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Grupos repudiam consulta pública sobre tratamento com eletrochoque em autistas

Folhapress
17 dez 2021 às 11:45
- Marcello Casal Jr./Agência Brasil
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Mais de 50 entidades e grupos atuantes nas áreas da psiquiatria, psicologia e direitos humanos publicaram nesta sexta-feira (17) nota de protesto contra consulta pública realizada pela Conitec/SUS (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde) sobre o tratamento com eletrochoques em pacientes do espectro autista.


O órgão, vinculado ao Ministério da Saúde, abriu a sondagem neste mês e indicou sua recomendação favorável ao procedimento. Procurada pelo UOL, a pasta não havia se manifestado sobre a nota de protesto até a última atualização desta reportagem.

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A Conitec, defende o uso de eletroconvulsoterapia (ETC) para tratar comportamentos agressivos de pacientes do espectro autista (TEA) no Brasil. O método usa uma corrente elétrica a fim de produzir uma convulsão generalizada a fim de controlar o comportamento do paciente.

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Mas, segundo as entidades signatárias da nota de repúdio, o método, além de arcaico, o uso desse tipo de procedimento viola a convenção dos direitos humanos e é considerado como tortura pela própria ONU (Organização das Nações Unidas).

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"As referências bibliográficas apresentadas no protocolo do Ministério da Saúde apontam para as situações de catatonia (caso em que psiquiatria argumenta que há evidências científicas para o seu uso) e estudos de valor científico precário. Das 17 citações para fundamentar o procedimento, nenhuma delas se dirige à questão central do documento que é o comportamento agressivo", afirmam as entidades.


Embora apontada como recurso para tratamento de pacientes com depressão grave, a eletroconvulsoterapia no passado foi associada a torturas em pacientes e abusos cometidos por profissionais de hospitais psiquiátricos.

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Em 2013, um relatório da ONU apontou que o uso do tratamento com choque para controlar o comportamento de pacientes violava a convenção da ONU contra a tortura.


Em 2020, a FDA, órgão equivalente à Anvisa nos Estados Unidos, proibiu a prática em pessoas que possam ser agressivas ou que ofereçam perigo de se machucar. A FDA justificou que o método expõe os pacientes a "risco irracional e substancial de doença ou lesão".

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O que inspirou a consulta


Baseado num relatório intitulado "Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas do comportamento agressivo no transtorno do espectro do Autismo", o relatório da Conitec, publicado em novembro, afirma que os resultados do procedimento "têm sido promissores".

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Na avaliação da comissão, a avaliação é fruto de "cobertura midiática" e "indicação" inadequadas ocorridas anteriormente.


"O uso da ECT da psiquiatria e neurologia declinou de maneira significativa na década de 1970 e se deu por diversos motivos: o avanço das terapias farmacológicas, uma cobertura midiática inadequada durante a luta antimanicomial e relatos de pacientes que foram submetidos a essa técnica sem indicação adequada ou até de maneira punitiva, todos esses fatores estigmatizaram o uso da ECT", diz o texto do órgão do governo.

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De acordo com o texto, as técnicas atuais permitiriam que o método fosse aplicado de forma segura.

"Atualmente, a técnica empregada utiliza aparelhos mais modernos, permitindo uma regulação mais adequada da carga, a possibilidade de controlar o comprimento de onda utilizada e a frequência do disparo da corrente elétrica. Além disso, para conforto e segurança do paciente, são empregados anestésicos, bloqueadores musculares e fármacos que evitam os efeitos vagais do procedimento".

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Segundo as entidades contrárias, a versão do documento submetido à consulta pública faz uso de uma definição vaga e contestável do que são comportamentos agressivos. "Há estreita relação desses comportamentos com o meio, com as barreiras e com a falta de acesso a apoio e a outros direitos fundamentais, o que é frequentemente ignorado", dizem os signatários.


"Por essa razão, urge a necessidade de uma mudança de paradigma no que se refere ao acesso à saúde e à habilitação e à reabilitação: o capacitismo e a falta de acessibilidade não podem ser combatidos com intervenções médicas", dizem as entidades contrárias à consulta pública.


O que dizem os especialistas


Ao Estadão, o pediatra e neurologista infantil Clay Brites, do Instituto NeuroSaber, afirma que pessoas autistas precisam de atendimento de qualidade no sistema público e que a eletroconvulsoterapia é um "retrocesso".


