pesquisa mostrou que dos médicos e enfermeiros que realizaram algum tipo de capacitação e formação em área de informática e tecnologia em saúde nos últimos 12 meses anteriores às entrevistas. Os principais assuntos estudados foram segurança do paciente, ética, segurança e privacidade, análise de dados e informação, qualidade dos dados e cuidados centrados na pessoa.
O uso de ferramentas de inteligência artificial (IA) também ganhou destaque entre os profissionais da saúde. De acordo com o levantamento, nos últimos 12 meses, 17% dos médicos aderiram ao uso da IA, enquanto 16% dos enfermeiros também dizem fazer uso do serviço para auxiliar em pesquisas e em relatórios inseridos nos prontuários.
Já para os estabelecimentos em si, esse uso tende a ser menor: apenas 4% relatam fazer uso de ferramentas como ChatGPT na rotina de serviço. As unidades de saúde que não fazem uso de inteligência artificial, em sua maioria, alegam que o serviço não é uma prioridade e os custos são muito altos.
Pesquisador e responsável pelo setor de dados do Hospital Sírio Libanês, Antonildes Assunção afirma que o uso de IA enfrenta uma resistência para ser incorporado na prática clínica dos hospitais. "Existe uma falta de familiaridade com esses algoritmos mais complexos e desafios éticos regulatórios que precisam ser superados", afirma.
Uma das maneiras de driblar essas barreiras é com a inserção de módulos destinados à tecnologia nos próprios cursos de formação dos profissionais da saúde, segundo Assunção.
Para serviços de telemedicina, 30% dos estabelecimentos brasileiros, tanto públicos quanto privados, oferecem teleconsultoria -consulta entre profissionais sobre procedimentos e ações de saúde- enquanto 23% oferecem atendimento clínico online para os pacientes e telediagnóstico.
Um terço dos locais estudados oferece serviços online como agendamento de consultas e exames, e visualização de resultados.
Para Malik, no caso de armazenamento de dados de clientes e pacientes em plataformas digitais, é necessário que haja uma fiscalização para evitar fraudes e vazamento de informações pessoais. "São ferramentas que facilitam o dia a dia mas depende de quem vai alimentar o sistema e de que maneira vai fazer isso", completa.
De acordo com o relatório, houve uma alta no uso de ferramentas de segurança da informação por parte dos estabelecimentos de saúde, mas a principal utilizada é o uso de antivírus (88%), seguido por proteção por senha do acesso ao sistema eletrônico (83%) e firewall (60%).
Em 47% dos estabelecimentos, os funcionários receberam algum tipo de treinamento em segurança da informação. No entanto, ainda se verifica uma disparidade entre os públicos (34%) e os privados (59%) que oferecem esse tipo de capacitação.
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