O apagão de dados oficiais sobre a Covid-19 completa um mês nesta segunda (10), e o Brasil segue sem saber o tamanho real da nova onda de contaminações provocada pela variante ômicron.
Em 10 de dezembro, o Ministério da Saúde sofreu ataque cibernético que deixou fora do ar os sistemas de informações de notificação de casos, internações e mortes, além dos dados de vacinação.
A escuridão nas estatísticas ocorre em um momento crítico, em que os casos de Covid se espalham pelo país, com as emergências e unidades de saúde lotadas e muitos profissionais da saúde afastados devido à infecção.
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O ataque cibernético atingiu o principal sistema do Ministério da Saúde, a RDNS (Rede Nacional de Dados em Saúde), que reúne todas as informações registradas por servidores do SUS.
Embora o ministério afirme que as informações não foram perdidas e que os sistemas já foram restabelecidos, estados, municípios e especialistas relatam instabilidade nas plataformas. Há atraso na entrada de novas notificações de casos, internações e mortes. São os municípios que abastecem as plataformas do Ministério da Saúde com esses dados.
Ou seja, o apagão atingiu não só o que estava armazenado na "plataforma-mãe" como também a origem dos dados, fazendo com que muitas informações fiquem represadas nas unidades de saúde.
E muitos estados também recorrem ao sistema do ministério para acompanhar a evolução diária da pandemia em seus municípios. Apenas alguns estados, como São Paulo, têm sistemas que permitem que os municípios abasteçam o ministério e a Secretaria Estadual de Saúde de forma simultânea.
Mesmo na ausência de um retrato nacional mais fidedigno da situação, dados isolados de alguns estados e municípios e de hospitais e laboratórios privados apontam alta na taxa de positividade para a Covid e de atendimento de pessoas com sintomas. Mas há muita subnotificação de casos por ausência de testagem em massa nos serviços públicos.
O acompanhamento do cenário epidemiológico da pandemia é essencial para que os gestores de saúde planejem as estratégias de controle e a alocação de recursos para o enfrentamento da doença.
Com o apagão, uma das ferramentas de ajuda dos gestores públicos, o sistema Infogripe, que monitora dados de Srag (síndrome respiratória aguda grave) em todo o país, foi interrompida.
A última vez que a equipe recebeu o repasse de dados do ministério foi no início de dezembro. Sem essas informações brutas de casos individuais de Srag, não há como repassar dados compilados às secretarias municipais e estaduais da saúde e ao Ministério da Saúde.
O apagão de dados tem gerado acalorados debates na Câmara. Deputados como Luiz Antonio Teixeira Jr. (PP-RJ), que preside a comissão da Covid, defende que o ministério já deveria ter criado uma plataforma paralela. Outros levantam suspeitas se o apagão é fruto de incompetência ou de um ato proposital.
O PT já disse que quer abrir uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) na Câmara dos Deputados para investigar essa instabilidade de sistemas do Ministério da Saúde. A coleta de assinaturas será liderada pela presidente do partido, Gleisi Hoffmann, e pelos deputados Reginaldo Lopes (MG) e Alexandre Padilha (SP).
Na sexta (7), o Ministério da Saúde informou que já foram restabelecidas as integrações dos sistemas de imunização com a RNDS, possibilitando assim o retorno do envio dos dados à referida rede, pelos estados, municípios e Distrito Federal. E que o Departamento de Informática do SUS segue atuando para restabelecer as demais plataformas e integradores de forma gradativa, com previsão de normalização nesta semana.