"Trata-se de uma política de saúde equivocada porque o autismo não pode ser encarado como um processo no qual essa terapia vai resolver todos os problemas. A liberação em centros específicos ou generalizados do SUS é temerária. Antes dessa preocupação, o SUS deveria buscar o atendimento correto, multidisciplinar, aplicado de maneira ampla, com as famílias, e melhorando o acesso aos pacientes que mais precisam", diz Brites.


Para Rosana Onocko, da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva), o estímulo à compra desse tipo de aparelho preocupa não pela eficácia ou não em alguns casos, mas devido ao risco de uso sem controle.


"Uma vez que o SUS já dispõe disso [em alguns hospitais, mas sem financiamento federal], isso levanta a suspeita sobre a quem interessa essas compras", afirmou Rosa à Folha.


Na avaliação do psiquiatra Leon Garcia, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, a medida deveria ser precedida de estudos.


"Com o histórico da eletroconvulsoterapia no Brasil, qualquer passo na direção do financiamento deveria ser precedido de forte regulação e estrutura de fiscalização, porque o histórico é muito negativo", diz, relembrando os casos de mau uso desse tipo de terapia no passado. "Começar já com o financiamento de aparelhos me parece a pior maneira."


Quem assina a nota de protesto contra a Conitec:


Associação Brasileira para Ação por Direitos das Pessoas Autistas - Abraça

Associação Brasileira de Saúde Mental - Abrasme

Movimento Vidas Negras com Deficiência Importa - VDNI

Conselho Federal de Psicologia - CFP

Movimento Psiquiatria, Democracia e Cuidado em Liberdade

Núcleo de Pesquisa em Políticas Públicas de Saúde Mental - NUPPSAM

Instituto Lagarta

Laboratório Interunidades de Teoria Social, Filosofia e Psicanálise - LATESFIP USP

Despatologiza

Instituto Viva Infância

Movimento Down

Eu Me Protejo

Inclusive - Inclusão e Cidadania

Frente Nacional das Mulheres com Deficiência

Mandato do Senador Paulo Paim (PT/RS)

Mandato da Vereadora Laura Durigon Ajala(PCdoB/Cruz Alta-RS)

ONG Construindo Igualdade/RS

IDAI- Instituto Direito, Acessibilidade e Inclusão

Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down

AUSSMPE- Associação dos Usuários dos Serviços de Saúde Mental de Pelotas RS

RadioCom 104.5 FM - Pelotas-RS

Associação Arte e Cultura Nau da Liberdade RS

AMAR - Associação Amigos dos Autistas de Registro

Programa Gente Como a gente - Pelotas-RS

Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil-CTB RS

Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil-CTB - Nacional

Urbe - Instituto de Psicologia Social e Psicanálise

Adunisinos - Associação dos Docentes da Universidade do Vale do Rio dos Sinos

COMITÊ DEFICIÊNCIA E ACESSIBILIDADE DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ANTROPOLOGIA

Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial - RENILA

Associação dos Usuários dos Serviços de Saúde Mental de MG -ASUSSAM/MG

Associação de Usuários e Familiares de Usuários dos Serviços de Saúde Mental de Alagoas - ASSUMA/AL

Associação de Usuários, Familiares e Amigos da Luta Antimanicomial de Palmeira dos Índios/AL - ASSUMPI/AL

Associação Loucos Por Você - Ipatinga/MG

Coletivo Baiano da Luta Antimanicomial - CBLA/BA

Fórum Cearense da Luta Antimanicomial/CE

Fórum de Saúde Mental de Maceió/AL

Fórum Gaúcho de Saúde Mental - FGSM/RS

Fórum da Luta Antimanicomial de Sorocaba - FLAMAS/SP

Fórum Mineiro de Saúde Mental/MG

Frente Mineira Drogas e Direitos Humanos/MG

Movimento da Luta Antimanicomial/PA

Movimento Pró-Saúde Mental/DF

Núcleo de Estudos Pela Superação dos Manicômios - NESM/BA

Núcleo de Mobilização Antimanicomial do Sertão - NUMANS/PE-BA

Núcleo Estadual da Luta Antimanicomial Libertando Subjetividades/PE

SinPsi-SP Sindicato dos Psicólogos no Estado de São Paulo

FENAPSI Federação Nacional dos Psicólogos

Sindifars

Coletivo Hawking de Alunos com Deficiência do Paraná

Revibra - Rede europeia de apoio às vítimas brasileiras de violência doméstica

Associação Construção

Programa de Residência Multiprofissional do IPUB-UFRJ

Nuplic (Programa de pós graduação em psicologia social PUC SP)

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